Ética a partir do aquecimento global

Em alguns lugares da Terra se rompeu, há dias, a barreira dos 400 ppm de CO2, o que pode acarretar desastres sócio-ambientais de grande magnitude. Se nada de consistente e coletivamente  fizermos, podemos conhecer dias tenebrosos. Não é que não podemos fazer mais nada. Se não podemos frear a roda, podemos no entanto diminuir-lhe a velocidade. Podemos e devemos nos adaptar às mudanças e nos organizar para minorar os efeitos prejudiciais. Agora se trata de viver radicalmente os quatro erres: reduzir, reutilizar, reciclar e rearborizar.

Precisamos de uma orientação ética que nos ajude alinhar nossas práticas para a superação da crise atual. Nesse quadro dramático, como fundar um discurso ético minimamente consistente que valha para todos?

Até agora as éticas e as morais se baseavam nas culturas regionais. Hoje na fase planetária da espécie humana precisamos refundar a ética a partir de algo que seja comum a todos e que todos a possam entender e realizar.É o que propunha Paulo Freire com sua Etica Universal do Ser humano que nós acrescentaríamos do ser humano e da Mãe Terra.

Olhando para trás, identificamos duas fontes que   orientaram e ainda orientam ética e moralmente as sociedades até os dias de hoje: as religiões e a razão.

As religiões continuam sendo os nichos de valor privilegiados para a maioria da humanidade. Elas nascem de um encontro com o Supremo Valor, com a Última Realidade. Desta experiência nascem os valores de veneração, respeito, amor, solidariedade, compaixão e perdão, fundamentais para a preservação da vida.  Muitos pensadores reconhecem que a religião mais que a economia e a política é a força central que mobiliza as pessoas e as leva até a entregar a própria vida (Huntington). Outros chegam até a propor as religiões como a base mais realista e eficaz para se construir “uma ética global para a política e a economia mundias”(Küng). Para isso as religiões devem dialogar entre si. No diálogo acentuar mais os pontos em comum do que os pontos de diferenciação. Com isso pode se inaugurar a paz entre as religiões. Esta paz não se basta a si mesma mas deve animar a paz entre todos os povos e a paz com a natueza e uma paz perene com a Mãe Terra.

A razão crítica, desde que irrompeu, quase simultaneamente em todas as culturas mundiais, no século 6ª a. C. no assim chamado tempo do eixo(Jaspers), tentou estatuir códigos éticos universalmente válidos, baseados fundamentalmente nas virtudes, cuja centralidade ocupava a justiça. Mas afirma também a liberdade, a verdade, o amor e o respeito ao outro.

A fundamentação racional da ética e da moral – ética autônoma – representou um esforço admirável do pensamento humano, desde os mestres gregos Sócrates, Platão, Aristóteles, passando por Immanuel Kant até os modernos  Jürgen Habermas, Enrique Dussel e entre nós Henrique de Lima Vaz e Manfredo Oliveira entre outros de nossa cultura.

Entretanto o nível de convencimento desta ética racional foi parco e restrito aos ambientes ilustrados. Por isso com limitada incidência no cotidiano das populações. Mesmo assim está se impondo a justiça ecológica: tratar de forma adequada os processos naturais para que possam ser sustentáveis, vale dizer, se manter, se reproduzir e melhorar.

Esses dois paradigmas não ficam invalidados pela crise atual, mas precisam ser enriquecidos se quisermos estar à altura das desafios que nos vêm da realidade hoje profundamente modificada.

Faça-se urgente uma ética do cuidado e da responsabilidade solidária. Para instaurar este tipo de ética precisamos descer descer àquela instância na qual se formam continuamente os valores, conteúdo principal da ética. A ética, para ganhar um mínimo de consenso, deve brotar da base comum e  última da existência humana. Esta base não reside na razão, como sempre pretendeu o Ocidente. A razão – e isso é reconhecido pela própria filosofia – não é nem primeiro nem o último momento da existência. Por isso não explica tudo nem abarca tudo. Ela se abre para baixo de onde emerge, de algo mais elementar e ancestral: a afetividade e o sentimento profundo. Irrompe para cima, para o espírito, que é o momento em que a consciência se sente parte de um todo e que culmina na contemplação e na espiritualidade. Portanto, a experiência de base não é “penso, logo existo”, mas “sinto, logo existo”. Na raiz de tudo não está a razão (“logos”), mas a paixão (“pathos”) que se expressa pela sensibilidade e pelo afeto.

Daí o esforço atual de resgatar a razão sensível e cordial (Meffesoli,Cortina,Duarte, Muniz Sodré). Por este tipo de razão captamos o caráter precioso dos seres, aquilo que os torna dignos de serem apetecíveis. É a partir do coração e não tanto da cabeça que vivenciamos os valores. E é por valores que nos movemos e somos. Em último termo, está o amor que é a força maior do universo e o nome próprio de Deus. Essa ética nos pode engajar em práticas para enfrentar o aquecimento global. O cuidado é uma expressão do amor, amor que protege, confere descanso, cura feridas passadas e evita futuras.

Mas temos que ser realistas: a paixão é habitada por um “demônio” que pode ser destruidor. É um caudal fantástico de energia que, como águas de um rio, precisa de margens, de limites e da justa medida. Caso contrário irrompe avassaladora. É aqui que entra a função insubstituível da razão. É próprio da razão ver claro e ordenar, disciplinar e definir a direção da paixão.

Eis que surge uma dialética dramática entre paixão e razão. Se a razão reprimir a paixão, triunfa a rigidez e a tirania da ordem. Se a paixão dispensar a razão, vigora o delírio das pulsões do puro defrute das coisas. Mas, se vigorar a justa medida e a paixão se servir da razão para um auto-desenvolvimento regrado, então pode surgir uma consciência ética que nos torna responsáveis face ao caos ecológico e ao aquecimento global.

Por ai há caminho a ser percorrido. Para um novo tempo, uma nova ética. E esta nova ética de cunho universal e salvador é o cuidado essencial para com tudo o que existe e vive que está atualmente ameaçado pela voracidade ilimitada humana. Como o cuidado é da essência humana e por isso se encontra em cada pessoa e em todo o ser vivo, ele pode ser acordado e ser transformado num atitude consciente e permanente. Desta forma nos fará ativos face ao aquecimento global, impedindo que ameace nossa existência nesta planeta, tão pequeno, tão belo e tão radiate de vida em todas as suas formas.

Ver meu livro Proteger a Terra- cuidar da vida: como evitar o fim do mundo, Record, Rio de Janeiro 2010.

41 comentários sobre “Ética a partir do aquecimento global

  1. Leio todos os dias que a solução para os problemas dos países está no crescimento econômico, desde os Estados Unidos que se considera o tutor da humanidade ao mais pobre e simples. Mas crescimento significa maior consumo e, por mais ético que seja esse aumento de consumo, mais próximos estaremos da beira do abismo. Não sei que público lê suas postagens, mas sei que elas apenas se deliciam com suas palavras, lhe elogiam e esperam por uma postagem seguinte para voltar a lhe elogiar. De prático, nada acontece. Me parece que o Sr. precisa de um público que tenha mais poderes de ação para que as coisas possam acontecer.

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    • Manoel,
      Entendo o dever de todo o intelectual que se dá conta da crise atual que pode ser terminal é de falar, suscitar a consciência do risco que corremos e mostrar as alternativas possíveis.Esse é um imperativo ético. E não quero ser infiel a ele.Por isso continuo escrevendo e clamando, mesmo no deserto, pois pode sempre despertar alguem que estava adormecido e signfica semear sementes. Dizem as escrituras cristãs: qui seminat in lacrimis in laetia colitur: quem semeia em lágrimas vai colher em alegria, palavra à qual Vieira dedicou um de seus mais belos sermões. Nisso me estribo

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  2. Observo as práticas humanas em vários lugares do planeta devido à globalização tecnológica … e no meu dia a dia. Compartilho do princípio de que o “cuidado essencial para com tudo o que existe e vive que está atualmente ameaçado pela voracidade ilimitada humana”. O caminho para uma nova ética significa mudar atitudes destrutivas do planeta e
    das relações humanas … entretanto penso que poucos entendem essa necessidade e muitos sequer deram o primeiro passo, qual seja: transformar a si mesmo e suas atitudes, considerando-se numa relação mútua de respeito ao outro e ao ambiente. A maior parte dos conflitos humanos é a paixão pelo poder, pelo status de sentir-se superior ou melhor por ter mais posses, o melhor carro e casa … nem que para isso outra parte viva a miséria da não satisfação das necessidades básicas de sobrevivência … e submetem a natureza planetária às suas paixões materiais sem se importar sequer com os grupos humanos que construíram uma relação distinta com a vida e com a paixão humana, uma relação mais saudável, sendo que a qualidade da natureza significa sua própria existência, pois falo dos grupos indígenas, por exemplo – que não escolheram esse modelo social destrutivo da natureza mas que precisa de água limpa, de caça, da floresta.

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  3. El paradigma del nuevo tiempo en América Latina, es el desafío de LA FRATERNIDAD entre las personas y el Medio Ambiente. La solidaridad es cuantificable, por lo que ello sigue perpetuando las desigualdades, pues se es solidario con lo que se tiene demás o sobra. Sin embargo, la FRATERNIDAD es un cambio cultural y más cristiano, pues mira a todos como frases = hermanos, esencialmente iguales, libres y dignos.
    Ese cambio cultural, comienza entre las personas y debe extenderse a la naturaleza, como condición de permanencia. Y todo ello es un imperativo ético, pero no sobre la base de la solidaridad, sino sobre la realidad de la FRATERNIDAD. Obrigado.

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  4. Mestre Boff, embora pareça uma contrariedade, mas sempre concordo discordando de alguns dos seus pensamentos. Penso que primeiro podemos demonstrar que o responsável por tudo isso que está ocorrendo no planeta não é coisa de demônios ou de deuses. Mas, que é fruto do modelo de desenvolvimento econômico e dos avanços tecnológicos adotados pelos diversos países no mundo. Esse modelo torna uns muito ricos e outros muito pobres e ambos têm que agredir a natureza das mais diversas formas para garantir a sobrevivência. Uns agridem por excesso e outros por falta. Em função desse desenvolvimento ao se tentar implantar “os quatro erres: reduzir, reutilizar, reciclar e rearborizar”, três deles vão de encontro ao atual modelo de desenvolvimento econômico, sustentado unicamente pelo consumo. Pois, se reduzir, reciclar e reutilizar isso reduz o consumo. Reduzindo o consumo, desemprega. Desempregando, reduz o consumo. Caímos numa circularidade e entramos em crise. Isso me faz lembrar os versos de Raul Seixas que diz “a civilização se tornou complicada, que ficou tão frágil como um computador, que se uma criança descobrir o calcanhar de Aquiles, com um só palito para o motor”. Então, só vejo uma saída, apoiando-se nas tecnologias, desmitificar esse modelo. Segundo, penso que há grande dificuldade em fazer as ideologias teísta entrarem em acordos. Pois, ao se colocar rito no mito aparece a ideologia. Embora o mito seja o mesmo, em função dos ritos ocorrem divergências ideológicas e cada uma se arroga o direito de falar em nome do mito e afirmar o exclusivismo no anúncio das verdades. Concordo que é da existência que aparece a essência e que necessitamos “urgente uma ética do cuidado e da responsabilidade solidária”. Porém, cuidando para não cair num moralismo caritativo, eufemisticamente, batizada de direitos humanos, humanismo, solidariedade, etc. Pois, penso que a minha geração errou em acreditar que só pela política, pela revolução, resolver-se-ia tudo e vejo que a geração de hoje continua errando por acreditar que só com esse moralismo caritativo resolverá todos os problemas. Penso que necessitamos de uma moral que não se reduza à política, mas também necessitamos de uma política que não se reduza a esse moralismo caritativo. Por isso devemos sempre buscar um equilíbrio entre o “demônio das paixões” e a “deusa razão”. Mas, em caso de dúvida, como afirmou Agostinho de Hipona, “Philosophia ancilla theologiae” também “‘o demônio das paixões’ servo da ‘deusa da razão’”.

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  5. Veiculo:
    REVISTA VEJA – EDIÇÃO 2320
    Secao:
    AMBIENTE
    Data:
    2013-05-04
    Localidade:
    SÃO PAULO
    Hora:
    22:35:57
    Tema:
    AQUECIMENTO GLOBAL
    Autor: FILIPE VILICIC E VICTOR CAPUTO

    O APOCALIPSE TERÁ DE ESPERAR
    A verdade inconveniente: as mudanças climáticas estão ocorrendo em ritmo mais lento que o previsto pelos propagandistas dos desastres do aquecimento global

    Sempre se brincou que a Climatologia é a ciência do achismo, pois não consegue prever com segurança se vai ou não chover no fim de semana. Agora, ela corre o risco de perder o direito de ser chamada de ciência. Na última década, o rigor científico esperado nos estudos climáticos viu- se suplantado por um debate que beira a irracionalidade. Cientistas e Ambientalistas se deixaram levar por um tipo de fervor dogmático sobre a necessidade de medidas drásticas para frear a emissão de dióxido de carbono (C02) decorrente da atividade humana. Na opinião deles, ou se faz isso, ou o Aquecimento Global causará desastre ambiental de proporções apocalípticas. A complicação é que não se encontrou o meio que permita conter a emissão de gases do efeito estufa sem reduzir a produtividade da economia e o bem-estar das populações. Na semana passada, discutindo com base no prognóstico de um aumento de 2 graus na temperatura média global neste século, os 27 países da União Européia (UE) confirmaram planos de gastar 20% de seu orçamento anual (hoje daria 24 bilhões de euros) em medidas contra a emissão de C02. O dinheiro poderia ter melhor destino, pois a visão cataclísmica que a UE se dispõe a enfrentar é, em grande parte, o resultado de estudos manipulados para sustentar a tese de seus autores.
    As falhas desses estudos foram claramente expostas por um extenso levantamento publicado pela Universidade de Reading, na Inglaterra. Depois de examinar prognósticos feitos desde 1960, o Climatologista Ed Hawkins concluiu que a maioria deles errou vergonhosamente. A principal falha foi a previsão de uma elevação crescente e rápida da temperatura média do planeta. Ocorreu o contrário. A temperatura aumentou abaixo do esperado pelos cenários elaborados pelos Climatologistas para as últimas décadas e se mantém estável desde 2008 (veja o gráfico na pág. 95). Como a quantidade de carbono jogada pelo homem na atmosfera duplicou em vinte anos, a verdade inconveniente é que é possível que o C02 nem sequer seja o vilão. O aumento da descrença no alarmismo do Aquecimento Global, por sinal, já fez desabar o mercado de carbono, mecanismo que permite a compra e a venda do direito de emitir C02. O valor negociado caiu de 126 bilhões de dólares, em 2011, para 81 bilhões, no ano passado.
    A ala pessimista da Climatologia estimou que a temperatura média do planeta subiria em torno de 1 grau nos últimos quarenta anos. Nada menos que 95% desses cientistas estavam errados. A elevação no período foi de apenas meio grau. À primeira vista pode não parecer um erro tão grande, mas, usado em modelos de previsão climáticos, o dado inexato se multiplica e pode assumir dimensões absurdas. Uma das conclusões baseadas em dados equivocados é que, se nada de drástico for feito nos próximos dez anos. a temperatura global vai disparar 4,5 graus até o fim do século. Os prognósticos extremados serviram de base para um relatório preparado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU, divulgado com enorme repercussão em 2007.0 IPCC deu seu aval à associação do aumento da temperatura às Emissões de carbono e pintou um cenário de fim do mundo, do qual se destacam a elevação do nível dos oceanos causada pelo derretimento das geleiras e a inundação de cidades costeiras, como Nova York e Rio de Janeiro. “Não sei se foi incompetência ou loucura. Os cálculos são tão absurdos que mesmo considerando as variáveis que eles utilizam é impossível chegar a iguais resultados”, disse a VEJA o Climatologista inglês Nicholas Lewis, crítico feroz dos prognósticos do IPCC.
    Lewis refez os cálculos matemáticos com os mesmos números utilizados como base pelo IPCC. O resultado — como consta no estudo publicado no mês passado — foi a previsão de que o aumento da temperatura ultrapassará 1,6 grau até 2100. Isso é menos da metade do previsto no relatório do IPCC. As consequências de uma elevação dessa magnitude são de pequeno impacto: maior incidência de tempestades e a redução no tamanho das geleiras localizadas em pontos extremos do planeta. Não há risco de nenhuma cidade à beira-mar ser submersa. Secas severas são possíveis, mas só em regiões já atormentadas pela falta de água, como as limítrofes do Deserto do Saara. “Os erros nos cálculos que encontrei são para cientistas o equivalente a dizer que um mais um não são dois”, concluiu Lewis.
    O IPCC existe desde 1988 e, no momento, prepara um novo relatório sobre o Clima para ser divulgado em setembro. Seu conteúdo já vazou na internet, e o que vem aí é mais do mesmo. Os relatórios do IPCC são elaborados por 2000 cientistas de todo o mundo, o que lhes dá aparente credibilidade. Na realidade, predominam entre eles interesses políticos, ideológicos, pessoais e de instituições que nada têm a ver com ciência. O indiano Rajendra Pachauri, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz na condição de presidente do IPCC, insistiu em incluir no relatório de 2007 a duvidosa previsão do derretimento a curto prazo das geleiras do Himalaia. Três anos depois, uma investigação pedida pela própria ONU concluiu que se tratava de especulação. Entrou no relatório porque Pachauri dirige um instituto em Nova Délhi e precisava justificar o meio milhão de dólares recebido de uma fundação americana para estudar precisamente as geleiras do Himalaia. A investigação apontou o uso indiscriminado de estudos, estatísticas e modelos sem base científica na elaboração do relatório do Clima do IPCC.
    É fato que o comportamento do Clima ainda está longe de ser inteiramente compreendido pelos estudiosos. Por que ocorreu uma elevação rápida na temperatura média do planeta no início dos anos 90 seguida por um período de estabilidade que se mantém até hoje? No mesmo ano em que a União Européia se mobiliza para tentar impedir o previsto aumento de 2 graus na temperatura global, a Inglaterra enfrentou seu inverno mais gelado desde 1962, e ainda nevava em Londres” um mês depois do início da primavera. Como o Aquecimento Global se encaixa nesse cenário gelado? Há suposições, mas não respostas decisivas. Apesar das incertezas, vozes influentes conseguiram inserir o Aquecimento Global no centro das preocupações mundiais. Não há mesmo como ignorar algo que é alardeado como o prenúncio do fim do mundo.
    O mais famoso cruzado do carbono em março é Al Gore, que foi vice-presidente americano no governo de Bill Clinton. Ele ganhou um Oscar com um filme cuja mensagem era a seguinte: ou se interrompe já a emissão de carbono, ou o planeta vai fritar como ovo na frigideira. É interessante, do ponto de vista sociológico, como um movimento nascido praticamente dentro da Casa Branca foi se tornando mais e mais de repúdio ao capitalismo, à indústria e a civilização moderna. A mensagem de fundo parece ser que o homem violou leis sacrossantas da natureza e não lhe resta saída exceto voltar ao estilo de vida neolítico ou padecer num inferno de fogo. Não é sem. razão que o cientista americano Robert Zubrin, em livro recente, põe Gore entre os “líderes de um culto contra a humanidade” (veja a entrevista abaixo). A associação entre Clima e punição divina está entre nós desde que um Cro-Magnon espiou pela entrada da caverna e se perguntou quem mandava no raio e no trovão. O conceito do fim do mundo pelo pecado ecológico é mais recente. Quarenta anos atrás, havia a firme convicção de que estávamos às vésperas de uma nova era glacial. Em 14 de agosto de 1976, o The New York Times informou seus leitores da existência de muitos sinais de que a Terra pode estar a caminho de outra Idade do Gelo”. No ano seguinte, a revista Time publicou uma capa afirmativa: “Como sobreviver à Idade do Gelo que vem aí”. O tema ambientalista é o mesmo, mas mudou a polaridade: em lugar de sucumbir ao frio, a humanidade morrerá de calor.
    A atividade humana pode poluir o ar que respiramos e arruinar o ambiente em que vivemos. É bom lutar contra esses estragos ambientais. Mas mexer com o Clima do planeta parece estar além da capacidade do homem. Os ciclos de variações climáticas são naturais. Mil anos atrás, a tempera-tura média da Terra era superior à atual. Há 300, passamos por uma miniera do gelo. Estudos geológicos indicam que faz 50 milhões de anos. que o planeta passa por um resfriamento, com queda de 20 graus em sua temperatura média desde então. É bem possível que neste momento a Terra possa estar no finzinho de uma era glacial. A verdade inconveniente que muitos não querem aceitar é que o planeta esquenta e esfria por motivos próprios—e que pouco se pode fazer a respeito.

    MERCADORES DO DESESPERO
    Em seu último livro, Merchants of Despair (Mercadores do Desespero), o engenheiro e ensaísta americano Robert Zubrin diz que a preocupação com o Aquecimento Global se transformou num culto contra a humanidade.

    Quem são os mercadores do desespero? Ideologias que tentam reprimir atividades humanas sempre existiram. A expansão dessas ideias começou no século XVIII, com o inglês Thomas Malthus propondo o controle populacional para evitar a escassez de comida que seria inevitável se houvesse maior quantidade de bocas para alimentar. O conceito era torto, uma tentativa de justificar a fome existente em lugares como a índia e culpar os países pobres e populosos pelos problemas do mundo. Após a II Guerra, ganhou força a ideia de que a Terra estava superpovoada e era preciso economizar no uso dos recursos naturais, pois logo eles se esgotariam. É famosa a afirmação de que em 1990 já não haveria recursos suficientes para sustentar nosso modo de vida. Passamos os anos 90 e nada de drástico ocorreu. A mesma linha de pensamento contra o desenvolvimento é agora usada pelos ativistas do Aquecimento Global, como Al Gore. São mercadores do
    desespero que se escondem atrás do bom-mocismo. Eles dizem que o ser humano não é um criador, mas sim um destruidor. No ponto de vista deles, alguém precisa controlar os impulsos do homem e estabelecer normas para o uso dos recursos existentes. Não por acaso, esse alguém é ele próprio, o tal propagandista. Os autoproclamados líderes querem garantir que o poder fique em suas mãos. Há um provérbio que diz: “Onde há vontade de condenar, nunca faltam evidências”. O que agrava a situação é que o movimento verde virou um culto que não depende mais de explicações racionais para existir.
    Por que o senhor não considera o Aquecimento Global um desastre? O mundo pouco aqueceu no último século. A variação máxima foi de meio grau. Isso não nos prejudicou. Ao contrário. O solo está 14% mais fértil devido ao aumento na quantidade de CO, na atmosfera. Pouco se sabe sobre a relação entre a atividade humana e o Clima. Tudo indica que causas naturais podem ter o papel mais importante nesse processo. A Terra sempre passou por ciclos de altas e baixas temperaturas e o Clima se regula sozinho.
    Como a Terra faz isso? Se aumenta a presença de CO2, a fotossíntese fica mais eficiente e cresce a quantidade de Florestas.
    O maior número de plantas leva ao aumento da evaporação e, logo. a mais chuvas. Isso ajuda a resfriar o planeta. A Terra é um ambiente estável que funciona como uma bola dentro de uma cratera. É possível empurrar a bola para um lado ou para o outro, mas ela sempre volta ao centro.
    Não haveria benefício em reduzir a emissão de carbono? Não. A emissão ocorre porque a indústria e a agricultura estão em alta. Significa que há mais comida, mais inovação, mais recursos, mais riqueza. Em 1910, emitíamos 900 milhões de toneladas de CO, e a renda anual média de uma família era de 900 dólares. Multiplicamos por dez a emissão de carbono, mas a renda aumentou em igual medida, hoje em 9000 dólares. Isso permitiu reduzir a miséria, o maior problema que enfrentamos como civilização. Quem prega a diminuição de CO, defende, de fato, a ideia de que a pobreza deve prevalecer. Prefiro viver em um mundo um pouco mais quente, mas rico e saudável para nós.

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    • Não concordo com nada do que escreve, fundado em cientistas de quinta categoria. Va dizer o que escreveu aos milhares de cientistas que compoem O IPCC e aos grandes centros de pesquisa como o MIT e o Max Planck Institut que estudam em detalhe e com perplexidade o aumento incontido do dioxido de carbono, do metano (23 vezes mais agressivo) e do nitrito de sodio e outros gases de efeito estufa. Vc está tratando o futuro da biosfera e a sobrevivência da espécie com superficialidade hilariante. O fato mais brutal e inegavel são os limites da Terra que não aguenta um projeto ilimitado de crescimento seja de bens e serviços, seja de população. E ela está dando sinais de estresse claros pelos tornados,tufoes, tsunamis, ativação de vulcoes e outros eventos extremos. Não há um plano B para a Terra. So temos esta e não pode ser replicada. Estes dados não são pensados em sua exposição.
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      • http://wwwecm.blogspot.com.br/2010_03_01_archive.html

        É lamentável o grau de inconsciência que algumas pessoas são capazes de expressar…o aquecimento global é um fato inquestionável e altamente científico….ele possui duas razões que se associam de forma aditiva….um é o natural aquecimento decorrente do momento climático de final de glaciação e o outro é a sobreposição da ação humana provocada pela queima das reservas naturais de carvão e petróleo assim como pelo desmatamento….ou seja : a ação humana acelera um processo natural de aquecimento …..o que as pessoas precisam se conscientizar é de que existem interesses bilionários na manutenção do atual modelo econômico não sustentável….esses grupos interferem de forma negativa a fim de perpetuar ao máximo essa situação perversa…..muitos desse falsos cientistas que negam o aquecimento global estão a serviço desses interesses financeiros.

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      • Richar,
        Concordo plenamente com vc. Nas convenções da ONU sobre o aquecimento global, das quais participei, são as grandes petroleiras que fazem a agenda e submetem os governos.
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  6. Sr. Boff.
    Seria melhor continuar a rezar, pois deixa o clima pros cientistas e políticos.
    Pois nem eles entraram num acordo, o clima vai mudar é normal, é do planeta.
    Boa sorte.

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    • Wa Mor
      Não podemos deixar nosso destino nas mãos dos politicos e dos cientistas que não raro nem etica possuem. É erro cientifico dizer que o o aquecimento é normal. A geofisica da Terra implica subidas e descidas de temperatura mas não na aceleração que temos agora, com um aumento espantoso de dioxido de carbono que nunca houve antes. Não podemos brincar com esse dado, pois pode liquidar com a biosfera e a espécie humana. O atual é antropogenico e tem no estilo de civilização depredadora da natureza e consumista a sua principal causa. Desta vez não podemos ser indulgentes ou errar pois podemos chegar ao abismo sem volta.
      lboff

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      • Quanta resistência e alienação em se aceitar o obvio e assumir a responsabilidade pela serie crise sócio-politica-econômica-ambiental que aflige o nosso tempo, que em sua grande parte é causada pelo sistema econômico politico predador dos recursos naturais e usurpador da dignidade humana, justificado com falsas promessas de consumo felicidade e bem estar. Parabéns pela sua resistência e lucidez Frei Leonardo Boff, lucidez essa sempre tão oportuna para aqueles que estão abertos a novas reflexões e mudanças atitudinais e comportamentais. E sendo assim, de alguma forma assumem seu papel de não alienados e transformadores da realidade possível.

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  7. Hoje em dia, fala-se bastante em ética, entretanto, entre o falar e o fazer ético vai uma distância…..Ainda que essa ética que queremos seja uma miragem, não podemos perdê-la de vista. Com a globalização, a ética se perdeu, desgastou ou encolheu? Assistimos a todas as faltas, instabilidades, impossibilidades e promessas, disfarçada de”fênix renascida”, metaforizada por “globalização”, pretenso sistema ds grandes potências, tentando a todo custo criar a utopia de igualdade para todos. E o que encontramos? Um fogo cruzado de interesses unilaterais, sistema predatório e um consumismo desvairado, um apetite voraz, engolindo tudo tudo sem fazer a digestão. Nada sacia nesse sistema predatório…
    Apesar de toda a devastação sofrida, existe ainda uma demanda de vida que pode ser fundamentada no sentido ético. Claro que pode! Esse sentido engloba uma posição subjetiva do sujeito, a sua interiorização sendo posta à prova diante de si mesmo e diante do outro; novos comportamentos, escolhas, responsabilidades e consequências.

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  8. Caro Leonardo tuas palavras me dão muito alento e esperança. A vida não está nada fácil, mas não podemos desesperar. Se esse planeta se criou, ou foi criado, em milhões de anos, ou 5 dias da Criação, antes de nós, animais laborans, ele dará um jeito de apagar seu erro, ou nós mesmos caminhamos para esse fim. Os indígenas Guarani-Mbyá já previam em sua mitologia a iminente ecatombe por conta da quantidade de cadáveres com que infestamos o solo, o ar e as águas. Por isso estão sempre em busca da Terra Sem Males e desde 1500. Este não é o seu mundo. Definitivamente não é a cosmogonia que me encanta. Por isso, creio, temos que aprender com os povos da terra a recriar um novo cosmo, mais justo, sustentável e amoroso que acabe de vez com os medos do Demônio inventados pela Igreja, que acabe de vez com Mentira e a deturpação das mitologias afro-brasileiras e indígenas! Exu não é o Diabo. Jurupari é um Messias indígena, como o nosso Cristo. Na PUC-Rio estamos num prazeroso diálogo com os povos indígenas, apareça nos nossos debates. Dia 05.06.2013 teremos uma mesa chamada “Saberes Tradicionais e Ciência”. Queremos tua presença sempre, iluminando nossas cosciências. Um grande abraço! William Berger

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  9. Consciência dessa realidade, acredito, temos. O que nos falta é atitude. Atitude do indivíduo e da coletividade. Somos acomodados. Esperamos que o poder público direcione ações para que possamos segui-las. Como este quase não o faz, dormimos todas as noites o sono dos justos, como se nada estivesse acontecendo ao nosso redor.

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  10. Excelente seu artigo, como sempre. Tenho apenas a discordar que religiões instituídas trouxeram, ao animal humano, senso ético, verdadeiro. Tanto seus seguidores quanto àqueles que, hierarquicamente fazem parte delas, sempre estiveram – a maioria deles – totalmente fora do contexto da ética pura e verdadeira, cometendo, por essa razão, inúmeros e sérios delitos devidamente “enclausurados”.

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  11. http://wwwecm.blogspot.com.br/2010_03_01_archive.html

    O blog acima contém um trabalho que realizei a respeito do aquecimento global….são poucas páginas e de fácil entendimento e modestamente creio que muito importante porque nos da a esperança de que o problema tem solução tecnológica viável.
    Esse trabalho está baseado em um estudo que realizei a respeito da formação e controle dos furacões….como corolário desse estudo encontrei uma solução ecologicamente correta não só para acabar com os furacões como também para equilibrar o clima do planeta …..esse estudo está baseado no controle da temperatura superficial das águas oceânicas (que é a principal fonte de equilíbrio do clima planetário) utilizando-se uma tecnologia ( OTEC …conversão da energia térmica oceânica) já conhecida a quase um século….além de estabilizar o clima planetário ainda teremos a produção de energia elétrica LIMPA suficiente para abastecer o mundo durante séculos….também poderá ser utilizada para a produção de água doce potável para irrigação de áreas desérticas e produção de minérios dissolvidos nas águas oceânicas….e o melhor de tudo é que o nosso Brasil é o país com as maiores reservas dessa forma de energia….leiam e comprovem.

    Um abraço a todos e um especial ao meu admirado irmão Leonardo.

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    • Richard,
      Não podemos dispensar a tecnica, mas não está nela a solução dos problemas ecologicos. Precisamos mudar nossa relação para com a natureza, de subjugação para o cuidado, sernitrmo-nos parte dela e não seus mestres e senhores. Se essa atitude não mudar, a tecnica será sempre cooptada para a dominação. Nao adiante limar os dentes do lobo pensando que lhe tiramos a ferocidade. Esta não está nos dentes, estaá em sua natureza. Algo assim é com a ciência. Se não houver uma ciencia com consciência e com sentido de responsabilidde e de serviço mais à vida do que ao mercado não mudaremos o curso da devastação do planeta, pequeno,doemte e em seus limites.
      lboff

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      • Concordo 100% com essa visão…o fundamental é mudar a postura das pessoas em relação ao problema….mas também é importante saber que existem alternativas tecnológicas disponíveis….essa que apresento é simplesmente fantástica porque resolve não somente o problema climático como também outros igualmente importantes e urgentes como a produção de energia limpa e barata….a produção de água doce para irrigação dos desertos….produção mineral a partir da água do mar….aumento na produção de peixes ….além de tudo isso ainda poderemos abandonar as hidroelétricas….as termoelétricas….usinas nucleares….enfim são benefícios que não podemos dispensar.

        Um abraço.

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  12. Caro Leonardo Boff, em primeiro lugar quero te parabenizar pelo lucidez da análise e dizer que compartilho plenamente com sua visão sobre o momento planetário e sobre a necessidade urgente de uma transição anticapitalista. Um grande abraço dessa admiradora!

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  13. LEIA: CIBERNÉTICA SOCIAL PARA OPROPORCIONALISMO – WALDEMAR DE GREGORI

    ECOCIBERNÉTICA SOCIAL: uma prooposta de nova educação
    Waldemar De Gregori*
    Introdução
    O presente artigo tem a finalidade de, a partir de linguagem espontânea e
    descontraída, envolver o leitor para uma questão atual que se revela na
    crise de paradigmas e modelos de pensamento que estão acontecendo
    em todo o planeta. Objetiva-se no texto uma proposta do que denominamos
    paradigma-sistêmico-triádico, cuja visão proporcionalista descrita a
    seguir nos possibilita uma ampliação da visão educacional vigente na
    tentativa de implantar e abrir caminhos para uma nova educação.
    O jogo da vida
    A vida pode ser concebida como um jogo em que há dois competidores e
    uma assistência. Um competidor é o campeão oficial (subgrupo oficial),
    outro é o competidor desafiante (subgrupo anti-oficial); a assistência, que
    paga o espetáculo, é apenas torcedora a favor de um ou outro dos subgrupos,
    formando ela o subgrupo oscilante, disponível.
    Esta é uma concepção triádica ou trialética sistêmica das forças que movem
    a realidade social. É sistêmica porque supõe interdependência, ciclos
    evolutivos, partidas sucessivas em que os participantes podem trocar
    de posição subgrupal, redirecionar o movimento, as pessoas, isto é,
    existe feedback. É triádica porque focaliza sempre três partes ou subgrupos,
    cada qual com posições, metas, funções, modos de participação diferentes,
    mas todos buscando o máximo de compensações, de vantagens.
    No jogo tiiádico da vida, as compensações que cada subgrupo disputa
    são os meios de sobrevivência (alimento, abrigo, saúde, renda, formação,
    espaço, crenças, poder, status, vida eterna, etc). É o torneio da vida do
    * Doutorado pela Escola de Sociologia e Políticas de São Paulo. Presidente da International
    Social Cybernetics Associates (ISCA). Fundador da ABC Social – CLN 103,
    Bloco A, Sala 45, Brasília.
    qual todos participamos desde que nascemos. A maioria não se dá conta
    de sua posição no torneio das vantagens da vida, nem mesmo da existência
    do torneio; muito menos da percepção da equipe em que joga, do
    subgrupo ou classe em que foi escalado ao nascer! Saberá essa maioria
    a modalidade de jogo em que participa? Conhece as regras? Talvez desconfie
    que há muito jogo sujo e trapaças, porque a distribuição das vantagens
    quase nunca corresponde ao anunciado desde a infância. Mas segue
    no árduo e duvidoso processo competitivo de melhorar sua classificação,
    galgando todos os degraus de uma carreira ou de uma comunidade.
    Quem são Nossos Treinadores para Este Jogo?
    Nesta concepção da vida, da história, da sociedade, os educadores são
    nossos treinadores; a família e a escola são o campo de treinamento individual,
    subgrupal, de classe, para o maior êxito possível. A educação,
    seja ela escolar ou extra-escolar, presencial ou a distância, formal ou informal,
    pública ou privada, estatal ou esclesiástica, habilita cada criança
    ou cada classe nas diversas modalidades de jogo. Dá a conhecer as regras
    do jogo, faz acreditar nelas e conformar-se com os resultados. Ensina
    que há que jogar de novo, com novas estratégias lícitas e, aos poucos,
    com as ilícitas também.
    Quem São os Donos do Jogo?
    São os poderes máximos de uma sociedade, de uma cultura ou dos impérios
    do planeta. Na América Latina, são o Estado e a Igreja para os
    quais trabalham os educadores-treinadores.
    O papel da educação, no jogo da vida no Brasil, pode ser visto em livros
    de formação histórica ou história da educação (Paiva, 19..).
    Entretanto, Estado e Igreja não são autônomos para determinar o tipo de
    jogo e respectivas regras e respectivos ganhadores na América Latina.
    Aqui jogamos os jogos determinados pelas metrópoles civis e religiosas
    européias. Seus jogos derivam de códigos chamados paradigmas: cartesiano-
    capitalista e teocrático-cristão, respectivamente. Neste século, aA retrospectiva a seguir é decorrente de competição entre esses paradigmas
    e de jogos menores entre jogadores pertencentes a um mesmo paradigma.
    Retrospectiva
    Dentro do paradigma cartesiano-capitalista, o jogo triádico se dá entre
    EUA e Japão. Os educadores-treinadores do Japão parecem ter tido êxito
    ostensivo em seu trabalho de formar o homem-produtor. Melhoraram sua
    capacidade criativa (cerca de 40% das patentes industriais do planeta são
    japonesas); quase todos os japoneses dominam leitura dinâmica e métodos
    de aprendizagem acelerada, inclusive capacitação para ver videocassetes
    com o dobro da velocidade. Seus métodos de treinamento empresarial
    estão na moda em todo o planeta. Suas religiões como Sei-chonoiê,
    Igreja Messiânica, So-Ka-Gakai, Mahikari infundem otimismo e
    prosperidade em seus praticantes. Os métodos dão resultado.
    Os fins é que são duvidosos. A finalidade é superar os EUA? É superar
    um complexo de derrotado de guerra? É supersatisfazer necessidades
    reais e artificiais por meios cada vez mais sofisticados? É espremer o japonês
    e torná-lo um super-homem? É fazê-lo feliz em suas relações familiares
    e empresariais9 Os Tigres Asiáticos seguem o mesmo exemplo.
    Nos EUA, os educadores-treinadores estão sendo culpados pela derrota
    infligida pelos japoneses. Exigem uma reformulação em suas estratégias.
    As extensões tecnológicas do cérebro dos norte-americanos (televisão
    para o cérebro limbico-intuitivo; computador para o cérebro cortical-lógico;
    e os robôs para o cêrebro reptílico-motor), parecem não alcançar os resultados
    alcançados pelos investimentos japoneses em estimulação dos
    três cérebros.
    Diz-se que há uma crise de inteligência nos EUA. Em resposta, o governo
    Bush declarou a década de 90 como a década da investigação do cérebro
    (ou da importação de cérebros?). Vamos apostar no cérebro ou na
    inteligência artificial?
    No bloco ex-socialista, o fracasso dos educadores-treinadores foi estrondoso.
    Haviam prometido formar o homem novo pelo novo paradigma
    marxista-socialista-paviloviano. Ganharam muitas medalhas em olimpíadas
    e em corridas espaciais. De repente não há produção, não há liderança,
    não há cidadania, nem paradigma, nem rumos. Qual era mesmo o
    projeto de jogo? Onde está a imensidade de jovens do Terceiro Mundo
    que recebeu treino educacional na ex-URSS? Que tipo de personalidade,
    de liderança, de trabalhador, de cidadão e de revolucionário se produziu?
    A Europa, depois da fermentação socialista-reformista, esgotou-se em todos
    os campos. O movimento estruturalista passou; o movimento piagetiano
    não se complexificou; o movimento artístico-literário está estagnado;
    o movimento político progrediu rumo à integração européia; a filosofia e as
    religiões tornaram-se fundamentalistas. O movimento do Imaginário (de
    origem francesa e de inspiração sufi) tenta caminhar nessa direção.
    A Educação ocidental-cristã, que formou os depredadores de todos os
    outros continentes, já conseguiu civilizar o europeu para ser mais sensato
    ecologicamente e internacionalmente? Conseguiu questioná-lo em
    seu paradigma, no modelo que espalhou pelo planeta, e levá-lo a algumcompromisso
    de reformulação?
    Na América Latina, em Cuba, os educaadores-treinadores parecem ter
    sido surpreendidos em preparativos longos demais, retardando a entrada
    dos jogadores no sistema de produção. Indubitavelmente, a generalização
    do treinamento e o bom nivel são um êxito. Resta saber qual será a
    adaptação desses jogadores se o jogo mudar, ou se-é possível sustentar
    o jogo atual. Afinal, qual é o jogo certo?
    Nos demais países, os educadores-treinadores rivalizaram-se na preparação
    de jogadores para o jogo cartesiano-capitatista e marxista-socialista.
    O campo de batalha já deu seu veredicto: os jogadores cartesiano-capitalistas
    foram melhores, isto é, ganharam o jogo. Vitória de Pirro, em
    que poucos são os favorecidos e a maioria é perdedora. O esforço para
    despertar o pensamento crítico na maioria fracassou.
    No Brasil, o teste foi a eleição presidencial. O teste continua com os índices
    negativos de desenvolvimento econômico, como em toda a AméricaLatina. Somos perdedores no jogo interno e no jogo com as metrópoles
    econômicas.
    Como o sistema educacional havia sido praticamente avassalado pelos
    educadores do paradigma marxista-socialista, os donos do jogo cartesiano-
    capitalista dedicaram-se a esvaziá-lo por asfixia econômica e torná-
    lo improdutivo. Agora, trata-se de proceder ao expurgo e à substituição
    por treinadores leais ao paradigma cartesiano-capitalista no Estado, e
    por treinadores teocrático-fundamentalistas nos redutos religiosos.
    Na educação informal, a maioria dos movimentos entrou em crise. As
    comunidades de base perdem o impulso; o sindicalismo fragmenta-se; as
    associações de moradores são dominadas por lideranças conversadoras;
    as filosofias espiritualistas orientais perdem força para os movimentos
    carismático-conservadores populares. A televisão reduz programas
    críticos e aumenta programas de anulação mental.
    Os exames vestibulares atestam um rebaixamento de nivel mental, crescente
    a cada ano. Crianças e jovens fogem cada vez mais da escola ou
    têm crescente aversão a ela. Os professores, idem.
    Enfim, tivemos uma década perdida em desenvolvimento, o que significa
    também década perdida em Educação. A crise, entretanto, não é só da
    América Latina, nem só educacional. É crise planetária, é crise de paradigmas
    ou propostas de vida. Busca-se urna reformulação do jogo, uma
    redistribuição de jogadores, uma reciclagem do campo ecológico de jogo,
    com novas regras, novas finalidades e novos resultados. As universidades
    a distância, os currículos rurais resumidos, os currículos sazonalizados,
    as reformas educacionais, a aplicação dos métodos de qualidade
    total, as fundações de amparo à pesquisa, as teorias de recursos humanos,
    os projetos interdisciplinares, a ampliação das redes escolares, a
    merenda escolar, o Prodasec, o Pronasec, a Unesco, a criação de ministérios
    de Ciência e Tecnologia, ministérios da Inteligência, nada disso
    reverteu a tendência decadente.
    nosso cérebro. Chamava-se anteriormente “cosmovisão” ou teoria geral
    da história.
    Existem diversas categorias de paradigmas. Paradigmas gerais ou globais
    como a teocracia, o capitalismo, o marxismo. Derivados de cada um
    deles existem os paradigmas específicos, aplicados a partes da realidade
    por profissionais especialistas. Quando se subdivide uma especialização
    obtém-se a hiperespecialização,’um paradigma hiperespecializado.
    A doença do mundo moderno ou pós-moderno está no paradigma geral e
    na sua fragmentação em paradigmas específicos e hiperespecfficos
    isolados, estanques, que já não podem recompor a unidade inicial e caminham
    para uma dispersão cada vez mais angustiante, apesar das
    tentativas de reintegração interdisciplinar. Neste momento, o planeta se
    debate, no Ocidente, entre uma miscelânea de paradigmas, formada pela
    coexistência do paradigma teocrático-cristão, o paradigma cartesiano-capitalista
    e o paradigma marxista-socialista, com mistura do paradigma
    árabe-islâmico e do oriental-budista. Juntos, formam um inconsistente
    mega-paradigma que não consegue abarcar e orientar o novo planeta da
    era da informática, da era espacial, da era da aldeia global.
    Há que partir, filosoficamente, em busca de novos paradigmas para perceber
    o mundo, sua origem energética, a evolução, o indivíduo, os grupos,
    a organização social, a economia, a sobrevivência global ecossistêmica.
    A busca de um novo consenso ou de um novo paradigma vem sendo
    feita com a ajuda das teorias de sistemas, da ecologia e da cibernética eletrônica.
    Mas não são suficientes; é preciso reaproveitar os avanços que a
    dialética fez no campo das ciências sociais e humanas. Melhorando tudo
    um pouco e fazendo uma síntese integradora, chegamos à cibernética
    social que, aplicada ao cérebro no lado esquerdo, chama-se Trialética
    Sistêmica”; no lado direito, chama-se “Ludomistética”; no lado central,
    chama-se “Proporcionalismo”.
    Trata-se de reinterpretar o planeta de todos e para todos, como um único
    e grande jogo triádico. A Ecologia é, sem dúvida, um jogo triádico. Quem”formulou as leis do mercado, com certeza pressentiu o jogo triádico.
    Quem delineou o júri, captou o jogo triádico. Quem intuiu as forças divinas
    como trindade, intuiu o jogo triádico.Quem propôs a democracia, propôs
    uma forma de equilibrar os participantes de um jogo triádico. Agora isto
    tudo está redefinido, reassimilado pelo paradigma mais amplo da Cibernética
    Social, sob o conceito de “Principio Unitriádico”. Poder-se-ia chamar
    de Ecocibernética Social, porque traz implícita a idéia de ecologia social
    ou global, pois não se trata só de ozônio, de plantas e animais. Trata-se
    também da preservação do espécime humano, da família, dos grupos
    humanos verticais (classes), horizontais e transversais. Na abordagem
    triádica, cada subgrupo deve ser caracterizado segundo seu modo de
    operar para sair vencedor na conquista de meios de sobrevivência. O novo,
    o essencial, entretanto, é sua caracterização como MAIS POSITIVO
    (se busca aproximar-se do proporcionalismo) ou MAIS NEGATIVO (se
    busca a maximocracia, o máximo possível e sempre, para si). O Proporcionalismo
    aqui proposto baseia-se numa “lei” de auto-organização e regulagem
    da energia em sistemas – chamada média e extrema razão, ou divisão
    áurea, ou ponto de ouro -, encontrada nas medidas entre as partes
    do corpo humano, na arquitetura, na relação entre base e altura de livros,
    quadros, portas. Esta proporção se expressa pelo número 1,618 e seu
    inverso 0,618; significa que, em percentagens, fica aproximadamente em
    38% por 62%.
    Representando pois a população num triângulo sobre a base, e os meios
    de sobrevivência num triângulo sobre o vértico, temos:
    Perspectivas
    Enquanto um novo paradigma não prevalecer, a perspectiva é que a
    Educação vai continuar em sua rota de formação do homem-produtor de
    acordo com o paradigma cartesiano-capitalista, que é o que domina a
    miscelânea existente. Passaremos a ter mais teleducação, educação informatizada,
    educação superior-tecnificada. Passar-se-á a dar mais educação
    aos bichos de estimação, aos robôs. O específico do ser humano,
    seu humanismo, sua qualidade de vida, sua auto-realização, sua divinização,
    sua convivência afetiva, cooperativa, continuará fora de moda
    porque o paradigma dominante exclui esses pormenores… A escola será
    cada vez mais privatizada, o que significa redução de oportunidades para
    as camadas de menor renda.
    Este é o plano do paradigma cartesiano-capitalista para a América Latina,
    concertado na reunião de ministros de Educação reunidos no Canadá. O
    vencedor da taça “capitalismo-elitista versus socialismo-popular” vai fazer
    um expurgo e vai reverter a anterior proposta de massificar a educação.
    Petos métodos que se estão aplicando – qualidade total, desperdício
    zero, kan-ban – o pretexto é atingir índices de produtividade japonesa na
    Educação. Menos mal.
    O único obstáculo para atingir esses maravilhosos resultados é o cérebro
    da maioria dos brasileiros e da maioria dos latino-americanos. Pela teoria
    dos três conjuntos de funções mentais, nosso cérebro é eminentemente
    límbico-direito-intuitivo, pouco intelectual e ainda menos operacional, devido
    a nossa formação étinco-histórica: somos ibero-árabes, indígenas,
    africanos, e um vir-a-ser ainda em fermentação. Isto significa desenvolvimento
    mental infantil, lúdico-artístico. Temos uma grande população
    de sensitivos, população-alfa, idílica, lírica, mágica, ingênua, espontaneista,
    crédula, anti-reflexão, antitrabalho, antidisciplina, antiesforço, antifuturo,
    entretida em milagrismo, charlatanismo, curandeirismo, adivinhação,
    desligada e alienada, antimoderna e anticívica (são cidadãos do
    “mundo espiritual”). Não há método japonês ou tecnológico que dê jeito
    nisso. Primeiro, porque seria preciso aceitar o novo paradigma sobre o
    cérebro e suas funções. Segundo, porque seria necessário desenhar um
    processo educativo a partir do diagnóstico do desenvolvimento mental local,
    regional, por classe social, por faixa etária. Isso é difícil porque supõe
    a aceitação de um novo paradigma global, incluindo política, economía,
    espiritualidade, e não só a renovação do paradigma educacional; pois as
    partes do sistema são interdependentes e hierarquizadas entre si. Significa
    que as perspectivas da Educação na América Latina continuarão as
    mesmas, enfeitadas de tecnologia, sem mudar na essência: os oscilantestreinados em função de um reduzido subgrupo oficial, e todos treinados
    em função do fetiche tecnológico que promete ser uma galinha de ovos
    de dólares.
    Perspectiva Alternativa
    Já que do velho nasce o novo, do anterior nasce o posterior, dos pais
    nascem os filhos em safras sucessivas, sem fim, é de supor que dos paradigmas
    anteriores nascerão novos paradigmas que aos poucos tomarão
    o lugar dos passados ou produzirão novas miscelâneas que engendrarão
    outras e outros, sem fim. Os paradigmas têm sucesso ou não, de
    acordo com os subgrupos a que se dirigem, segundo as vantagens ou
    desvantageens que oferecem ou significam para uns e outros, independentemente
    de seu teor cientifico, do grau de realismo ou de bom senso.
    Continuamos, por enquanto, na lei da força e do mais forte.
    Entretanto, pode-se conjectuar qual seria a perspectiva da Educação,
    caso o paradigma sistêmico triádico ganhasse espaço com sua proposta
    de proporcionalismo:
    • A cultura seria antropocêntrica e não maquinocêntrica. O desenvolvimentismo
    monetarista seria substituído pelo proporcionalismo convi
    vencial (partimos da hipótese de que no planeta existe abundância ou
    suficiência de bens, e não escassez).
    • O quadro de referência e a linguagem do novo paradigma sistêmico
    triádico substituiria o velho e capenga dicionário sócio-econômico de
    Adam Smith.
    • A organização social (Estado, economia) seria descentralizada, invertida,
    tendo sua base principal no município e em sua ecorregião. A
    economia seria autogestionária, privada, formando redes sistêmicas
    reguladas dentro dos limites de 38% e 62% por um poder judiciário,
    permitindo livre movimento entre os quatro níveis de sobrevivência –
    minivivência, mediovivência, grandivivência, maxivivência – atendendo
    a necessidades e metas em 14 subsistemas (família/população, saúde
    manutenção, lealdade, lazer, viário, educação, patrimônio, produção,
    religioso, segurança, político-administrativo, jurídico, prestígio).
    A nova Educação, que começa a ser chamada “Antropogogia”, estaria
    centrada no desenvolvimento, capacitação e uso proporcional dos três
    cérebros em seus quatro niveis, correspondendo aos quatro níveis de
    sobrevivência nos 14 subsistemas. A educação para o primeiro grau
    deixaria de ser educação acadêmica, educação por disciplinas e matérias:
    seria pelo “currículo da vida” ou currículo da comunidade ou currículo
    pelo paradigma global, que são os mesmos 14 subsistemas. Só a
    partir do segundo grau a educação entraria pelo paradigma específico,
    por ser profissionalizante; e isso supõe domínio de conteúdos organizados
    em disciplinas ou teorias científicas. A educação de primeiro
    grau, com exceção da comunicação verbal-matemática, não precisaria
    de livros-texto; a televisão, as revistas em quadrinhos e a comunidade
    oferecem toda a informação sobre o currículo da vida pelos 14 subsistemas.
    Basta aprender a percebê-los e ordenar a informação, os sentimentos,
    as práticas de ação. A matriz do currículo da vida está neste
    esquema:
    Subsistemas Atividades
    S01 – Família/ Educação para a integração homem/mulher. Escola
    População de pais. Carreira de pai e mãe. Vida familiar. Divórcio,
    novos tipos de parentesco. Hétera e autocondução
    na família. Sociograma familiar.
    S02 – Saúde Auto-imagem fisio-bio-psíquica. Higiene, saúde. Medicina
    natural. INPS. Esperança (duração) de vida.
    Desdramatização da morte. Ecologia.
    S03 – Manutenção Nutrição, desalienação e adequação de nutrição,
    culinária, vestuário, consumo. Formação toxicológica.
    S04-Lealdade Vida afetiva, relacionamento grupai. Cooperativismo.
    Sindicalismo. Parceiros sociais e adversários
    sociais.
    S05 – Lazer Desfrute da vida. Educação Física. Curtição do corpo.S06 – Viário Ensino da matemática “social”. Comunicação verbal
    e não verbal, desdobramento da comunicação de
    massa e da propaganda. Leitura dinâmica. Datilografia.
    Dinâmica de grupo. Educação a distância.
    Auto-escola. Educação para o trânsito.
    S07-Educação Currículos e programas da vida, da comunidade,
    das profissões e não das ciências. Fluxograma
    evolutivo da personalidade. Formação para a autocondução
    através de metas próprias para a vida.
    Utilização de calculadoras, TV, computadores.
    Educação profissionalizante, integração escola/empresa/
    comunidade. Exercício disciplinado da mente
    e seus processos lógicos, criativo e operacional.
    Hábitos de leitura, documentação, pesquisa. Histórico
    escolar de 1º e 2º graus, como substitutivo
    principal do vestibular. Reciclagem periódica como
    forma de educação permanente.
    S08 – Patrimônio Técnicas bancárias, comerciais. Negócios, acumulação
    de bens. Bem comum, impostos, inflação,
    drenagem da renda. Capitalismo. Socialismo. Educação
    anticorrupção, antiespoliação, antipobreza.
    Autoprovimento. Seguros e Previdência. Economia
    proporcionalista.
    S09 – Produção Currículos e calendários regionalizados e conforme
    as estações. Oportunidades profissionais. Empresário,
    operário. Teste anual de gostos e aptidões.
    Educação para o trabalho. Tipos de empresas.
    Educação artística. Artesanato. Tecnologia da vida
    doméstica.
    S10 – Religioso Conhecimento de religiões. Técnicas para sair de si
    e ligar-se aos diversos níveis de realidade (alfa-místico,
    etc). Técnicas de energização. Formação de
    valores morais e sociais para controle do capitalismo
    e jogos triádicos destrutivos. Evolução e emancipação
    religiosa.
    S11 – Segurança Defesa pessoal. Auto-afirmação. Hábito de disciplina
    pessoal e grupai. Educação antiviolência. Prevenção
    de acidentes. Treinamento para emergências.
    A violência nos três subgrupos (incêndios, desastres)
    e defesa civil. O que é revolução, guerra.
    O que é repressão.
    S12 – Político- Geografia e História a partir da comunidade. Educa-
    Administrativo ção comunitária. Educação política, democrática,
    antiditadura. A organização social teocrática, a capitalista,
    a socialista, e a que o Brasil precisa.
    Conscientização crítica dos três subgrupos. Partidos.
    Introdução à burocracia. Civismo. Liderança e
    participação nas organizações estudantis, e na cogestão
    escolar.
    S13 – Jurídico Documentação. Participação na feitura das normas.
    Direitos e deveres legais e morais dos cidadãos dos
    três subgrupos. Introdução ao feedback sistemático
    dos três subgrupos e vigilância intergrupos. Capacidade
    e honestidade em auto e heteroavaliação.
    Avaliação dos três processos mentais e do desenvolvimento
    da personalidade.
    S14-Prestígio Primazia da cultura nacional (deseuropeização
    desanquização da cultura). Educação estética.
    Auto-estética (qualidades e aprumo pessoais). Estilo
    de vida, etiqueta, protocolo. Celebração pedagógica
    e crítica do calendário civil, religioso, cultural,
    da região e do país. Organização de curriculum vitae.
    Como se pode observar, este é um currículo por atividades, só que não
    aleatório: exige um quadro de referencia ordenador; caso contrário, tanto
    Em Aberto, Brasília, ano 10, n.50/51, abr./set 1992tros de orientação, de supervisão, de relacionamento grupai, com muito
    menos tempo de permanência. Os professores poderiam deslocar-se para
    junto de pequenos grupos ao redor de uma televisão.
    Isto é muito menos utópico do que CIEPs e CIACs, que estão confundindo
    assistência social monumental com desenvolvimento mental qualitativo.
    O desafio inicial seria a preparação de educadores dentro deste paradigma.
    É apenas questão de vontade política junto às universidades e seus
    centros de formação. Algumas poucas faculdades pedagógicas por vez,
    em cada estado ou região, suspenderiam vestibulares para pedagogia por
    alguns anos para reformular-se e reciclar seus professores. Estes, depois,
    formariam os educadores de pré e primeiro grau pelo “currículo da
    vida”.
    As perspectivas para a educação de terceiro grau, em primeiro lugar, são
    de privatização como manda o figurino do paradigma cartesiano-capitalista.
    Em segundo lugar, não há sinais de que se consigam desfazer as
    muralhas da especialização entre as diversas profissões e disciplinas,
    mantido o atual paradigma que manterá as funestas conseqüências ecológico-
    sociais da especialização.
    Pelo paradigma proporcionalista, cada profissão e cada disciplina teria
    como contexto e metalinguagem os 14 subsistemas ou algo parecido que
    representasse a globalidade; dentro dele se localizaria a profissão como
    um eixo específico, mas sendo sempre apenas um ângulo de abordagem
    do global, ao qual se dedicaria aproximadamente 62% do tempo e esforço,
    dedicando-se outros 38% aos raios ou ramificações que levam do eixo
    à globalidade. Com isso teríamos o especialista com seu paradigma
    específico (linguagem profissional) situado e orientado no paradigma global,
    dominando também uma metalinguagem para comunicação supraprofissional
    e supradisciplinar.
    A mesma perspectiva se aplica ao quarto e quinto graus e à investigação.
    A dispersão, a aleatoriedade e a ideologização da pesquisa são decorrências
    do paradigma isolacionaista, hiperespecializante do cartesianismo-
    capitalismo ao qual não se conseguiu, ainda, fazer uma terapia epistemológica
    efetiva, e que continua a manifestar-se em seus presupostos
    positivistas, mecanicistas, funcionalistas, darwinistas, etc.
    A metodologia científica pode ser reformulada em metodologia do cérebro
    triádico para o feedback (informação, criatividade, ação), condensada no
    esquema “Ciclo Cibernético Mental”, acrescido de todos os refinamentos
    matemático-estatístico-logísticos para cada uma de suas 10 etapas (De
    Gregori,’l988)
    Nenhuma reunião dos sete ou dos 20 grandes do planeta, para negociar
    uma nova ordem internacional, vai tratar da troca de paradigma, porque
    eles têm viseiras impeditivas.
    Organizar um novo paradigma não é exclusividade de ninguém e quem
    quiser tentar poderá fazê-lo. A experiência mostra que não é tarefa para
    uma só pessoa. Uma revolução científica é convergência de esforços e
    contribuições de muitas pessoas e não unicamente da pessoa que primeiro
    publique um livro sobre ela (Kuhn, 19..).
    Depois de se atingir a formulação razoável e coerente de um paradigma,
    o problema é sua difusão de aceitação, pois as estruturas sociais e os
    subgrupos criados em cima do paradigma anterior e ainda vigente tratarão
    de defender-se. Seria possível um novo pacto filosófico, um pacto do
    conhecimento? Ou será necessário estabelecer primeiro uma luta cultural
    e ideológica até chegar a uma luta armada, como aconteceu com a implantação
    do cristianismo, do islamismo, da revolução Iburguesa, da socialista?
    Teremos chegado ao fim das ideologias ocultas e revoluções
    armadas, para entrarmos numa nova era de pactos culturais, políticos e
    econômicos negociados civilizadamente?
    O Proporcionalismo é uma proposta de revolução mental; sua força revolucionária
    será primordialmente feminina; sua estratégia será eminentemente
    educacional, antropogógica.
    Os resultados?
    Uma perspectiva é de vazio de propostas, vazio de alternativas, esvazia-
    Em Aberto, Brasília, ano 10, n.50/51, abr./set 1992

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    • Ivone Sônego
      Lí sua exposição com muita atenção. Vê-se que é um trabalho de fôlego. Parabéns.
      Mas, tenho que dizer alguma coisa:
      Não concordo que a atual tecnologia se torne fetiche. Pois foi ela – a tecnologia da Informação – que mudou o paradigma de 500 anos de História: da Modernidade para nossos atuais dias de 1913.
      Seu artigo ou o que defende é de 1992. Uma época turbulenta e vazia de propostas. Mas, muita água passaram debaixo da ponte. Passamos noites debruçados sobre o problema da humanidade e já caminhamos muito mesmo. Chegamos, pelo menos, a descobrir o porquê da crise civilizacional e possivelmente, apesar da pré-madrugada a qual nos encontramos, já há uma luz no fim do túnel.
      Hans Küng em seu livro “Islamismo”, 2004, aponta que a grande alternativa futura para a humanidade será o caminho do Oriente-Árabe, tendo como substrato religioso, a religião Islâmica, sem falar que a cultura árabe terá grande relevância.
      Um abraço
      odeciomendesrocha philosopher

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  14. Concordo plenamente com o que o senhor apresenta neste texto. (Considero de um brilho raro e de uma beleza singular o seu SABER CUIDAR. Aquele é um texto divisor de águas em minhas meditações). Veja bem, professor, o ser humano se emancipou a partir de situações limites, largou as savanas em busca de estabilidade em vista de sua sobrevivência. Ou se aventurava ou se perdia. O senhor chegou a esboçar esta ideia em seu Tempo de Transcendência. Estamos nos aproximando de um tempo de grande provação e limite, e, desta vez, não teremos como construir uma “Arca”. Que tipo de paralelo o senhor percebe entre esta situação limite e um novo salto como o proposto por Chardin, por exemplo?

    Muito obrigado pela atenção e pelo texto apresentado acima! Felicidades!

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