Crítica ao modelo-padrão de sustentabilidade

Os documentos oficiais da ONU e também o atual borrador para a Rio+20 encamparam o modelo padrão de desenvolvimento sustentável: deve ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto. É o famoso tripé chamado de Triple Botton Line (a linha das três pilastras), criado em 1990 pelo britânico John Elkington, fundador da ONG SustainAbility. Esse modelo não resiste a uma crítica séria.

Desenvolvimento economicamente viável: Na linguagem política dos governos e das empresas, desenvolvimento equivale ao Produto Interno Bruto (PIB). Ai da empresa e do pais que não ostentem taxas positivas de crescimento anuais! Entram em crise ou em recessão com conseqüente diminuição do consumo e geração de desemprego: no mundo dos negócios, o negócio é ganhar dinheiro, com o menor investimento possível, com a máxima rentabilidade possível, com a concorrência mais forte possível e no menor tempo possível.

Quando falamos aqui de desenvolvimento não é qualquer um, mas o realmente existente que é aquele industrialista/capitalista/consumista. Este é antropocêntrico, contraditório e equivocado. Explico-me.
É antropocêntrico pois está centrado somente no ser humano, como se não existisse a comunidade de vida (flora e fauna e outros organismos vivos) que também precisa da biosfera e demanda igualmente sustentabilidade. É contraditório, pois, desenvolvimento e sustentabilidade obedecem a lógicas que se contrapõem. O desenvolvimento realmente existente é linear, crescente, explora a natureza e privilegia a acumulação privada. É a economia política de viés capitalista. A categoria sustentabilidade, ao contrário, provém das ciências da vida e da ecologia, cuja lógica é circular e includente. Representa a tendência dos ecossisstemas ao equilíbrio dinâmico, à interdependência e à cooperação de todos com todos. Como se depreende: são lógicas que se auto-negam: uma privilegia o indivíduo, a outra o coletivo, uma enfatiza a competição, a outra a cooperação, uma a evolução do mais apto, a outra a co-evolução de todos interconectados.

É equivocado, porque alega que a pobreza é causa da degradação ecológica. Portanto: quanto menos pobreza, mais desenvolvimento sustentável haveria e menos degradação, o que é equivocado. Analisando, porém, criticamente, as causas reais da pobreza e da degradação da natureza, vê-se que resultam, não exclusiva, mas principalmente, do tipo de desenvolvimento praticado. É ele que produz degradação, pois delapida a natureza, paga baixos salários e gera assim pobreza.

A expressão desenvolvimento sustentável representa uma armadilha do sistema imperante: assume os termos da ecologia (sustentabilidade) para esvaziá-los. Assume o ideal da economia (crescimento) mascarando, a pobreza que ele mesmo produz.

Socialmente justo: se há uma coisa que o atual desenvolvimento industrial/capitalista não pode dizer de si mesmo é que seja socialmente justo. Se assim fosse não haveria 1,4 bilhões de famintos no mundo e a maioria das nações na pobreza. Fiquemos apenas com o caso do Brasil. O Atlas Social do Brasil de 2010 (IPEA) refere que cinco mil famílias controlam 46% do PIB. O governo repassa anualmente 125 bihões de reais ao sistema financeiro para pagar com juros os empréstimos feitos e aplica apenas 40 bilhões para os programas sociais que beneficiam as grandes maiorias pobres Tudo isso denuncia a falsidade da retórica de um desenvolvimento socialmente justo, impossível dentro do atual paradigma econômico.

Ambientalmente correto: O atual tipo de desenvolvimento se faz movendo uma guerra irrefreável contra Gaia, arrancando dela tudo o que lhe for útil e objeto de lucro, especialmente, para aquelas minorias que controlam o processo. Em menos de quarenta anos, segundo o Índice Planeta Vivo da ONU (2010) a biodiversidade global sofreu uma queda de 30%. Apenas de 1998 para cá houve um salto de 35% nas emissões de gases de efeito estufa. Ao invés de falarmos nos limites do crescimento melhor faríamos falar nos limites da agressão à Terra.

Em conclusão, o modelo padrão de desenvolvimento que se quer sustentável, é retórico. Aqui e acolá se verificam avanços na produção de baixo carbono, na utilização de energias alternativas, no reflorestamento de regiões degradadas e na criação de melhores sumidouros de dejetos. Mas reparemos bem: tudo é realizado desde que não se afetem os lucros, nem se enfraqueça a competição. Aqui a utilização da expressão “desenvolvimento sustentável”possui uma significação política importante: representa uma maneira hábil de desviar a atenção para a mudança necessária de paradigma econômico se quisermos uma real sustentabilidade. Dentro do atual, a sustentabilidade é ou retórica ou localizada ou inexistente.

L.Boff acaba de lançar o livro Sustentabilidade: o que é e o que não é pela Editora Vozes, Petropolis 2012.

31 comentários sobre “Crítica ao modelo-padrão de sustentabilidade

  1. Concordo plenamente. E é exatamente por isso que é grande a inércia para salvarmos a Terra, pois tudo tem que dar sempre muito lucro e este lucro não é bem aplicado. As soluções andam sempre muito devagar, apesar do grande avanço da ciência e da tecnologia. Estamos cada vez mais atrasados em salvar Gaia e mesmo se parássemos hoje de emitir CO2 no ar (as emissões continuam aumentando) ainda assim, a Terra sofreria um aquecimento médio em torno de 2°C até 2100, o que já é muito alto.
    A rigor, aqui no Brasil, deveríamos usar todos os recursos do pré-sal apenas para pesquisar e implantar novas fontes energéticas e aos poucos substituir todo o petróleo. Quer dizer, toda a grana do petróleo deveria ser revertida para acabar com o próprio petróleo e ser aplicada na energia solar, eólica, carros elétricos, etc. e, ainda, para salvar a floresta amazônica, que já emite mais CO2 do que é absorvido pela fotossíntese. Isto, devido ao próprio aquecimento, global, desmatamentos, principalmente para plantações de soja, pastagens e queimadas, tudo isso já influindo decisivamente nos ecossistemas terrestre, aquático e aéreo.
    Na verdade, infelizmente, o homem ainda é um escravo do dinheiro.

    Curtir

  2. O princípio prático do capitalismo é acumular capital através da obtenção do lucro financeiro, para manter ativo o poder do mercado econômico sob seu domínio. Uma vez descoberto o mecanismo de geração de capital pelo trabalho humano, que é exatamente o excedente da produção que a princípio tem como objetivo a manutenção das necessidades básicas de subsistência, e que uma vez cumprido esse papel primordial o excedente dos frutos do trabalho gera o lucro acumulado por aqueles que detêm o domínio da propriedade produtiva. É a idéia da acumulação do capital explicada por Karl Marx como a posse da mais-valia.
    O capital acumulado crescente gera o patrimônio financeiro, que é o resultado da aplicação no mercado pela aquisição de bens materiais móveis e imóveis, titulados por um determinado proprietário físico ou jurídico. A eficiência cada vez maior na aplicação dos recursos torna-se crescente quando parte do capital é aplicado na industrialização da tecnologia de produção, que seleciona no mercado o setor de produção de bens mais lucrativos, garantindo assim a especialização de diversos setores de produção controlados por alguns proprietários empresários.
    O aperfeiçoamento tecnológico da produção industrializada conduz à maximização do lucro a custa da automatização da mão de obra por máquinas, que por sua vez vem substituindo a mão de obra humana até então especializada na produção seriada. A falta de limites da automação do processo de produção industrial gera o desemprego humano. E com a geração do desemprego há uma diminuição do poder aquisitivo da população em geral, que trabalha diretamente com a mão de obra operária. Isso vem acarretar a exclusão dessa classe trabalhadora do mercado de consumo, causando o empobrecimento crescente dessa classe.

    Curtir

  3. O aumento da especulação capitalista para manter sua expansão contínua, sem limite de teto de produção de bens materiais para sustentar o crescimento do capital acumulado, transforma a estrutura social por meio de mecanismo de incentivo ao mercado consumidor pela propaganda divulgada através dos meios de comunicação humana. Então, parte do capital acumulado é utilizada para incrementar a tecnologia dos meios de comunicação, de forma a selecionar grupos de consumidores pelo poder aquisitivo a partir de uma linha que define o padrão médio como limite mínimo para a oferta dos produtos, que por sua vez irão definir as características da demanda dos produtos procurados no mercado, aliando necessidade, nível de qualidade e produtividade com lucro máximo.

    Com a seleção e controle do consumo de produtos pela manutenção da propaganda, a empresa produtora vai realizar uma seleção do público consumidor, para o qual passará a controlar os preços de mercado, de forma que a classe média e classe alta seja o alvo principal de sua política de produção. Na busca crescente de capital pela especulação, com lucros rápidos, as empresas capitalistas descobrem que investir na produção de alimentos é uma fonte muito lucrativa de capital. Novamente o capital acumulado é empregado no avanço da tecnologia agrícola de produção de alimentos, ocupando áreas de superfície terrestres cada vez maiores impondo um ritmo de produção acelerada de monocultura. Os pequenos proprietários de terras rurais, minifúndios, que praticam uma agricultura de subsistência, sofrem a pressão da produção agrícola intensiva por seus métodos, isto porque o cultivo doméstico e familiar não consegue se sustentar pela baixa produtividade e também pela interferência das técnicas intensivas e invasivas do meio ambiente, transformando o ecossistema de modo radical e afetando negativamente o meio ambiente.

    Curtir

  4. O emprego de agrotóxicos na lavoura contamina o meio de subsistência do pequeno produtor, afetando a saúde de sua produção doméstica e causando transtornos na própria saúde do agricultor. Surgem, então, problemas ambientais que contaminam todo o ecossistema, forçando a família agricultora a migrar para a vida nas favelas urbanas, criando problemas sociais e econômicos, traduzidos em aumento da mendicância, do narcotráfico e da violência urbana, além de problemas de ordem espacial pela acumulação crescente da população em geral, sem que os benefícios de infraestrutura dêem conta de atender a todos. As ocupações irregulares em encostas de morros da cidade causam o desmatamento de vales e sopés de morros, desestabilizando o terreno com construções irregulares em zonas de risco. A administração pública não consegue elaborar projetos eficientes para resolver problemas estruturais do meio urbano, daí a deterioração dos equipamentos urbanos a cada período de chuvas que causam inundações, acarretando calamidades urbanas em bairros inteiros das grandes capitais, sem falar de cidades menores que submergem em águas pluviais causadas por problemas de degradação ambiental propiciados pelo agronegócio.

    Todos conhecem a crise climática e sabem das principais causas de degradação do meio ambiente, e as informações estão se tornando mais precisas com novas pesquisas de entidades científicas respeitadas, graças às várias conferências da ONU sobre clima, biodiversidade, derretimento das geleiras dos pólos, aquecimento global, poluição ambiental etc. Enquanto o atual modelo de desenvolvimento promovido pelo capitalismo extremo, denominado de “neocapitalismo” pelos os estudiosos, continuar emitindo gases de efeito-estufa (especialmente gás carbônico – CO2 e monóxido de carbono – CO), destruindo os sumidouros de carbono, ou seja, sítios naturais de absorção desses gases, especialmente as florestas e os oceanos, a crise continuará se agravando. A agressão ecológica é de tal ordem que, de acordo com estimativas levantadas em meados de agosto 2010 por especialistas do meio ambiente, o planeta se aproximou do seu esgotamento para a sua reprodução natural. Como se isso não bastasse, o relatório do Dr. Nicholas Stern para o governo da Inglaterra, em 2006, diagnosticou que se as tendências atuais continuarem, na metade do século XXI existirá entre 150 e 200 milhões de migrantes climáticos, e os mais recentes números são ainda mais elevados.

    Curtir

  5. O que seriam esses migrantes climáticos? São as populações naturais de determinadas regiões que são obrigadas a se mudarem do local em que vivem para outras regiões menos inóspitas, pois ali a condição de vida torna-se inviável para qualquer ser humano. Nessas regiões as condições climáticas e ambientais já não mais favorecem as possibilidades de subsistência, porque os meios tecnológicos de sustentação da vida humana tornam-se impraticável pela falta de recursos naturais básicos para estabelecer alguma produção auto-sustentável. São regiões que sofrem mudanças climáticas provocadas por diversos fatores ambientais, tais como subida do nível do mar atribuído às causas do derretimento das geleiras pelo aquecimento global; desertificações causadas pela degradação sistemática do meio ambiente, que têm consequências nefastas da ação humana no planeta, onde o processo de degradação da natureza acelerou a desertificação. Em vez de aplicar recursos tecnológicos e ações que ajudassem a conservar e recuperar recursos naturais, foram tirados os últimos recursos que a região ainda possuía, para alimentar uma exploração irracional dos projetos capitalistas imediatistas. A biodiversidade é totalmente removida, com todas as consequências sobre a reprodução da vida, que antes era possível nas condições naturais do lugar, mesmo com a tendência natural da região em processo de desertificação paulatina, mas que ainda seria reversível se as administrações governamentais adotassem medidas preventivas de manutenção do ecossistema, pela adoção de leis proibitivas de ações que claramente trazem prejuízos de caráter irreversíveis para a região. Estudos para a aplicação de recursos de recomposição de biomas deteriorados deveriam ser encorajados, não só pela ação governamental, mas também pelo incentivo aos proprietários de terras que contenham características e funções naturais indispensáveis para o equilíbrio e manutenção do ecossistema.

    A especulação financeira provocada pela ganância do sistema capitalista fortalece a política bancária financista, que deposita o capital acumulado e dele aufere os rendimentos pela aplicação de taxas de juros exorbitantes aliadas a uma prática de exploração da economia extremamente capitalista, que promove basicamente a política do rendimento de juros sobre juros. O patrimônio financeiro dos bancos avança em diversos setores da sociedade empresarial, fortalecendo paulatinamente a mentalidade de que só interessa aplicar dinheiro em coisas que no mercado capitalista dê o retorno imediato. É muito comum o financiamento da produção agrícola e pecuária através de projetos de financiamento engendrados pelas instituições bancárias, que tem como finalidade única auferir lucros a partir do agronegócio, mas que não tem a mínima preocupação com os meios instrumentais que são levados a cabo as operações de intervenção ambiental para a aplicação do investimento. Embora sejam crescentes e saltam a vista os impactos danosos de projetos mal elaborados, que não possuem uma visão ambiental de médio e longo prazo, outros projetos com igual grau de intervenção danosa ao meio ambiente continuam a expandir a área de degradação, sem nenhuma medida de correção ou reparo, pelo menos em parte, da parcela dos danos causados indispensáveis para manter o ecossistema vivo. Essa mentalidade é endossada pelas políticas de governos que passam a enxergar a administração pública como uma empresa geradora de lucros materiais, e que habilmente manipulados exploram as falhas da administração pública, para facilmente converter em prestígio político as vantagens econômicas desviadas para as campanhas eleitoreiras de perpetuação de grupos de interesses no poder público, além de auferir lucros financeiros escusos para o patrimônio particular dos políticos que comandam a administração pública.

    Curtir

  6. A indústria, os Bancos e a política governamental passam a alimentar a economia fundamentada na expectativa de ganhos nas aplicações financeiras de mercado imediato, não dando mais a devida importância em promover na população as necessidades sociais básicas de desenvolvimento humano. Há um crescimento desproporcional da economia fundamentada em parâmetros de rendimentos do sistema de bancos, que tem como objetivo econômico principal manter o sistema financista em constante crescimento, e ao mesmo tempo promover a concentração da economia global no poder de reduzidas classes privilegiadas. Assim torna-se mais fácil a administração dos patrimônios financeiros pela concentração dos recursos econômicos do planeta nas mãos de poucos grupos ou corporações. Descobriram que as articulações de corporações financeiras cada vez mais poderosas podem rivalizar com os Estados, e até fazer com que a política estatal seja atrelada à política econômica dos capitais concentrados em mega-empresas, que por sua vez são estruturalmente dependentes das aplicações financeiras nos bancos, não bastando apenas à gerência estrutural das empresas no mercado produtor.

    Com a articulação da política econômica capitalista entre Bancos, Empresas e Estado, o sistema financeiro é controlado basicamente por normas internas dessas três instituições articuladas entre si, onde o valor da produção de bens materiais passa a ser regulado pela emissão de moedas no mercado financeiro, para controle dos ganhos do mercado capitalista pelos grupos dominantes. A corrida desenfreada para a obtenção dos lucros de capital a todo o custo gera desregulamentações financeiras perniciosas para a população em geral, possibilitando as inevitáveis crises financeiras e inflações absorvidas pela população a custos altos em detrimento da qualidade de vida, aumentando os bolsões de miséria em várias partes do mundo, às vezes atingindo até países inteiros. A emissão de dinheiro no mercado deveria ser regulada pelas necessidades básicas de bem estar dos seres humanos, proporcional ao trabalho gerador de riquezas materiais suficientes para manter um modus vivendi digno a cada individuo na sociedade humana. Esse modus vivendi não deveria cercear a liberdade das pessoas em sua plenitude, mas garantir a subsistência física, mental, cultural e religiosa de cada indivíduo no seu meio social, sem lhes tirar a dignidade perante aos seus semelhantes, dando-lhe a oportunidade de expressar seus valores pessoais em sintonia com os valores coletivos, sem que um cause prejuízos insuportáveis para com ambos os lados – o lado pessoal e o lado coletivo.

    Curtir

  7. Como todos podem ver, é o sistema capitalista o causador de todos os problemas conjunturais e estruturais das comunidades humanas espalhadas pelo Planeta, especialmente os problemas de ordem comportamental induzidos pelo modus vivendi da sociedade humana contemporânea capitalista. Quais seriam as possíveis alternativas para desarmar esta armadilha que o mundo vive hoje? A primeira tentativa de solução é a do próprio sistema das elites e dos governos capitalistas, que pressionados pela conjuntura social e pela crise financeira oferecem, porém sem efeito duradouro, apenas paliativo sem proposta de reais mudanças. Alguns, principalmente preocupados com a crise financeira, propuseram mudar e punir os responsáveis diretos pela corrupção do sistema, na vã esperança de que as coisas pudessem ficar sob controle. Essa é a teoria do capitalismo neoliberal positivista, que enxerga fatores positivos na crise que permitem a eliminação de elos fracos ou corrompidos do sistema capitalista, em parte para retomar o processo de acumulação em bases mais saudáveis. Se os elementos sintomáticos são alijados, mas a causa estrutural dos males permanece ativa. O sistema é a causa e logo os novos sintomas reaparecerão, tão logo os novos atores do sistema reproduzam os vícios arraigados. Evidentemente não é solução. A segunda visão é propor regulamentos que atinjam transformações estruturais e conjunturais da economia e do mercado financeiro. Não existe nenhuma outra instância fora do mercado financeiro que regule o mercado, pois ele constrói suas próprias regras e a faz valer para todos. Os próprios organismos nacionais e internacionais têm necessidade de executar essa tarefa para se manterem no domínio das situações pelas quais se sustentam. Os Estados e organizações internacionais devem ser envolvidos e responsabilizados em achar soluções viáveis, através de mudanças profundas no sistema, propondo regulamentações mais ousadas e duradouras. Mas não bastam as regulações, há também que ser engendradas novas alternativas de sistemas econômicos funcionando mais articuladamente com as necessidades reais das comunidades humanas. Aqui alternativas não estão se referindo apenas a necessidades materiais, mas principalmente propondo novas formas estruturais de produção e distribuição de rendas e riquezas, pelas quais toda a sociedade possa participar diretamente da gestão de seus próprios valores, de modo mais consciente e transparente, distribuídos mais equitativamente por uma democracia voltada para os valores sociais libertos de sistemas exploratórios e especulativos.

    A ONU propôs a criação de uma equipe internacional de especialistas em várias vertentes da economia, para acompanhar permanentemente a situação econômica mundial e encontrar alternativas que possam ser concretizadas sem provocar crises conjunturais. Na proposta há diversas recomendações tratadas para transformar radicalmente os parâmetros que regem a economia global, tais como: a erradicação dos paraísos fiscais; acabar com a especulação financeira gerada nas taxas exorbitantes de juros pelas conjunturas inflacionárias; conceder a quebra do sigilo bancário sem direito de contestação nos casos de corrupção de políticos, ou qualquer outra pessoa física ou jurídica implicada; e também, maiores requisitos de reservas bancárias e um controle mais rígido das agências de notação de crédito; conhecimento prévio das origens reais dos capitais tramitados nos bancos, por meio de um sistema eficiente de cooperação e checagem de dados e informações entre a Receita Federal e o Banco Central; ter como fundamentos novos critérios para a criação de moedas regionais fortes sustentadas por políticas sociais equitativas, em vez de ter o índice de referência padrão unicamente embasados no dólar. É fundamental rever e reestruturar o sistema financeiro e monetário, para gerar e desenvolver referências a outros aspectos valorativos estreitamente vinculados às realidades socialmente equilibradas. Tais propostas para reformar o sistema monetário e financeiro serão eficazes para superar a crise financeira atual se forem realmente pensadas nas atuais conjunturas econômicas, e partir de sua rejeição estabelecer novos paradigmas, visto que o que foi tentado até o momento não foi suficiente para vencer os desafios globais contemporâneos. Sabe-se hoje que não existe no próprio capitalismo a solução, pois esse é um sistema historicamente fracassado, mesmo que tenha ainda muitas formas de renovação e adaptação de sua mesma essência, para protelar o inevitável colapso das sociedades humanas, tão sintomáticos nas crises que se repetem.

    Curtir

  8. A geração de hoje começa a questionar o próprio modelo de desenvolvimento capitalista. Movimentações contra o sistema que não dá respostas já se fazem presentes nos grandes centros urbanos de forma pacífica e persistente, tal como a Ocupação da Wall Street, em New York, onde se localiza o centro nevrálgico do capitalismo mundial. Outros grupos já iniciaram o apoio em Londres, Madri, e até em São Paulo há alguma iniciativa dessas correntes que aos poucos vão se espalhando pelo mundo. As várias crises que foram eclodidas nos últimos tempos é resultado da lógica de uma concepção de desenvolvimento que ignora as conjunturas de ordem ambiental e social; a idéia de um planeta com recursos naturais inesgotáveis cai por terra; é desnudado o foco da concentração no valor de troca em detrimento do valor de uso ou de necessidade; a identificação das desigualdades econômicas com conseqüências diretas na degradação das classes sociais, pela má distribuição de rendas e especulação financeira com a imposição de taxas de acumulação de lucro e do capital. O crescimento exorbitante da riqueza global proporcionada pelo avanço do capitalismo no mundo, a despeito de qualquer outro valor não material, espalhou a sua natureza destrutiva na ordem organizacional das instituições tradicionais, que defendem valores humanos vinculados a uma maior qualidade de vida para o bem comum. Também é claro que alterações profundas na mentalidade humana demandam tempo de gerações para alijar a estrutura corruptora imputada no modo de pensar do homem hodierno. Isso só poderá ser iniciado se for engendrado novos parâmetros legais criados para sustentar leis comportamentais corretivas para todos, em função de mudanças de paradigmas que funcionem conforme o avanço para uma nova realidade democrática. Os benefícios das transformações tão radicais só serão vividos pelas gerações futuras, tal a ordem de complexidade que será enfrentada pelas sociedades atuais se a vontade humana for suficientemente consciente e forte para criar um ideal nessa direção.

    Curtir

  9. Sobre a lógica da racionalidade econômica do capitalismo escreve Wim Dierckxsens: “não apenas tende a negar a vida da maioria da população mundial como também destrói a vida natural.” Os estudiosos procuram discutir alternativas ao modelo econômico capitalista predominante, e também os meios para rever o próprio paradigma da vida coletiva nas sociedades humanas, contrapondo a lógica do capitalismo global que deixa rastro de destruição sem precedentes. O papel do Estado na gerência das transformações econômicas não pode mais ignorar as diferenças sociais, isto porque a vida coletiva é composta de vários elementos de base formadora da economia, e as exigências estruturais do modo de produção sempre foram e são parte da vida de toda sociedade, desde as mais antigas até as mais contemporâneas. Dentre esses elementos de base temos quatro fundamentos por onde derivam os demais: os vínculos de dependência humana na sua relação com a natureza; as transformações de ordem material produzidas pelo homem para a sustentação da vida física, cultural e espiritual; a organização político-social reproduzida pela vida coletiva; e a interpretação da realidade vivida pelas ações humanas na construção da cultura e da sociedade como um todo. Sem transformações profundas nestas bases elementares o resto das relações humanas tampouco mudará por si mesmo. Uma vez que o ser humano adquiriu consciência do mundo que o cerca e de si mesmo, há que relativizar as coisas pelo uso de sua real inteligência e descobrir como estabelecer um modus vivendi coerente e harmonioso com a continuidade da vida em escala global, procurando buscar as informações oriundas de pesquisas sérias e necessárias, porém sem negligenciar a importância das descobertas feitas em tempo de criar ações acertadas para resolver os problemas de ordem planetária, sem que se deixe ultrapassar o nível de reversibilidade dos fatores e condições que são fundamentais para perpetuação da vida no Planeta.

    Curtir

  10. Obrigado pela bela aula de macro economia. Mas, como sair dessa? Através da social democracia? Talvez, mas o tempo urge e o planeta se aquece. Temos agora que ser mais pragmáticos e partimos para as soluções. Chega de blá, blá, blá. Espero que a Rio + 20 nos dê um norte e uma aplicação rápida, tanto no que tange à macroeconomia, quando aos projetos práticos. O homem precisa urgentemente deixar de ser escravo do dinheiro, individual e coletivamente falando.

    Curtir

  11. Concordo com as colocações, se o homem não mudar a sua forma de agir em sociedade e continuar consumindo tudo igual a um gafanhoto, não sobrará nada para as próximas gerações.
    A atuais políticas de sustentabilidade e de preservação ambiental, têm se mostrado ineficientes frente ao tamanho do problema de uso dos recursos naturais.

    Curtir

  12. concordo que o modelo economico vigente não se encaixa ao conceito de sustentabilidade baseado no tripe, economicamente viável, socialmente justo e ecologicamente correto pq esse modelo é o antagônico ao conceito, uma vez que o economicamente viável não vê lucro mas viabilidade de execução ( transporte de pessoas e material p execução efetiva, uso adequado e consciente de materiais e recursos humanos e naturais etc, etc), socialmente justo pq esse modelo visa a igualdade de possibilidades e oportunidades e ecologicamente correto pq nem sempre o que é socialmente justo é ecologicamente correto ou vice versa. Penso que os paradigmas que norteiam a sociedade hoje é que devem ser revistos para esse conceito funcionar, não é o conceito q está errado mas como esta sendo olhado.

    Curtir

  13. Quanto ao tema abordado no artigo, penso que o cerne da questão repousa no egocentrismo e no materialismo, e não propriamente no antropocentrismo, pois este seria, em última instância, a natural conseqüência dos primeiros. Em outros termos, subjugar a Natureza seria, antes de tudo, uma prática egoísta e materialista, justificadas – aí sim – por uma retórica de cunho antropocêntrico. Isso parece ser um pequeno detalhe, mas creio que não é, pois se o problema fosse essencialmente antropocêntrico, a sua superação, em tese, poderia até instalar a tal ‘sustentabilidade’ da produção, com a utilização equilibrada dos recursos naturais. Todavia, esse avanço não significaria o fim da exploração humana. Por outro lado, considerando a história recente dos povos em seus ‘ismos’ (Imperialismo, Capitalismo, Socialismo) podemos observar que a pobreza e a degradação dos sistemas naturais sempre estiveram presentes, com maior ou menor intensidade. Isso, a meu ver, seria mais um indicativo da ótica (e da prática) egocêntrica e materialista dominante nas sociedades modernas – sem falar nas ‘mil guerras’ deflagradas em nome de humanismos e democracias.
    Portanto, vejo o problema como resultado de um pensar-e-agir conflituoso e egoísta, onde vigoram fundamentalismos de ordens diversas (religioso, político, econômico, midiático, etc.), enfraquecendo, cada vez mais, a dimensão espiritual – a única que pode ‘enxergar o invisível’ e dar o ‘salto quântico’ necessário.

    Curtir

  14. Como complemento ao texto e ao livro de Leonardo Boff lançado atualmente, sugiro a leitura do livro de José Eli da Veiga ( Desenvolvimento Sustentável: o desafio do século XXI). Muito interessante!

    Curtir

  15. Transformar dinheiro (que foi criado para ser utilizado como meio de troca, por ser mais prático, que os meios de troca da época) em mercadoria e a mais rentavel de todas foi a maior sacada do capitalismo. Quando surge uma crise econômica, como a atual, a primeira ação dos governos é socorrer os bancos. Portanto, é muito difícil acreditar em um novo mundo, enquanto o dinheiro for utilizada para acumulação de riqueza e não como meio de troca.

    Curtir

    • O problema não está no dinheiro! O dinheiro não pensa , é apenas um instrumento. Enquanto os indivíduos não saírem desse estado de transe que, fixa na mente coletiva a idéia de que é preciso competir, consumir, acumular e não perder o medo de ter apenas o realmente necessário e que, a cooperação é o melhor caminho andaremos em circulo tentando transformar de fora para dentro criando sistemas para forçar a adequação quando, sabemos que o ser humano não aceita ser enquadrado e sim enquadrar-se por si mesmo. O maior dos comunistas já dizia, “Amar ao próximo como a ti mesmo”.

      Curtir

  16. acho importante lembrar que os avanços tecnológicos que tem sido alcançados são feitos em prol do capital, para aumentar o lucro, a competição e a permanência do sistema, antes de qualquer benefício para a humanidade, natureza e para a ciência, é antes um propósito ideológico capitalista travestido de sustentabilidade.

    A mais, não acho que seja somente uma mudança do paradigma econômico que produzirá mudanças, mas uma ação revolucionária, radical mundial que atinja economia, política e sociedade em uma ação internacionalista, por mais utópico que gostem de dizer, diga-se de passagem, em tom pejorativo.

    Curtir

  17. Assistimos a crescende dependencia humana ao sistema cada vez mais concentrado de dominio de mercados, que torna o ser humano refém, inclusive para ter condições básicas mínimas de vida digna, de um capital ditado nos modelos financeiros, cercados em cidades que cria aberrações sociais e desequilibrios na saúde mental. Tal fato reflete a patologia do comportamento humano, onde indivíduos agridem-se mútuamente . Isolamento do individuo no seu meio social, apesar de conviver em garndes massas dentro de uma lógica de competição. Basta voltar a Goethe no èpico Fausto, tudo ja foi previsto nesta grande obra, ainda incompreendida pela massa que sofre de analfabetismo funcional. O sisitema nervoso simpático assumiu o controle das ações humanas, deixando claramente o resultado nas crescentes doenças crônicas degenerativas, amarradas a patologia crônica do comando consciente.

    Curtir

  18. eu gostei muiito dessas respostas ,por mais kii iisso naw caia muito bem na minha cábessa mais deu pra entender

    Curtir

Deixe um comentário