Quanto de barbárie existe ainda dentro de nós?

Perversidades sempre existiram na humanidade, mas hoje com a proliferação dos meios de comunicação, algumas ganham relevância e suscitam especial indignação. O caso mais clamoroso, nos inícios de maio de 2014, foi o linchamento da inocente Fabiane Maria de Jesus em Guarujá no litoral paulista. Confundida com uma sequestradora de crianças para efeito de magia negra, foi literalmente estraçalhada e linchada por uma turba de indignados.

Tal fato constitui um desafio para a compreensão, pois vivemos em sociedades ditas civilizadas e dentro delas ocorrem práticas que nos remetem aos tempos de barbárie, quando ainda não havia contrato social nem regras coletivas para garantir uma convivência minimamente humana.

Há uma tradição teórica que tentou dilucidar tal fato. Em 1895 Gustave Le Bon escreveu, quiçá por primeiro, um livro sobre a “Psicologia das massas”. Sua tese é que uma multidão, dominada pelo inconsciente, pode formar uma “alma coletiva” e passa a praticar atos perversos que, a “alma individual”, normalmente jamais praticaria. O norte-americano H. L. Melcken ainda em 1918 escreveu “A Turba” um estudo judicioso sobre o fato e mostra a identificação do grupo com um lider violento ou com uma ideologia de exclusão que ganha então um corpo própro e, sem controle, deixa irromper o bárbaro que que ainda se aninha no ser humano. Freud em 1921 retomou a questão com o seu “Psicologia das massas e a análise do eu”. Os impulsos de morte, subsistentes no ser humano, dadas certas situações coletivas, diz ele, escapam ao controle do superego (consciência, regras sociais) e aproveitam o espaço liberado para se manifestar em sua virulência. O indivíduo se sente amparado e animado pela multidão para dar vazão à violência escondida dentro dele.

A análise mais instigante foi feita pela filósofa Hannah Arendt. Em 1961 acompanhou em Jerusalém todo o processo de julgamento do criminoso nazista Adolf Eichamann por crimes contra humanidade. Arendt escreveu em 1963 um livro que irritou a muitos:”Eichmann em Jerusalém:um relato sobre a banalização do mal”. Ela cunhou a expressão “a banalização do mal”. Mostrou como a identificação com a figura do “Führer” e  as ordens dadas de cima podem levar às piores barbaridades com a consciência mais tranquila do mundo. Mas não só em Eichmann se expressa a barbárie. Também naqueles judeus que extravassavam seu ódio a ele, exigindo os piores castigos, como expressão também de um mal interno.

Que concluimos disso tudo? Que um conceito realista do ser humano deve incluir também sua desumanidade. Somos sapentes e dementes. Em outras palavras: a barbárie, o crime, o assassinato pertencem ao âmbito do humano. Demos um dia, há milhares de anos, o salto da animalidade para a humanidade, do inconsciente para o consciente, do impulso destrutivo para a civilização. Mas esse salto ainda não se completou totalmente.

Carregamos dentro de nós, latente mas sempre atuante, o impulso de morte. A religião, a moral, a educação, o trabalho civilizatório foram os meios que desenvolvemos para pôr sob controle esses demônios que nos habitam. Mas essas instâncias não detém aquela força que possa submeter tais impulsos às regras de uma civilização que procura resolver os problemas humanos com acordos e não com o recurso da violência.

Cumpre reconhecer que vigora em nós ainda muita barbárie. Não diria animalidade, pois os animais se regem por impulsos instintivos de preservação da vida e da espécie. Em nós esses impulsos perduram mas temos condições de conscientizá-los, canalizá-los para tarefas dignas, através de sublimações não destrutivas, como Freud e recentemente, o filósofo René Girard com seu “desejo mimético” positivo tanto insistiram.

Mas ambos se dão conta do caráter misterioso e desafiante da persistência desse lado sombrio (pulsão de morte em dialética com a pulsão de vida) que dramatiza a condição humana e pode levar a fatos irracionais e criminosos como o linchamento de uma pessoa inocente.

Todos pensamos nos linchadores. Mas quais seriam os sentimentos de Fabiane Maria de Jesus, sabendo-se inocente e sendo vítima da sanha da multidão que faz “justiça” com suas próprias mãos? A questão principal não é o Estado ausente e fraco ou o sentimento de impunidade. Tudo isso conta. Mas não esclarece o fato da barbaridade. Ela está em nós. E a toda hora no mundo ela ressurge com expressões inomináveis de violência, algumas reveladas pela Comissão da Verdade que analisa as torturas e as abominações praticadas por tranquilos agentes do Estado de terror, implantado no Brasil.

O ser humano é uma equação ainda não resolvida: cloaca de perversidade para usar uma expressão de Pascal e ao mesmo tempo  irradiação de bondade de uma Irmã Dulce na Bahia que aliviava os padecimentos dos mais miseráveis. Ambas realidades cabem dentro desse ser misterioso – o ser humano – que sem deixar de ser humano ainda pode ser desumano.

Temos que completar ainda o salto da barbárie para a plena humanidade. A situação violenta do mundo atual, também contra a Mãe Terra nos deixa apreensivos sobre a possibilidade de um desfecho feliz deste salto. Só mesmo um Deus nos poderá humanizar. Ele tentou mas acabou na cruz. Um dos significados da ressurreição é nos dar a esperança que ainda é possível. Mas para isso precisamos crer e esperar.

73 comentários sobre “Quanto de barbárie existe ainda dentro de nós?

    • É essa mídia cretina que te dá o direito de expor suas opiniões, amigo. Não pense desta forma. Não tente tirar a liberdade do ser humano de saber de outras cretinices ainda maiores…

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      • KKKKKKKKKKKK é a mídia cretina que DESINFORMA a maioria da população do país , por isso existe tanta gen te desinformada!!!!!!!

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  1. Fica difícil acreditar que só mesmo um deus nos poderá humanizar, pois os amigos que tenho que mais defendem essas barbaries são católicos, evangélicos e alguns espíritas. Sei que muitas vzs a igreja não tem esse controle, pois o pároco da minha comunidade é uma pessoa consciênte e super a favor dos direitos humanos, grande parte das pessoas que frequetam as missas todo Domingo são super reacionarios.

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    • Prezada Consuelo, você disse que alguns espíritas defendem essas barbáries, por favor, se você puder, diga a esses amigos “espíritas” que eles não são espíritas, pelo fato de aprovar essas barbáries, eles ainda não entenderam o quê é o Espiritismo…

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    • Consuelo, vc tocou no ponto que há muito observo, medito e discuto. Você tem toda a razão, concordo plenamente com sua reflexão. No meu modo de ver, não existe relação de causa e efeito entre religiosidade e senso de humanidade ou essas pessoas por vc citadas não são verdadeiramente religiosas, são meramente cumpridoras de deveres sociais que julgam fundamentais para a convivência e relacionamento “humanos”. Com toda imparcialidade do mundo, acho que o Jorge Erasmo tem tb toda a razão, o pouco que conheço por exemplo do kardecismo impede-me conceber que um crente espírita possa defender a violência contra quem quer que seja. Para confirmar nossas aflições, empresto-me como exemplo, sou Ateu e intransigente defensor dos direitos humanos, ontem, hoje e sempre. Acredito, na minha singela percepção, que a educação familiar diligente, cuidadora e repleta de amor neutraliza a parte demente que carregamos desde o início da vida. Não foi a religião que transformou o grande Pastor Dom Helder Câmara, mas a sua essência e espiritualidade que transformaram a religião. Cuidar do indivíduo significa cuidar da alma, do mundo, cuidar da vida em toda a sua dimensão.

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  2. Prezado Leonardo,

    Excelente texto. Tua reflexão também nos instiga a pensar sobre o referido caso. Peço permissão para tecer algumas considerações adicionais em teu blog.

    Embora a exata causa de tais episódios de profunda barbárie sejam ainda completamente desconhecidos, digamos do ponto de vista neurológico, o conceito de “impulso da morte” conforme formulado sintetiza ainda que de forma limitada uma possível causa para a ocorrência de tais episódios, onde o comportamento animal do vulgo humano manifesta-se de forma tão grotesca.

    Gostaria de complementar que a religião apoiada em uma base fundamentalista também permite a “extravasão” de tais atos destituídos de humanidade, conforme explicíto no decurso histórico.

    Talvez, a educação apoiada na moral imbuída de um forte sentimento de caridade pelo próximo nos ajude a superar tais episódios brutais. Conforme o senhor coloca, embora ambas realidades, i.e., o humano e o desumano, sobrepõem-se no indivíduo, devemos nos inspirar nos ilustre seres humanos que vira e mexe a humanidade como um todo é presenteada, e.g., São Francisco, Gandhi, irmã Dulce e tantos outros conhecidos e desconhecidos. De fato, a moral elevada de tais individuos nos serve como guia e inspiração. Ainda que de difícil alcance, devemos arduamente buscar os ideais éticos ilustrados e professados por tais ilustres mestres.

    Abraços

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  3. A Neurociência evidenciou o Cérebro Ético – uma região de nosso córtex frontal responsável por toda experiência de vivência dos valores universais positivos – somente desenvolvendo esse cérebro, seremos capazes de minimizar a barbárie que, quiçá, ainda estará dentro de nós.

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    • Somente nós podemos nos humanizar, e o exemplo foi dado, portanto não devemos transferir essa responsabilidade para Deus
      . Acho que os ditos cristãos, pertençam a qual religião ou segmento do cristianismo, deviam lembrar da cena do apedrejamento. O que Cristo fez? Apedrejou ou compreendeu seu semelhante?

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  4. Meu caro Boff, suas palavras sempre nos dão aquele toque de sabedoria e verdade. Que Deus ponha do mundo mais homens como você: cabeça pensante, espírito sábio e um coração que nos ensina que amar a Deus é fazer mover a justiça entre os homens.

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  5. A conscientização nos será plena quando nos colocarmos como pecadores indignos, incapazes de julgar e sentenciar o pecado do outro “aquele que não tem pecado, atire a primeira pedra”

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  6. Leonardo,

    Lendo seu texto, meu coração ainda que devastado pela dor sentida ao saber da bárbarie acontecida com Fabiane(não tive coragem de ver as cenas); ainda sente um pouco de esperança. Por que digo isso? Porque suas palavras, principalmente ao final do texto me convenceram: há que se crer e esperar. Também porque você me fez reler um texto belíssimo da Maria Rita Kehl sobre a Delicadeza. Ao final, ela descreve o poema de Boris Vian à respeito de um condenado à morte e que transcrevo agora: “Ils cassent le monde

    Eles quebram o mundo
    Em pedacinhos
    Eles quebram o mundo
    A marteladas
    Mas prá mim tanto faz,
    Pra mim, não faz diferença
    Ainda me sobra muito
    Sobra muito prá mim
    Basta que eu ame
    Uma pena azul
    Uma trilha de areia
    Um pássaro assustado
    A mim, basta amar
    Um capinzinho
    Uma gota de orvalho
    Um gafanhoto
    Eles que quebrem o mundo
    Em caquinhos
    Sobra muito prá mim
    Ainda sobra muito
    Terei sempre um pouco de ar
    Um filetinho de vida
    Um brilho de luz no olhar
    E o vento nas urtigas
    E mesmo se, mesmo se
    Me enfiarem na cadeia
    Sobra muito prá mim
    Ainda sobra muito
    Me contento em amar
    Essa pedra gasta
    Esses ganchos de ferro
    Onde há sangue grudado
    Eu amo, eu amo
    A madeira gasta da cama
    O estrado e a palha
    A poeira do sol
    Amo o postigo que se abre
    Esses homens que entram
    Que avançam e me levam
    Ao encontro da cor
    Amo as traves compridas
    A lâmina triangular
    Os senhores de preto
    É minha festa e me orgulho
    Eu amo, eu amo
    O cesto cheio de palha
    Onde hei de pousar a cabeça
    Ah, eu amo prá valer
    Me contento em amar
    Um ramo de erva azul
    Uma gota de orvalho
    Um pássaro assustado
    Eles quebram o mundo
    Com seus martelos pesados
    Mas ainda me sobra muito
    Sobra muito prá mim, meu amor .

    Li o poema durante vários dias após a morte de Fabiane! Uma espécie de mantra ou oração
    para que de alguma forma, o amor ainda prevaleça sobre a barbárie e a brutalidade humanas. Ainda que para Fabiane não reste mais vida, encerrada por mãos tão desumanas, que ela seja acalentada pelos braços e olhar do Pai terno e eterno!

    Um abraço esperançoso!

    Denise Coimbra

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  7. Oi. Boa análise. Exceto pelo crer e esperar. Não há o que esperar. A condição animalesca do ser humano não deixará de ser a condição do ser humano. Assim como a condição animalesca de um cachorro não deixará de ser assim só porque ele recebe alimentos, casa, etc e vive entre a humanidade. Ouvi uma história: Um gato, em cima de um muro, provocava quatro cachorros da raça Pinscher. Por azar o gato caiu do muro e morreu estraçalhado. No ser humano ainda há esse lado animalesco. Instintivo. Barbárie é um pós conceito (explicação) de algo que há em todos os seres humanos muito antes desse mesmo conceito. A barbárie foi o nome dado àqueles que estavam fora da civilização, lembra? Entretanto, quase não há mais ‘fora da civilização’ e essa característica animalesca persiste. Não há outro termo. A animalidade persiste e o ser humano pode ter a consciência que for, a capacidade de canalizar que for… assim ele não o fará. Pois ele não é bárbaro. Ele é animal. E continuará sendo, a não ser que, muitas igrejas tenham razão e ele passe a ser alma, espírito… enfim…

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  8. Republicou isso em Jrmessi's Bloge comentado:
    “uma multidão, dominada pelo inconsciente, pode formar uma “alma coletiva” e passa a praticar atos perversos que, a “alma individual”, normalmente jamais praticaria.”

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  9. Parabéns Prof.Leonardo Boff belo belíssimo escrito. Fico a refletir horas a fio sobre a violência interior do ser humano e sobre a violência das ações de estruturação de consciência coletiva assolando a humanidade a dimensões mais que brutais da barbárie. Exemplificadas de forma brilhantemente elucidativa no seu texto..
    As competições por verdades religiosas, os fundamentalismos, o machismo ainda tão marcante no seio da esquerda, a falta de respeito com a natureza a por em risco a vida no planeta, Os bodes expiatórios e os estigmas da violência praticadas por ações grupais das diversas representações da sociedade contemporânea. O desejo mimético elaborado por René Girard muito elucidativo no ato de não desejar o que pertence ao outro. O desejo vai sempre existir. O desejo insaciável de possuir bens de consumo e projeções do ter a vida do outro. Enfim, são inúmeras as violências simbólicas muitas vezes regadas de etnocentrismo cordial..A sociedade é uma farsa, um jogo de disputas pelo poder,cada persona no lugar estipulado pelo campo de força do seu time puxando o tapete de inocentes e levando seres humanos a marginalização, a destruição do seu valor de cidadão,de cidadã.” Mataram Deus”.
    Heloise Riquet- profa. de antropologia da UECE

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  10. Durante a leitura deste brilhante texto recordei-me de pequenas expressões de violência advindas de pessoas comuns. Sobretudo daquelas postagens horrendas colocadas nas redes sociais onde falam de vingança velada (por vezes aberta) para com jovens em conflito com a lei. Ou desejando morte a criminosos, que, muitas vezes são execrados sociais, que nem tiveram chance de sonhar com uma vida melhor ou diferente da que foram obrigados a escolher. Isto mostra para mim a face mais cruel do ser humano. Que esquece a possibilidade de reparação do ser humano e prefere a retributividade, o justiçamento, a vingança ao invés da construção de vidas sólidas e venturosas. Que bom que o Sr. redigiu este texto. Espero que muitas pessoas possam lê-lo. Precisamos de mais vozes lúcidas neste mundo doente!

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  11. O que se passa na mente de um ser humano é um mistério…acho que a sociedade em si pode estar influenciando para que essas situações aconteçam no cotidiano…cada vez mais o humano está mais desumano, egoísta e individualista. Minha opinião sobre tudo isso é a ausência do Estado na Educação.

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  12. Mas, por que só o Deus cristão? Mais de 2/3 da humanidade não professa o cristianismo, será que Deus não é Ecumênico e Universal? Acredito sim, que “só mesmo um Deus poderá nos humanizar”, porém não o Deus exclusivo das religiões, que também sempre nos levou aos conflitos, às guerras e até à barbárie dos suplícios e das inquisições e que, até os dias de hoje, provoca mais brigas do que acordos, mesmo dentro do cristianismo.

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    • Alexandre,
      Deus é apenas um nome para a Ultima Realidade. Ele não é cristão nem oriental. Ademais Deus não tem religião. A mim não me interessa aqui discurtir Deus mas o nivel de maldade que existe no ser humano da qual o proprio Filho de Deus foi vitima
      lboff

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      • Boff, você diz explicitamente que é o Deus cristão, tanto em seu texto, como em seu comentário.
        “Só mesmo um Deus nos poderá humanizar. Ele tentou mas acabou na cruz”
        “A mim não me interessa aqui discurtir Deus mas o nivel de maldade que existe no ser humano da qual o proprio Filho de Deus foi vitima”

        Seu texto está muito bom, só discordo do último parágrafo por dois motivos: O primeiro, porque não acredito que vamos completar nenhum salto. Considero que assim como não existe e nunca existiu plena barbárie, não existiu, nem existirá plena humanidade.
        O segundo, porque discordo que é a crença em uma divindade que nos levará a humanização, e muito menos a cristã.

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      • Patrick
        O sentido original da religião foi sempre elevar o ser humano pelas virtudes e pela altruismo. Como tudo o que são pode ficar doente, tambem as religiões, bem como nós, podemos ficar doentes. Mas não posso medir as pessoas por suas doenças mas por sua saude. Então não joguemos facilmente fora as religiões, pois sem elas a humanidade seria muito mais barbara. Mas cada um pensa o que quer.
        boff

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  13. Acho que precisamos crer e “realizar” esse Deus dentro de nós…Talvez a esperança excessiva nos leve ao comodismo. Acredito que Vamos nós ao Vosso reino seja mais real do que venha a nós o Vosso reino.

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  14. Penso que o afastamento da natureza das manifestações da vida,como conhecíamos no passado sobretudo aqueles interioranos,que tinham quintais,algumas,aves, animais ,pássaros.,tudo isso foi trocado por esses artefatos eletrônicos.,estes que roubaram a criatividade,ingenuidade,acuidade,etc.,Sobretudo dos pequenos.,estes já crescem,sem muita razão.,Agora imaginem os que vivem nas periferias,sem cuidados,condições.,Eu temo o que esta por vir.,Tomara que eu esteja enganado.

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  15. Republicou isso em Paulosisinno's Bloge comentado:
    Mais um belíssimo texto do Leonardo Boff! Segue um trecho: Cumpre reconhecer que vigora em nós ainda muita barbárie. Não diria animalidade, pois os animais se regem por impulsos instintivos de preservação da vida e da espécie. Em nós esses impulsos perduram mas temos condições de conscientizá-los, canalizá-los para tarefas dignas, através de sublimações não destrutivas, como Freud e recentemente, o filósofo René Girard com seu “desejo mimético” positivo tanto insistiram.

    Mas ambos se dão conta do caráter misterioso e desafiante da persistência desse lado sombrio (pulsão de morte em dialética com a pulsão de vida) que dramatiza a condição humana e pode levar a fatos irracionais e criminosos como o linchamento de uma pessoa inocente.

    Todos pensamos nos linchadores. Mas quais seriam os sentimentos de Fabiane Maria de Jesus, sabendo-se inocente e sendo vítima da sanha da multidão que faz “justiça” com suas próprias mãos? A questão principal não é o Estado ausente e fraco ou o sentimento de impunidade. Tudo isso conta. Mas não esclarece o fato da barbaridade. Ela está em nós. E a toda hora no mundo ela ressurge com expressões inomináveis de violência, algumas reveladas pela Comissão da Verdade que analisa as torturas e as abominações praticadas por tranquilos agentes do Estado de terror, implantado no Brasil.

    O ser humano é uma equação ainda não resolvida: cloaca de perversidade para usar uma expressão de Pascal e ao mesmo tempo irradiação de bondade de uma Irmã Dulce na Bahia que aliviava os padecimentos dos mais miseráveis. Ambas realidades cabem dentro desse ser misterioso – o ser humano – que sem deixar de ser humano ainda pode ser desumano.

    Temos que completar ainda o salto da barbárie para a plena humanidade.

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  16. Leonardo Boff, mais do que o linchamento de uma pessoa inocente, o que me escandaliza é o linchamento de uma pessoa, seja ela culpada ou inocente. Como Hannah Arendt defendeu no caso Eichmmann, o que horroriza a respeito do holocausto não foi o massacre dos judeus, mas o massacre de seres humanos, sejam eles judeus, muçulmanos, cristãos, inocentes, culpados, prostitutas, estupradores, pedófilos ou santos. Por isso, acho que antes de tudo precisamos nos questionar a respeito do nosso fracasso civilizatório que permite que ajamos dessa maneira com nossos semelhantes, independente de sua culpabilidade. Senão caímos no grave erro de aceitar linchamentos, desde que sejam contra pessoas “culpadas”.

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  17. Imprescindível a sua análise, professor Boff. Algo que me impressiona nisso tudo é nossa notória inabilidade ou impossibilidade, etnocêntrica ou subjetiva, em suspeitarmos em nós mesmos esses impulsos de demência. Para nós, desumanos e desajustados são sempre os outros, ou o outro grupo, e a rede está cheia de bons, ou maus, exemplos disso – um pouco, ou muito, dos limites da razão ocidental em geral e da epistemologia no particular? Mas não deixo de considerar também, na outra ponta, aquele relativismo que poderia me levar a considerar como aceitável, por exemplo, a recente aprovação por um conselho de ministros iraquianos sobre possibilidade de casamento de meninas de nove anos, com base, parece, numa interpretação da xaria. Lembro então do aforismo de Nietzsche: “O homem é corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar”. É curioso, para dizer o mínimo, constatar a nossa particular capacidade em transformar os recursos tecnológicos em ampla e potencial ameaça a certos marcos civilizatórios. Não falo apenas da velha questão nuclear, mas sim, e para ficar com um exemplo singelo porém potencialmente cruel, como no caso em questão, da disseminação e amplificação das informações por meio de redes. Penso que podemos estar retrocedendo em nosso périplo civilizatório, ou jornada como queiram alguns. Então a questão: podemos estar a caminho de nos tornarmos super-vermes, ou super-bestas, com o incremento e popularização de todas as ferramentas que a tecnologia nos proporciona? E não digo, esclarecendo, que o problema esteja na tecnologia, mas sim nessa irrefletida questão mal encaminhada de nossos impulsos ambivalentes potencializados sim, como nunca antes na história da humanidade, pela tecnologia a serviço de uma agenda sem qualquer compromisso.

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  18. Interessante é observar que todas as vítimas de linchamento, serão sempre inocentes uma vez que não se deu o devido processo legal e todos somos inocentes até que provém o contrário. Não podemos assumir uma postura de que o linchamento foi bárbaro por ser de uma inocente. Todo ele o será uma evidência da não civilidade.
    Não há linchamentos e “linchamentos”.

    Nenhum Deus pode nos humanizar, nós somos responsáveis por nossas escolhas nosso Deus é uma consciência social que brotará de dentro.

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  19. Essa coisas sempre existiram.Hoje é que gente grande está se preocupando com isso não por tanta preocupação com a humano mas, creo por medo de acontecer com eles.Ex: Os “corruptos”….Pense se isso cresce, e grupos começam a fazer essa prática com profissionais que usaram de ações indesejadas em suas profissões….Aí foi uma barbarie “injusta” e as guerras que os poderosos fazem matando inocentes em nome de uma liberdade imposta aos seus usos e costumes……Quanta gente morre nesse mundo pelo dominio do capitalismo.Obama acabou com as guerras?Acorda mundo.

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  20. Prezado Sr. Leonardo Boff,
    sempre admirei seus textos, aliás, continuo admirando.
    Tenho a felicidade de ter seus livros, alguns autografados, até.
    Estando espírita para tentar ser cristã, penso muito nas palavras ditas um dia, pelo então juiz, hoje desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Dr. Marcelo Anátocles que, embora reconheçamos Jesus como Mestre e nos emocionemos com a sua mensagem de amor, ainda vivemos, no âmbito do nosso sentimento, a Lei de Talião. Assim, quando assistimos uma novela, nunca torcemos para que o vilão se recupere, se regenere, se transforme moralmente. Torcemos para que ele se dê bem… mal.

    Assim, verificamos que, embora nosso campo informacional e de entendimento já tenha recebido novidades quanto a amar, respeitar, ser bom, e tantas outras coisas, isso, por si só, não é suficiente para uma mudança moral.

    É como a epidemia de dengue: há anos sabemos como evitar. Há anos temos epidemia. Resultado: informação não muda hábito.

    Mister o exercício. Mister a vivência. Por isso, para mim, humildemente, digo que se teoria fosse suficiente, não precisaríamos reencarnar. Necessário mergulhar na carne, vir para o laboratório do mundo com o qual mantemos o padrão vibratório das nossas energias, das nossas emoções, para vivenciarmos, para sentirmos, para, efetivamente, aprendermos.
    Não acertamos sempre, mas temos chance de sair desta etapa melhores do que quando chegamos. E a vida segue…, implacável, apesar das nossas condutas desumanas, tão contraditórias à nossa natureza humana, até que possamos afinar o instrumento, que é a nossa consciência, com as leis de Deus, gravadas nela. E, por fim, atendermos ao clamor do Cristo que nos convoca à perfeição.

    Obrigada pelo texto, por tudo. Sempre.
    Deus o abençoe e guie seus passos hoje e sempre!
    Fraternal abraço, Denise

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  21. Sr. Leonardo desse (comentário) tão verdadeiro sobre o desumano e humano vem fortalecer o acontecido no apedrejamento de uma prostituta nos primordios do cristianismo, onde devemos rever nossos atos. Por isso a relevância de uma consciência baseada em crermos que só a re ligação em nossa fé vai trazer a nossa realidade a consciência de que assim teremos o conhecimento para que se ententa e resolva tal situação.

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  22. concordo com Antonio Abel, a barbárie coletiva sempre existiu, o próprio Deus defendeu uma mulher de um grupo de pessoas que pretendiam apedreja-la ate a morte, as barbaridades em que grupos de soldados comandados pelo Hitler praticavam, ou por outros grandes comandantes da historia, ou ate agora em tempos atuais, com essas movimentações ocorrendo pelo mundo inteiro, acredito que 01 só pessoal não teria a coragem de sair botando fogo , ou quebrando edifícios sem o estimulo de estar em multidão, penso que acham que por estar em grupos não teram responsabilidades a arcar , podem fazer o que quiserem porque estarão protegidos pelo grupo.
    Mais não podemos esquecer que igualmente como ocorrem as barbaridades estimuladas por um grupo, também ocorrem grande feitorias em pró da humanidade, pequenos ou grandes grupos estimulados por seus participantes praticam o bem e a solidariedade

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  23. Boff obrigado pelas palavras! Estava justamente procurando uma explicação para aquilo que acho que realmente existe. O que você escreveu vai muito de encontro com o que eu penso.

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  24. Artigo muito interessante, no entanto, como o senhor mesmo disse, a barbaridade faz parte do ser humano, logo humanizar não seria bem a solução, por mais paradoxal e/ou irônico possa parecer.

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    • Aliás, quem sabe esse impulso destrutivo em tese intrínseco ao ser humano, ainda que condenado quando manifestado em situações individuais, não seja de um modo geral essencial para a evolução da espécie?

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  25. Parabéns, ótimo texto.
    Não tive estomago para ver as cenas dos maus tratos com a pobre coitada Fabiane, mãe, uma pessoa humilde como falaram, reservada, religiosa.

    Não sei o que está acontecendo, mas parece que praticar o mal virou rotina do cotidiano. A pratica não é só feita por criminosos mas por qualquer um, não se distingue mais quem é bom ou mau. Vemos na TV multidões em conflito, torcidas de futebol matando uns aos outros, com vazo sanitário na cabeça, rojões, tudo pode virar arma em mãos de pessoas que se deixam levar por emoções. Me pergunto: o que está acontecendo de fato? Outro dia, um amigo fez questão de me mostrar no celular o último vídeo “engraçado” que estava viralizando as redes ‘sociais’. Se tratava de um indivíduo, norte americano, dando um chute enorme em um gato, e depois ficou festejando com os amigos como se fosse um herói, -por ter maltratado o animal indefeso? Fazendo desgraça pros outros rir? Que absurdo. Além de outros vídeos, é claro, são de enorme mal gosto, chamados de ‘humor negro’ onde, pelo meu ponto de vista, não servem para nada além de detectar pessoas com espirito do mal.
    A maldade está em por tudo, voltamos aos tempos medievais, o público está sedentos por sangue. Por agonia, reviravolta. A TV alimenta o subconsciente dos fracos nutrindo-os com notícias de bandidagem á toda hora. Quando chega o momento de se deparar com a violência, o povo faz o que aprendeu na TV. Filma, compartilha o terror. Depois ri.

    “Freud em 1921 retomou a questão com o seu “Psicologia das massas e a análise do eu”. Os impulsos de morte, subsistentes no ser humano, dadas certas situações coletivas, diz ele, escapam ao controle do superego (consciência, regras sociais) e aproveitam o espaço liberado para se manifestar em sua virulência. O indivíduo se sente amparado e animado pela multidão para dar vazão à violência escondida dentro dele.”

    Esta vazão pela violência, são as convenções sociais esmagadoras, as normas, os regimes o sistema que escraviza o ser humano, que este está a procura de liberdade, nem que se faça na força, na guerra. O humano está cansado da rotina da escravidão política, do sistema imposto. Até mesmo os animais bovinos vivem melhor que humanos obrigados ao trabalho não devidamente recompensado, reconhecido. Também muitas vezes a recompensa em dinheiro trás apenas o materialismo, que este também não serve para acalmar os impulsos da violência interior.

    O mal está dentro de mim, dentro de vc, de todos nós. Temos que ser fortes para combate-lo, espantar os instintos selvagens. A consciência terá que evoluir.

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  26. Que beleza de artigo. O trecho “O indivíduo se sente amparado e animado pela multidão para dar vazão à violência escondida dentro dele” é, com certeza, uma explicação sobre o que acontece, muitas vezes, em estádios de futebol.
    Parabéns Sr. Boff.

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  27. Exatamente isto: quanto mais tecnologia e ciência, mais estamos distanciando da razão. parece que o efeito é inverso…o certo seria ficarmos mnais humanos, compreendendo a vida, as pessoas, mas o que ocorre é estarmos ficando menos humanizados e mais secos, coração de vidro, olhar de gelo e mãos de fera. A ciência está distanciando o homem de sua essência? Ou o homem é que está usando a ciência para justificar seu instinto animal?Onde está o sentimento espiritualista e desprendido que leva o homem até sua superação e excelência? Há tempos escuto palestras que colocam oa necessidade de se preocupar mais com o ser do que ter…, porém, resta perguntar: SER EXATAMENTE O QUÊ? o homem moderno pensa que É QUANDO QUER FAZER JUSTIÇA COM SUAS PRÓPRIAS MÃOS E PENSA QUE TEM poder, para justificar o que não é justo. Certo é que o poder das massas já levou países a guerras, destruições e suicídios…

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  28. Excelente texto, somente uma observação, “devemos crer e FAZER DIFERENTE” e não somente “crer e esperar”

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  29. texto maravilhoso, respostas também creio que se observarmos passagens do Evangelho, encontramos bastante exemplos para melhorarmos a humanidade, más cada um deve fazer sua parcela de contribuição, ficarmos só observando não vale, vamos a arregaçar as mangas e trabalhar

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  30. Ei desculpe ir contra a opnião de vcs mas se vcs perceberem deus não existe é simplesmente um simbolo q alguem falou e todos acreditaram e ainda levan isso ate hj

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  31. Boa noite, Leonardo. Primeiramente gostaria de dizer-lhe que estou feliz por ter encontrado esta via de contato com você aqui. Admiro seu pensamento desde o tempo quando a Teologia da Libertação era semeada em nosso país, admiro sobretudo sua coerência de vida e coragem. Eu acredito que a dimensão divina no homem seja algo essencial até mesmo para esta busca de um conhecimento de si e de consciência destes processos primitivos que muitas vezes impelem-no para a barbárie. Acho seu pensamento acima importante, ao não vincular a ideia de Deus a uma religião específica, ou às religiões. Como bem disse, Deus não depende das religiões. Penso que a barbárie também cometida por pessoas ditas religiosas não tem nada a ver com Deus, mas é apenas um reflexo desta “besta que nos habita” (como dizia Platão). Gostaria de dizer tantas coisas refletindo sobre seus escritos, sobre suas posturas. Mas, não é este o momento, apenas fica o meu comentário breve sobre o que li acima. Obrigado. Ronaldo Lebre.

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  32. Mr Boff o que tem de existir é que admitamos que:
    Na hora da barbárie, de uma turba revoltada, estaremos de que lado… Aquele que incitou? Aquele que não incitou, mas ao ouvir um grito de MÁTA!, foi o primeiro a tacar uma pedra. Aquele que ficou pedindo pelamordeDeus, parem! aquele que ficou indiferente, ou com uma câmera a filmar tudo. Eu, Você, todos nós. Seríamos quem na hora que uma multidão enfurecida estiver querendo fazer a justiça pelas próprias mãos.

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    • Massega
      No projeto de vida pessoal devemos excluir todo tipo de violência. Rondon, aquele dos indígenas e tambem dom Helder tinham como lema:antes morrer do que matar. Sei que temos impulsos dia-bolicos em nós. Mas os sim-bolicos devem mante-los dominados e não deixar que toamem a consciência. se isso ocorrer ai sim ocorrem os linchamentos e outras barbaridades.
      lboff

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  33. Observem um trecho da frase inicial; “Perversidades sempre existiram na humanidade, mas hoje com a proliferação dos meios de comunicação, algumas ganham relevância…” Não sou nenhum especialista, mas acredito que a mídia, de um modo geral, (e que todos sabemos é comprada para difundir interesses e idéias na maioria das vezes não tão nobres assim) dá um espaço muito grande a violência, na busca de audiência… Tenho medo disso !!! Vejo as pessoas pelas ruas repetindo coisas que ouviram na TV, que leram nos Jornais e, mais recentemente, que acompanham pela internet… Temos que ser mais críticos, investigar, procurar saber a verdade, para não engolir ou aceitar passivamente tudo que nos empurram. Texto maravilhoso !!!

    ANTONIO CARLOS

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  34. Não sei se estou certo, mas a impressão é que falta em nossa sociedade praticar a ética da reciprocidade, requisito fundamental a boa convivência social, e que, em tese, tende a promover o ajustamento dos indivíduos segundo a lógica de direitos e deveres. Aqui no Brasil, infelizmente, poucos têm muitos direitos e poucos deveres, e muitos têm muitos deveres e poucos direitos. Com efeito, e considerando o laissez-faire do momento, não vejo psicanálise no mundo que seja capaz de dar conta de tamanha crise social.

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  35. Caríssimo Leonardo, Sem que se perca tempo e acreditando que assiste Aparecida ao vivo desde cedo, poderia também sugerir, não em áudio como feito, um nome sem maldade ou malícia: o medo que está do que está dentro do outro a respeito de nós. Abraço fraterno e muita paz. Paula Torres Oliveira. Date: Tue, 20 May 2014 02:55:49 +0000 To: p.angel.torres@hotmail.com

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  36. Sábio Leonardo, obrigado por compartilhar suas idéias sobre os mistérios da vida, sempre um aprendizado. Se acreditasse na figura do ídolo vc seria de um contingente, mas graças a sua lucidez, em resposta a pergunta de Kennedy de Alencar, aprendi finalmente que o ídolo é uma farsa. Mas seguir a verdade ínsita no indivíduo traduz uma adoração simbólica, o bem atrai a todos.
    Tema difícil esse abordado por vc, reporto-me ao que respondi acima a sua leitora Consuelo Nery.
    Acho que é impossível entender a complexidade humana, a extensão das essências dia-bólica e sim-bólica, mas creio que a “construção” de um indivíduo dotado de humanidade tem de passar obrigatoriamente pelo caminho da ternura. O sim-bólico está em nós mas fortalecê-lo, torná-lo a principal fonte de inspiração do ser depende única e exclusivamente do amor nutrido no seio familiar, Deus talvez esteja aí.
    Toda paz do mundo!

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  37. Querido Leonardo e querida(o)s comentaristas,

    É tão bom ler os textos de Leonardo em conjunto com os textos dos comentaristas, pois ficamos revendo nossas idéias iniciais e encontramos partes do que entendemos, do que acreditamos.

    O que D nos escreve (sobre a necessidade de entrar na carne, experienciar), o que Carlos Augusto Machado (sobre o culto à tecnologia) e o que vários reforçaram que informação passada pela mídia é mimetizada e reproduzida nos conduz às simbologias, significados e culturas.

    Entretanto, ainda estamos olhando para o indivíduo como se ele fosse a fonte de escolhas, decisões, ações e rumos. O que Leonardo nos remete é que ações coletivas podem ser tomadas e que não o seriam se fosse individuais. Ele focaliza a ação dita perversa da psicologia das massas.

    Só que quanto mais juntamos análises em escalas microbiota do corpo humano, a escala da persona síntese de significados e corpo e espírito, a escala dos grupos sem interação, a escala dos grupos com interação e interdependência construída e contratualizada em movimentos, sindicatos, organizações, a escala das instituições legitimadas cultural, econômica, jurídica e politicamente nos ditos ‘Mercados’, nos Estados (nacionais e subnacionais), nos Tratados Internacionais e Órgãos Multilaterais, simplesmente vemos que não bastam análises psicológicas, mas precisamos de análises sociológicas e análises biológicas, geográficas, radiestésicas e físico-químicas.

    A (des)ordem é recursivamente a realidade. Se ao olharmos só para frente, ou só para trás ou só para o lado direito ou só para o lado esquerdo, ou só para cima, ou só para baixo, todos juntos olhando em só uma direção (imaginem a cena) não nos solidarizamos e não construimos a unidade. Só ao nos sentirmos parte de algo, ao simples toque humano, respeitamos a dignidade da existência livre de todos os seres para que possam criar, expressar e por serem livres respeitam a liberdade do outro ser livre. Cada vez mais vejo sentido em Liberdade, Igualdade e Fraternidade serem indissociáveis.

    A mídia século XX e XXI é o culto à Liberdade, por vezes a Fraternidade baseada no indivíduo fazendo escolhas. Entretanto, a Igualdade baseada em Equidade é uma agenda necessária para uma real Liberdade e uma real Fraternidade e tal Equidade não é dos Homens e das Mulheres, mas toda a Mãe Terra com seus recursos, suas pulsões, suas vidas. A Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade em praxis nos emancipa e nos coloca em um olhar Uno.

    Ao me distanciar da lista de produtos a conquistar, das coisas a consumir, encontro o meu Eu-Nós perdido.

    Um fraterno abraço coletivo e social, não um a um, agradecida pela inspiração de Leonardo Boff e de todos os comentaristas.

    Patricia Almeida Ashley
    Rede EConsCiencia e Ecopoliticas – http://www.ecopoliticas.uff.br
    Universidade Federal Fluminense

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  38. Muito Interessante o conteúdo do texto lido, aliás, ao dissertar sobre a questão da guilhotina, fazendo um pequeno paralelo sobre a ânsia de muitas pessoas em assistirem tal fato, ficou a pergunta – por quê? Será que existe um prazer em ver o outro sofrer? Onde se situa a comoção? Muitos dos meus alunos diziam-se chocados… O caso do linchamento também causou indignação, mas não tanta quanto a guilhotina, pois afinal as pessoas iam assistir por que queriam…. Então indaguei: “Ora, que diferença temos se podemos assistir em casa a hora que quisermos via you tube?” Afinal, mudaram-se os meios, mas o instinto ainda permanece…

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  39. Recriminar o ódio dos judeus contra os nazistas é fácil quando nenhum de seus queridos foi vítima do nazismo. Fale de seu próximo apenas após calçar suas sandálias.

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