Que Brasil queremos: justo ou apenas rico?

A exaltação dos ânimos nos partidos e na sociedade nos dificultam discernir o que está, efetivamente, em jogo: que Brasil queremos? Um país justo ou um país rico? Logicamente o ideal seria termos um país justo e simultaneamente rico. Mas os caminhos que escolhemos para este propósito são diferentes. Uns o impedem, outros o possibilitam.

Se quisermos que seja justo devemos optar pelo caminho da democracia republicana, quer dizer, colocar o bem geral de todos acima do bem particular. A consequência é que haverá mais políticas sociais que atendem os mais vulneráveis diminuindo assim a nossa perversa desigualdade social. Em outras palavras, haverá mais justiça social, mais participação nos bens disponíveis e com isso uma diminuição da violência. Foi o que fez o governo Lula-Dilma tirando da fome e da miséria cerca de 36 milhões de pessoas junto com outros programas sociais.

Se quisermos um país rico optamos pela democracia liberal (que guarda traços de sua origem burguesa) dentro do modo de produção capitalista ou neoliberal. O neoliberalismo coloca o bem privado acima do bem comum. Em função disso, prefere investimentos em grandes projetos e dar facilidades às indústrias para que sejam eficientes e que consigam conquistar consumidores para seus produtos. Os pobres não são esquecidos mas apenas recebem políticas pobres.

Thomas Piketty mostrou em seu livro O Capitalismo no século XXI que o melhor caminho jamais excogitado para se alcançar ariqueza é o capitalismo. Mas reconhece que lá onde ele se instala, logo se introduzem desigualdades, pois ele é montado para acumulação privada e não para a distribuição da renda. Mostra-o melhor em seu outro livro A economia da desigualdade (Intrínseca 2015). Em outras palavras, as desigualdades são injustiças sociais, pois a riqueza é feita gerando pobreza: impõe arrocho salarial, ajustes econômicos que prejudicam as políticas sociais e laborais e dificulta a ascensão das classes do andar de baixo. Predomina a concorrência e não a solidariedade. O mercado comanda a política, pratica-se a privatização de bens públicos e o Estado mínimo não deve intervir, cabendo-lhe a segurança e a garantia dos serviços básicos.

E mais: a busca desenfreada da riqueza de alguns implica a exploração dos bens e serviços naturais hoje quase exauridos a ponto de termos tocado os limites físicos da Terra. Um planeta limitado não  suporta um crescimento ilimitado de riqueza. Precisamos de quase uma Terra e meia para atendermos as demandas humanas, o que a torna insustentável, inviabilizando a própria reprodução do sistema do capital.

A macroeconomia capitalista é imposta pelos países centrais, especialmente pelos os USA, como forma de controle e de alinhamento forçado de todos às estratégias imperiais. Mas como observou o macroeconomista da Universidade de Oregon, defensor do capitalismo, Mark Thoma, agora ele já não funciona mais, pois a crise sistêmica atual parece insolvente. A ordem capitalista está conhecendo o seu limite.

Qual é o pomo de discórdia na política atual no Brasil? A oposição optou pela macroeconomia neoliberal. Líderes da oposição proclamam que os salários são altos demais, que toda a Petrobrás bem como o Banco do Brasil, a Caixa e os Correios deveriam ser privatizados. Já conhecemos esta fórmula. Ela é cruel para os pobres e danosa para os trabalhadores, pois favorece a acumulação e assim as desigualdades sociais. O capitalismo é bom para os capitalistas mas ruim para a maioria da população. A riqueza não pode ser feita à custa da pobreza e da injustice social.

Acresce ainda um elemento geopolítico que não cabe aqui detalhar. Os USA não toleram uma potência emergente como o Brasil, associada aos BRICS e à China que mais e mais penetra na América Latina. Há que desestabilizar os governos progressistas e populares com a difamação da política e de seus líderes.

O PT e os partidos e grupos progressistas querem o caminho da democracia republicana e participativa. Visam a garantir as conquistas sociais e alargá-las. Não é nada seguro que a vitória do neoliberalismo vai mantê-las,  pois obedece à outra lógica, a do capital que é a maximalização dos lucros.

O atual governo busca um caminho próprio na economia e na política internacional, com a consciência de que, dentro de pouco, a economia mundial será principalmente de base ecológica. Aí emergiremos como uma potência, capaz de ser a mesa posta para as fomes e as sedes do mundo inteiro. Esse dado não pode ser desconsiderado. Mas a centralidade mesmo será superar a vergonhosa desigualdade social, a pobreza e a miséria com políticas sociais com acento na saúde e na educação.

A oposição ferrenha ao governo Lula-Dilma tem como motor propulsor a liquidação deste projeto republicano pois lhe custa aceitar a ascenção dos pobres e de sua participação na vida social.

Mas é este projeto que responde à angústia que devorava Celso Furtado durante toda sua vida: “por que o Brasil sendo tão rico, é pobre e com tantas virtualidades continua atrasado”? A resposta dada por Lula-Dilma mitiga a queixa de Celso Furtado é boa não só para os pobres mas para todos.

Compreender esta questão é entender o foco central da crise política brasileira que subjaz às demais crises.

*Leonardo Boff é articulista do JB on line, ecologosita e escritor

28 comentários sobre “Que Brasil queremos: justo ou apenas rico?

  1. Na minha humilde opinião não existem modelos ideológicos no mundo real. O que existe são influências dos ideais/teorias socialistas ou capitalistas que são aplicadas ao mundo real. Um país como a Finlândia ou Suécia possuem muitas políticas e medidas sociais exemplares que buscam equilibrar as diferenças sociais, mas nem por isso deixam de adotar uma economia de mercado neo-liberal em diversos outros setores da economia principalmente. Não existem um só modelo bem sucedido no mundo em que o Socialismo ideológico tenha tido êxito. Concordo que o Capitalismo “Selvagem” também seria nocivo a qualquer nação, mas também não consigo identificar um país onde essa teoria tenha sido aplicado a seu extremo. O Brasil irá se desenvolver somente se houver equilíbrio econômico-social tendo uma economia forte e pujante e ao mesmo tempo políticas sociais sustentáveis de longo prazo não limitadas somente ao assistencialismo de curto-prazo. O PT está no governo já há mais de 13 anos e é difícil acreditar que realmente tenhamos conseguido evoluir socialmente, tendo em vista o nível da educação oferecida (uma das piores do mundo), a vergonhosa situação do atendimento a saúde, o aumento da violência urbana e insegurança, e agora a economia que está gerando cada vez mais desemprego. O que dizem ter sido feito parece ter sido insuficiente ou muito mais “midiático” do que efetivo. Questiono também a sustentabilidade das políticas sociais implementadas, que sabidamente eram necessárias, mas muito mais assistencialistas e de curto prazo (bolsa família, minha casa minha vida, etc…) , como uma aspirina para uma “doença” muito mais grava e que não resolve a raíz do problema. O Brasil teve oportunidades de “ouro” com o “boom” das commodities e da economia Global e não soube aproveitar o momento. Vivemos agora uma grave crise econômica e não me parece que o governo atual possui a competência necessária para seguirmos adiante. Isso tudo sem contar o evidente “descalabro” com o dever e regras públicas (LEI) que esse governo desprezou sem qualquer pudor. O seu argumento para justificar a permanência de um governo corrupto (considerando que a justiça irá PROVAR que é o que acredito !), não me parece ser o mais lógico, e se assemelha ao mesmo princípio da ditadura, da censura, da repressão, ou mesmo de uma guerra, onde se busca justificar o fim por meios bastante obscuros.

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  2. A resposta é simples lulla.dillma montaram uma estrutura de poder baseada no desvio sistemático dos recursos públicos, mentiras repetidas, absoluta irresponsabilidade fiscal e de planejamento, aliada à COMPRA de votos e conciências no parlamento. O assalto crônico ENRIQUECEU lulla & cia é só ver os dados da Fortes. A prática danos à atingiu o cúmulo gerando o desemprego e recessão. Tudo isso está sendo revelado dia a dia na Lava Jato. Então o país terá que se reconstruir e os ladrões de todos matizes serem presos. Não há outra saída. O resto é mimimi de quem vem mamando sem cessar.

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    • Cabelos brancos pelo visto não é sinônimo de sabedoria. Quando o sr. estava na puberdade, já havia corrupção. Por favor, não tenha apenas os veículos de massa como a sua única fonte de informação e verás que abrirá a sua mente para esse teatro, pois estão querendo fazer do governo Dilma, aquela cena da tv globo, em que policiais invadem o morro e bandidos fogem em Hilux, acabando com o tráfico naquela região. Doce ilusão.
      Para haver um primeiro passo para mudança, deveríamos acabar com o foro privilegiado e fazer a verdadeira reforma política que os senadores e deputados federais não deixam acontecer. Essa guerra vem de uma classe burguesa, que se apoia na massa que depende do caos para sobreviver, a exemplo do Judiciário, forças de repressão, etc. Toda essa guerra é pelo pré-sal, para vender o nosso petróleo à preço de banana. Tirar um presidente por pedalada fiscal, é golpe. É usar o judiciário a favor do interesse burguês. Sr. Mario Real, quando o seu nome estiver numa lápide e a sua atitude estúpida estiver entre as linhas dos livros de história¹. talvez alguém da sua futura geração possa ver isso e ver quão burro era o seu antepassado. Eu poderia escrever mais, porém acho que só eu mesmo li sua postagem ridícula.
      1. História. de que acreditou no conto da Carochinha, e o povo brasileiro entrega o seu próprio patrimônio nas mãos de ladrões em parceria com os EUA.

      Como você mesmo diz em SUA FRASE PESSOAL “Sou hum anos falível”. Diz muito. rs.

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  3. Republicou isso em luveredase comentado:
    Qual é o pomo de discórdia na política atual no Brasil? A oposição optou pela macroeconomia neoliberal. Líderes da oposição proclamam que os salários são altos demais, que toda a Petrobrás bem como o Banco do Brasil, a Caixa e os Correios deveriam ser privatizados. Já conhecemos esta fórmula. Ela é cruel para os pobres e danosa para os trabalhadores, pois favorece a acumulação e assim as desigualdades sociais. O capitalismo é bom para os capitalistas mas ruim para a maioria da população. A riqueza não pode ser feita à custa da pobreza e da injustice social.

    Acresce ainda um elemento geopolítico que não cabe aqui detalhar. Os USA não toleram uma potência emergente como o Brasil, associada aos BRICS e à China que mais e mais penetra na América Latina. Há que desestabilizar os governos progressistas e populares com a difamação da política e de seus líderes.

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  4. Gostei e gosto de ler seus textos muito reais sobre a crise do Brasil em que estamos vivendo. Pena que as pessoas são alienadas, vão mais pela mídia, pela Globo e etc.
    Nilza

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  5. Não reconheço esse governo descrito acima…

    Aqui na Amazônia houve um recrudescimento brutal de homicídios de ambientalistas e uma aliança nefasta do capital para devastação da Amazônia e seus povos…

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  6. Um dos melhores comentários que já li:Esclarecedor,realista e imparcial.Enquanto lia imagens relacionadas ao texto passavam pela minha cabeça como se estivesse lendo um romance.

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  7. Penso que essa onda de impeachment, reivindicada por parte da população, não é propriamente um protesto contra a corrupção, mas sim o resultado de insatisfações e frustrações gestadas ao longo de anos, e que foram canalizadas por uma poderosa oposição elitista (grandes empresários nacionais e estrangeiros, grande mídia e partidos de oposição). Além disso, percebo que um grande número de pessoas de nossa sociedade apresenta-se, sem se dar conta, como corrupta ou potencialmente corrupta, repetindo em off, mas com assustadora naturalidade, coisas do tipo “se eu estivesse lá, eu faria a mesma coisa”.
    Mas, então, qual seria o motivo dessa onda? A meu ver, e partindo do que disse anteriormente, a incidência ininterrupta e cruel de várias insatisfações e frustrações, por um longo período de tempo, à luz das expectativas felizes e coloridas criadas pelo sistema fez-nos frágil em nossa dignidade, em nossa condição humana. Perdemos a têmpera! Quando somos recordistas em número de assassinatos, morremos um pouco; quando temos um crescente contingente de miseráveis jogados nas ruas, morremos um pouco; quando esperamos longamente nas filas de hospitais para sermos atendidos, morremos um pouco; quando trapaceamos, morremos um pouco; quando somos trapaceados, morremos um pouco; e assim vai, de pouquinho em pouquinho, morrendo todo dia um pouco mais. E nesse processo de “falência múltipla dos órgãos” somos presas fáceis para as mentiras moléstias de mídias e elites egoístas, fazendo-nos gritar, de forma impensável, pelo impeachment, seja lá o que isso signifique.
    Mas passado o efeito do grito, mais frustrações e desapontamentos…mais morte no espírito.
    Espero eu estar errado e que o impeachment não se concretize, pois ainda que eu não concorde com diversas medidas do atual governo, esse nosso pequeno período democrático tem que ter servido para alguma coisa, nem que seja para poupar o nosso sistema eleitoral.

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  8. COMO SEMPRE FAÇO MINHAS TUAS PALAVRAS.

    “Por que o Brasil sendo tão rico, é pobre e com tantas virtualidades continua atrasado”

    Primeiramente, porque o Brasil não prepara homens para os cargos, mas oferece cargos a homens que sem nenhum preparo assumem funções de governadores, prefeitos, senadores, deputados, vereadores e altos cargos, onde seus ocupantes perdem-se na ganancia e na corrupção; e, enquanto isso, o povo brasileiro vive em agonia, onde cada um de nós assisti atônito o ruir dos nossos sonhos de vivermos num pais melhor, onde não impere a desigualdade, pois os governos anteriores não solucionaram o imenso problema da fome, da Educação, da Saúde e da Segurança.

    É que os homens se apoiam em homens que com suas leis favorecem apenas a si mesmo, e com suas parcas inteligências esses mesmos homens não se apoiam na moral, e na ética, e as maravilhas só são acessíveis a quem dispõe de recursos financeiros e altos cargos.

    Hoje vemos o Brasil afogado na corrupção, onde o mesmo político que a pratica quer aprovar medidas que irão reduzir ainda mais o acesso das populações carentes a cesta básica, tentando derrubar o programa fome zero e o bolsa família instituído no governo Lula. O Lula foi o único Presidente que se preocupou com os menos favorecidos, e a Presidenta Dilma tenta dar continuidade a essa política. No entanto, o que vemos hoje é um Pais dividido por partidos, tentando a oposição aplicar um golpe covarde de impeachment, sem nenhuma base legal.

    Se o que nos une fosse tão mais forte do que aquilo que nos distingue ou separa não haveria divergências, tão pouco separação e todos os partidos se uniriam no afã de um Brasil melhor. Assim, talvez, encontraríamos a paz no Palácio do Planalto, e no Brasil, pois a paz é um estado de alma que realiza a serenidade unindo os homens numa só fraternidade, onde o único objetivo deveria ser o engrandecimento deste País, “forte, impávido e colosso.

    Talvez os governantes devessem aprender a usar de um sentimento chamado compaixão, em vez de tentar apenas derrubar o atual governo, para que as pequenas diferenças entre as vestimentas que cobrem nossos débeis corpos, e entre nossos partidos políticos, e entre nossas imperfeitas leis, e entre nossas insensatas opiniões não sejam sinais de perseguição a atual Presidenta, e sim de união.

    Talvez precisemos reescrever a nossa história, reinventando uma nova ordem onde a corrupção fosse punida com cadeia e devolução dos recursos financeiros usurpados do nosso País.

    Lourdes Bernadete C.Bispo

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  9. A oposição ferrenha ao governo Lula-Dilma tem como motor propulsor a liquidação deste projeto republicano pois lhe custa aceitar a ascensão dos pobres e de sua participação na vida social…Me desculpe mas infelizmente acho que essa retórica é a mesma dos opositores do governo, só muda o discurso…o que me assusta é a falta do olhar daqueles que estão aqui nas cidades pequenas, municípios que receberam toda carga de responsabilidade do que se promete na escala federal e não ajudam ,só ficam na propaganda, o próprio frei Betto em uma entrevista escreveu isso, deixaram um plano de governo para um plano de PODER, distribuíram bens de consumo e não bens de ganho social, o governo faz uma bela propaganda e aqui na ponta nós não recebemos o que nos é devido para cumprir o que é dito na propaganda. um pequeno exemplo Eles dizem que todas as mulheres acima de 40 anos tem direito pelo SUS a mamografia, nos enviam dinheiro para 20 vagas, sendo que o município tem mais de 200 vagas, ai o município cobre mais 60 avags com o que pode tirar de seu orçamento apertado, e ai…as mulheres chegam nas UBS fervendo dizendo que o prefeito está dinheiro porque viram na televisão que elas tem direito e o Governo federal manda dinheiro para isso!!!! Aqui não é uma visão politica,mas simplesmente fatos reais!!!

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  10. Sou a favor de um país justo baseado numa democracia republicana. Assim deverá respeitar as diferenças e dar apoio às necessidades básicas da população. Para responder à sua questão final sugiro: Investir em Educação e deixar de lado teorias educacionais que só estão interessadas em apresentar resultados rápidos e números para satisfazer investidores. Os estudantes precisam ser aprovados se realmente apresentam o conhecimento exigido naquela etapa de ensino. O que está acontecendo nas redes públicas de ensino e em algumas particulares é que a criança conclui as séries iniciais do ensino fundamental sem saber escrever, ler, compreender um texto, memorizar uma tabuada e realizar as quatro operações fundamentais porque para tais teorias isso é relevante não precisa ser cobrado do aluno, ele pode aprender depois… Mas, se ele não aprende na escola quem vai ensinar? Depois vira até piada. Como a dos amigos que não sabiam dividir 36 por 4 e acabam pagando mais pela conta do restaurante porque um deles aproveitou-se da ignorância dos outros 3. O que eu quero dizer é que o Brasil precisa ser mais honesto consigo mesmo e saber que para ter um diploma é preciso estudar. E não é o que está acontecendo no Brasil infelizmente. Há muito o que fazer e qualquer investimento em Educação leva anos para surtir um resultado satisfatório.

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  11. Por que dividir os brasileiros entre nos e eles? Nao eh cristao fazer isso! somos brasileiros e o governo Dilma jogou o pais nas trevas, por que ela nao sabe administrar e governar!!!! Queremos que ela saia do governo que muitas vezes parece irritada e sem interesse!

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    • Renata, a divisão não é entre nós e eles, mas entre ricos e pobres, entre aqueles que não se incomodam com a perpetuação da pobreza pois veem seus privilegios garantidos e aqueles que acham desumano e cruel deixar milhóes de brasileiros passando fome, num pais que poderia ser tão rico como citei de Celso Furtado e que vc talvez nem deu importância. Vc está sendo reducionista ou talvez nunca entrou numa favela (há mais de 300 no Rio e umas 500 em S.Paulo) ou nunca sentiu como é dolorosa a fome e vendo a criança morrendo porque não tem como ir o médico ou comprar o remédio. Há momentos na vida que temos estar de um lado, o certo, pois no juizo final não é Deus que nos vai julgar mais os pobres e famintos, aqueles que Jesus chamou de ¨meus imãos e irmãs menores”. Melhore sua leitura do mundo e escolha de que lado vc quer ficar: lboff

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  12. Concordo que dentro do conceito de justiça social urge a manutenção e ampliação das políticas progressistas relacionadas a questão da distribuição de renda para a massa trabalhadora. Mas gostaria muito que recebesse o mesmo nível de prioridade, o combate à impunidade no país, desde o cidadão que pratica delitos no trânsito, transeuntes que sujam a via pública, pessoas que furtem água, electricidade para abusar do ar-condicionado ou aumentar o lucro da empresa, donos de bares. que de forma flagrante contrariam a lei utilizando as calçadas como espaço para ampliação de seus salões até servidores públicos de todos os escalões que utilizam-se do poder da caneta em favor da pessoalidade e policiais que forjam autos de resistência para praticar a justiça com as próprias mãos, entre tantas outras situações condenáveis. Sem isso, equacionar a situação financeira das pessoas conseguirá atingir um resultado importante, que é banir os problemas que o dinheiro pode resolver. Entretanto, que tipo de sociedade emergirá, se a principal premissa de sua base for a justiça material, desacompanhada de valores humanísticos e éticos? Minha preocupação é de ver acontecer uma mera inversão de papéis, onde o oprimido ganhe poderes para derrubar o opressor, ocupando seu lugar para utilizar os mesmos métodos. Pessoalmente, anseio por uma renda melhor, definitivamente. Contudo, acredito ser preciso impedir, hoje, a formação de um ciclo vicioso, enquanto este ainda é apenas uma tendência.

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  13. Acompanho quase sempre tuas publicações e, algumas vezes, as compartilho. Admiro por demais tua postura e convicção comunista. És o tipo de líder que o povo brasileiro precisa ouvir, ler. Teu histórico na luta contra a opressão dispensa qualquer outro elogio que eu possa cunhar…
    Nunca me manifestei aqui em relação aos teus textos, pois sempre dizias aquilo que eu esperava ouvir. A falta de tempo devido à vida corrida de professor também me podava. Mas hoje resolvi questiona-te…
    Durante a campanha de segundo turno da presidente Dilma fui assíduo leitor dos teus escritos. Compartilhei alguns. Na verdade foi só aí que, por acaso, encontrei o teu blog, que até hoje sigo. Durante esta crise política ‘inseminada’ pela burguesia nesta pátria ‘puta’ acostumada à exploração, não tive a oportunidade de tempo para ouvir-te, mas estou aqui, agora, diante de um texto magnífico, como sempre, que diz tudo o que eu espero ouvir de ti, mais uma vez… Mas dessa vez algo me deixa perplexo… Veja bem: sou filiado ao PSOL, mas minha primeira filiação era o PSTU, não é que eu seja tão radical como pensam de tais partidos, mas é que o sonho PTista, para mim, acabou quanto deixamos (é que durante minha infância eu vestia a camisa mesmo) de ser um partido socialista e assinamos junto ao PL, PMDB e outros partidos burgueses um compromisso tão neoliberal quanto os citados por ti acima. Mas talvez agora me pergunte por que compartilhei os teus textos e votei em Dilma no segundo turno. É simples: dos neoliberais o governo Lula/Dilma foi o que mais beneficiou os pobres. Isso basta, não? Então, por que questiono tal governo agora deve ser sua interrogação… Quero deixar claro aqui que não sou a favor do impeachment e muito menos da perseguição tucana ao Lula, que ao meu ponto de vista foi o melhor presidente neoliberal que esse país já teve. Meu questionamento é em relação à sua postura PTista inabalável, mesmo sabendo que este é um partido que pode até sonhar ainda com o socialismo, mas que tendo feito acordos com o ‘demônio’(capital) jamais poderá libertar nossa pátria do julgo imperialista norte-americano/europeu.
    Tento pensar conforme as teses da Ação Popular Socialista (APS), mas ao mesmo tempo fico muito incomodado com a sua falta de posição em relação ao golpe tucano/PMDBista que ameaça nossa nação. Não que eu esteja defendendo aqui o governo do PT, mas defendo sim a nossa nação de um tucanato com suas privatizações e ainda muito ‘bem’ acompanhados do PMDB… Isso é lógico que é mil vezes pior!
    Enfim, resumo o meu questionamento: como podes com um discurso socialista manter-te fiel a um partido neoliberal? Incógnitas desta natureza enlouquecem mentes jovens que sonham com um mundo melhor, socialista, comunista, e que precisam de líderes, de exemplos, de uma ideologia e discursos que não sejam em si contraditórios.

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    • Charles, agradeço seu texto. Mas é necessário fazer algumas precisões. Primeiro nunca fui comunista, mas sim sou por um democracia sem fim, expressão suprema do socialismo ético e político. Em segundo lugar nunca fui filiado ao PT. No meu blog vc encontra duras críticas ao partido. Estimo que partido é sempre parte. E eu,como intelectual, estou interessado no todo e não pela parte. Assumi a defesa não do PT mas da causa que ele representa, pela primeira vez na história: os humilhados e desprezados de nossa cultura feita de Casa Grande conseguiram furar a barreira e chegar ao poder e dar-lhe outro sentido, republicano, colocando as questões sociais dos pobres no seu centro. Isso está dentro de minha opção teologica e politica que é a opção pelos pobres contra a pobreza e a favor da vida e da libertação. Vi e continuo a ver, não obstante os erros e corrupções, um partido que leva esta causa avante. Quem dos partidos no passao se lembrou dos pobres? Eles não só foram esquecidos mas cotinuam humilhados e desprezados. Há um ódo disseminado contra os pobres. O PT neste sentido é instrumento de um projeto que dá centralidade aos invisíveis da sociedade. Eles não são classe média.Apenas sairam da miséria vergonhosa para uma pobreza laboriosa.E o PT apenas atendeu necessidades básicas, criou consumidores, mas não cidadões críticos que pensam. Faltou desenvolver o capital social que é educação, saúde, transporte razoável e busca de cultura. Não devemos esquecer que esse país é dominado por 71 mil multiricos que controlam mais da metade do PIB e não possuem nenhuma sensibilidade social. A nossa sociedade é uma das mais malvadas do mundo. Enquanto não nos livrarmos desses dominadores, aliados ao sistema financeiro e aos banscos, nunca teremos um futuro de justiça e de socialidade.Abraço lboff

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  14. Agradeço sua atenção, e quanto ao “comunista”, me desculpe. É que compreendo o socialismo como sendo o caminho à libertação do trabalhador, que a meu ver só será alcançada quando o mundo se tornar comunista e o homem passar a ser dono, de verdade, do seu trabalho… Mas digo comunista não da forma como vimos as poucas tentativas que existiram no mundo, mas um comunismo que respeite o ideal de democracia, liberdade e acima de tudo o amor e a verdade, o que é algo muito distante da humanidade, que como o senhor mesmo diz são consumidores e não cidadãos críticos… Compreendi seu posicionamento político socialista (não comunista) e mais uma vez o parabenizo por sua postura crítica e sempre humanizadora…

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