A construção de uma Frente Ampla Democrática: L.A.Gomez de Souza

Luiz Alberto Gomez de Souza é um dos nossos mais brilhantes intelectuais católicos. Militou nos movimentos universitários católicos. Exilou-se. Ao voltar, junto com o Betinho, se dedicou a um processo de conscientização da sociedade civil. Possui boa formação teológica, a ponto de a PUC-SP dar-lhe um doutor honoris causa em Ciências da Religião. Publicou vários livros importantes sobre a relação da Igreja em diálogo com o mundo moderno, sobre o Concílio Vaticano II e inumeráveis e excelentes artigos de reflexão política e ética. Trabalhou em vários organismos internacionais como a FAO e outros. No Brasil foi diretor do CERIS da CNBB e na Universidade Cândido Mendes coordenava um centro de altos estudos de diálogo fé e ciências. Publicamos este artigo por ser objetivo e por manter viva a esperança que nasce de uma espiritualidade de características evangélicas e cristãs. LBoff

Nas últimas semanas, vivemos um certo movimento de tomada de consciência cidadã. Houve como que um despertar de alguns setores da população, que se deram conta de um perigo iminente. É o que se chamou uma possível virada eleitoral. Expressiva nas grandes cidades, com pessoas de todas as idades, mas particularmente entre jovens e mulheres. Tempo curto, que não impediu a derrota de nosso candidato Haddad, mas que mostrou um movimento saudável na sociedade e que poderá servir para desenhar um caminho futuro. Pela rua, no momento da votação, aqui no Rio, havia um grande número de botons 13, de pessoas de uma alegria contagiante. Do outro lado, uma certa perplexidade, diante de uma vitória que já não parecia tão fragorosa. Mesmo assim, foi uma ampla maioria, de cerca de 12%. Em São Paulo, ela foi enorme. Ali nasceram PT e PSDB, assim como fortes movimentos sindicais. E agora é o centro do conservadorismo. Em plano nacional, em relação às últimas pesquisas, foi caindo a diferença entre os dois candidatos, mas não levou a uma inversão no resultado final. Há como que dois brasis, o do nordeste, onde ganhou Haddad e as outras regiões. Temos, neste momento, alguns ingredientes básicos com que preparar um programa de ação política para o futuro.

Não posso deixar de lembrar, no passado, dois momentos traumáticos para o país: a eleição de Jânio e sua vassoura e de Collor com a denúncia dos marajás, dois presidentes sem equilíbrio nem apoio político. Receberam o voto de setores de classe média, como agora, pendentes de um discurso anticorrupção. Uma ética necessária virava um moralismo simplificador e enganoso. Aliás, a falta de ética desses dois presidentes foi ficando evidente, na vida privada e pública. Estaremos repetindo o mesmo erro, com os mesmos apoios?

Bolsonaro aproveitou o terrível atentado para posar como vítima ou para eximir-se de debater e de apresentar um programa de governo minimamente coerente. E então, assim, jornalistas a soldo, se lançaram como abutres contra a dupla democrática. Lembremos a valentia de Manuela diante de perguntas mal intencionadas num programa roda viva. Ou no mesmo programa a clareza de estadista de Fernando Haddad. Antes, ele fora agredido com violência por uma dupla raivosa, que não fazia perguntas mas desfiava acusações sem prova.

Gostaria de refletir sobre o que está acontecendo no país. Vivemos um tempo de divisão profunda, marcada pela intolerância, e, inclusive há que dizer, com a contribuição apaixonada de companheiros de nosso lado. Famílias, amigos, colegas, entraram em choque e ficou difícil a convivência. A sociedade adoeceu. Como recuperar o que os ingleses chamam sanity? Há uma lição a tirar para nosso lado democrático. Não podemos cair na síndrome paralisante da decepção e da derrota. Mas, principalmente, não deveríamos reagir com agressividade e rancor, por mais que pudesse haver razão de sobra, ao descobrir um trabalho criminoso de falseamento da realidade e de construção de slogans absurdos.

O curioso é que muitos votaram em Bolsonaro em nome do novo na política. Incrível a falta de memória. Esse cidadão foi deputado em mais de uma legislatura, obscuro, imerso há tempos no grupo informe do chamado baixo clero. Apareceu para a opinião pública naquela noite lamentável, capitaneada vingativamente por Eduardo Cunha, no encaminhamento do impeachment de Dilma Rousseff. Ali, na sua declaração, fez uma incrível homenagem a um dos maiores torturadores dos tempos da ditadura. Procurando descobrir sua atuação nas votações na Câmara, vemos que estava sempre ao lado do chamado grupo da bala, daquele do boi e de um fundamentalismo religioso. Nada mais velho e caduco.

Assusta ver pessoas inteligentes e de boa vontade dizerem coisas insensatas e sem provas, afirmando que o país correria o risco de se tornar uma nova Venezuela, ou que seria invadido por médicos cubanos doutrinadores. Ou invocando um inexistente “kit gay”. Ao tentar desmanchar esses equívocos, muitas vezes nos temos deparado com um semblante rígido e inexpressivo, incapaz de entrar num contraditório. Fiéis de igrejas pentecostais votam no que os pastores ordenam, considerando que só eles dizem a verdade. O diálogo torna-se quase impossível.

Há dois tipos de eleitores bolsonarescos. Uns, que tem a mesma síndrome violenta do candidato e que agridem adversários, odeiam negros e gays ou são de um machismo espantoso. Aí, pelo momento, há pouco a fazer, a não ser denunciar uma síndrome de destruição, que surge em todos as ocasiões que viram nascer o nazismo e o fascismo. Temos de apelar aos psiquiatras e aos psicólogos e lembrar com eles, Karen Horney e sua mentalidade neurótica de nosso tempo, ou o medo da liberdade de Eric Fromm. Joel Birman tem desocultado com maestria essa enfermidade coletiva.

Mas há outra parte dos que votaram Bolsonaro, que absorveu acriticamente notícias falsas ou deturpadas, difundidas pelos meios de comunicação ou por púlpitos. Com esses temos de preparar o caminho para um diálogo. Há que provar que realmente aceitamos o pluralismo e que estamos dispostos inclusive a rever nossas próprias posições. Tudo num clima de abertura e de simplicidade. Habermas falava da força da argumentação, e ela vale nos dois sentidos.

É preciso aprender com a história, nas vitórias, e especialmente nas derrotas. O grande poeta Antonio Machado, em 1939 partindo para o exílio, onde morreria logo depois, escreveu melancolicamente: “A história não caminha no ritmo de nossa impaciência”. Mas a resposta vem mais adiante, em 1973, na intervenção pela radio Magallanes de Salvador Allende. Vendo os aviões voar baixinho para bombardear o Palácio da Moneda e ouvindo Allende despedir-se, baixou-nos num primeiro momento uma enorme tristeza e uma sensação de impotência. Porém disse o presidente: “Más temprano que tarde volverá el pueblo a las grandes alamedas… La historia es nuestra, la hacen los pueblos”. Suas palavras foram retiradas do ar pela fúria dos vencedores. Mas nos trouxeram alento e esperança.

Tempos depois da derrota, alguns partidos de diferentes tendências criaram a Concertação, que elegeria os primeiros presidentes democratas. Eu estava em Santiago mais adiante, voltei à Moneda restaurada, atravessei comovido o pátio de los naranjos, convidado para almoçar ali pelo secretário-geral da presidência, que voltara do exílio. E no canto da praça, um busto de Allende estava voltado para a janela de onde tantas vezes ele se dirigira a seu povo. Na base, trechos de sua última alocução. Mais tarde, quando Ricardo Lagos tomou posse como presidente democraticamente eleito, entrou pela porta da rua Morandé, por onde chegava Allende, e que tinha sido taipada pela ditadura, foi até a sala de onde ele se tirou a vida e depositou ali uma rosa vermelha. E o corpo de Allende voltou a Santiago, atravessou a Alameda Bernardo O’Higgins, onde um povo comovido o acolheu em silêncio.

Tudo isso para dizer que a história pode redimir-se de seus tropeços. Sentimos isso, fortemente, os que retornamos ao Brasil entre 1977 e 1979.

Volto à atualidade. Passada a eleição, é hora de preparar um novo processo. Não deveria ser possível ressuscitar velhos ajustes de contas, nem fazer cobranças, mas é indispensável lembrar fatos nem sempre agradáveis de ouvir. Aqui seria necessária uma grande abertura, grandeza e sentido uma revisão histórica positiva. Temos uma realidade complexa pela frente.

Criou-se, certamente construído em bases falsas, um clima antipetista violento. Porém o próprio partido não sai totalmente absolvido. Faz muitos anos, Tarso Genro, então presidente interino, propôs sua refundação, no tempo dos escândalos do mensalão. Não foi ouvido. Depois, vieram mais denúncias, infundadas ou não. Talvez por culpa de alguns dirigentes, o partido passou um ar de arrogância e de incapacidade para confessar falhas. E não se abriu a uma aliança, em igualdade de condições, com outros partidos e políticos. Por isso, num momento futuro, o PT não tem condições de ser o catalizador de uma nova aliança, mas certamente será um dos membros principais desse processo.

A construção de uma frente deveria ser fruto de uma concertação em várias direções, como no Chile. O PCdoB tem dado um exemplo, colocando-se disciplinadamente nas alianças. Manuela d’Ávila deu um lindo sinal de firmeza e de discreção. Flávio Dino, reeleito largamente no primeiro turno, entrou de cheio da campanha de Haddad, ele que, na primeira eleição, viu dirigentes petistas apoiarem Roseana Sarney, agora uma vez mais derrotada. O PSOL, que sai com uma expressiva votação em Marcelo Freixo, teria de abrir-se a alianças, o que não conseguira fazer na eleição municipal, que levou o incompetente Crivella à prefeitura carioca. Assim por diante, são lições a tirar, sem mágoas, mas sem esquecer a dureza implacável dos fatos.

Podemos elencar deputados eleitos, que podem ajudar a costurar essa grande aliança: Alessandro Molon, Paulo Teixeira, Luíza Erundina, Jandira Feghali, Jean Wyllys e tantos outros que talvez eu esteja esquecendo. Temos senadores como Paulo Paim ou Jacques Wagner. E inclusive políticos excelentes que foram varridos pelo tsunami eleitoral, como Eduardo Suplicy, Jorge Viana, Dilma Rousseff, à frente em sondagens no começo do período eleitoral ou outros com boas raízes, como Lindbergh Farias, Chico Alencar e Roberto Requião.

É de prever que o futuro governo poderá ser errático, entre militares nacionalistas e economistas privatistas, com um presidente meio perdido no meio. Medidas draconianas poderão fazer perder avanços históricos populares, nosso petróleo seguirá sendo rifado, como está fazendo este atual governo liliputiano. Poderão crescer setores de repressão, à sombra de uma nova doutrina de segurança nacional. O que parece provável é que, por um desgoverno, o presidente caia mais adiante, vítima de suas contradições e de sua incapacidade. Poderá haver pela frente o terrível risco de uma intervenção militar. Ou então, teríamos, por um tempo, uma ciranda de governos fracos. Sem uma reforma política – e este parlamento será capaz de fazê-la? – nos espera um futuro bastante incerto. A não ser que, lenta, mas firmemente, se vá afirmando a tão sonhada Frente Ampla Democrática, Popular e Nacional.

Escrevendo este texto, depois dos foguetes e dos gritos de vitória, saiu de uma janela vizinha a voz de Chico Buarque: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. Assim seja.

Dichiarazione di voto per la Democrazia e per Fernando Haddad

Dichiarazione di voto per la Democrazia e per Fernando Haddad

Leonardo Boff*

Vengo dalla Teologia della Liberazione che ha come asse fondamentale l’opzione per i poveri, contro la povertà e a favore della giustizia sociale e della liberazione.

Nello spettro politico Brasiliano, non vedo nessun partito politico eccetto il PT che abbia dato tanta centralità ai poveri e alle minoranze politiche che sono, in verità maggioranze numeriche come neri/e, nativi, abitanti dei Quilombos e dei socialmente discriminati per la loro condizione sessuale e altri. Viaggiando, per lavoro, attraverso molti territori e osservando gruppi popolari poveri, ho sentito molte volte dalla loro bocca: Lula è stato l’unico che ha pensato a noi e ci ha dato l’opportunità di uscire dalla fame e dalla miseria.

Ecco qui la mia principale ragione per votare la coppia Fernando Haddad e la vice Manuela d’Ávila, per portare avanti questo progetto sociale veramente messianico: soccorrere gli affamati, garantire che nessuno muoia prima del tempo e fare giustizia agli oppressi e a quelli che sono diventati invisibili.

Si mugugna che il PT si è macchiato di corruzione, non il PT nel suo insieme, ma alcuni leader importanti tra le fila del suo governo. La corruzione ha attraversato tutti i partiti, con qualche rara eccezione. In altri partiti si contano corrotti più che nel PT. Tutto questo deve essere riconosciuto e, se identificata, specialmente per l’arricchimento personale la corruzione deve essere severamente punita.

Ma facciamo giustizia alla verità dei fatti: la maxi-corruzione che sfiora tutta la nostra storia e continua fino ad oggi è l’evasione fiscale. Dall’anno passato ad oggi, sotto Temer fino al 09 agosto 2018 sono stati evasi direttamente o per esenzione fiscale dalle imprese e dalle Banche, circa 450 miliardi di reais. Sono dati del procuratore del Ministero delle Finanze.

Che significa tutto questo? Che tutta la corruzione nella Petrobras e nelle grandi imprese è stata di circa 40 miliardi di Reais, cioè ci fa capire la sproporzione tra una corruzione naturalizzata e l’altra per finanziare soprattutto campagne elettorali.

Tutte e due fanno male al paese, sottraendo risorse destinate a migliorare la vita del popolo.

Una ricerca condotta dal Senatore Paim, fatta con risorse tecniche del Senato stesso, è arrivata alla stessa conclusione. Se questo debito fosse saldato, non sarebbe necessario fare la riforma della Previdenza e nemmeno stabilire un tetto ai costi per la sanità e per l’istruzione.

Il giudice Sergio Moro, tanto zelante nel combattere la corruzione, perché non corre dietro a questo tipo di corruzione maggiore, facile da scoprirsi altamente negatrice del bene comune?

Tra molti argomenti io ne sfodero a favore di Haddad-Manuela, soltanto uno a favore di Haddad: si tratta di un uomo sensibile alla sofferenza umana, competente amministratore, con eccellente formazione accademica, dottore in filosofia (viva Platone che voleva un filosofo come capo dello Stato), laureato in diritto e economia. Lui ha saputo abbassarsi al livello del popolo per ascoltare il grido degli oppressi e fare politiche che facessero smettere quel grido. Una simile sensibilità vale anche per la vice Manuela d’Ávila, che ha lavorato con i più poveri di Porto Alegre.

La maggior crisi di umanità, maggiore di quella economica, politica, culturale e morale, già lo diceva Betinho e lo ripete a ogni momento Papa Francesco: è la mancanza di sensibilità di esseri umani verso gli altri umani.

Questa sensibilità Fernando Haddad l’ha dimostrata quando era ministro dell’Educazione e poi come Prefetto di São Paulo, con le politiche sociali e educazionali da tutti riconosciute.

Gravemente insensibile si è dimostrato il candidato Jair Bolsonaro. Tra i tanti esempi, scegliamo il seguente. Quando le donne in lacrime cercavano di avere i resti mortali, almeno qualche osso dei loro cari figli e figlie, assassinati o spariti, Bolsonaro rispose: “chi cerca ossi sono i cani” risposta che oltre ad essere una innominabile offesa a quelle donne, dimostrando il suo livello di mancanza di sensibilità e la più profonda disumanità…

Per questa e altre ragioni, il mio voto è per Fernando Haddad e Manuela d’Ávila che avranno come primo impegno quello di riconciliare il paese e riscattare un minimo di sensibilità ―il diritto del cuore―per metter su un governo che sia come diceva Gandhi un gesto amoroso verso il popolo e la cura della casa comune.

*Leonardo Boff, filosofo, teologo e scrittore. Petropolis, 24.X.2018.

Traduzione di Romano Baraglia & Lidia Arato

Declaración de voto por la Democracia y por Fernando Haddad

Brasil  está amenazado por una candidatura presidencial por  ex-capitán del ejército Jair Bolsonaro que anunca una politica francamente fascista, homofógico, misógeno, defensor de la tortura y perseguidor de los LGBT, despreciador de indígenas y descendientes de la esclavitud (quilombolas) y demás negros (la mayoría de la población) y establecer esta alternativa a quién se opone a él: o el carcel o el exilio.Nunca hubo en nuestra historia tal radicalismo de tipo nazista (venera le figura de Hitler). Sería una desgracia para el país, para América Latina, con repercución en el mundo democrático en general. Por eso hay un esfurzo inmenso para que el candidato democrático Fernando Haddad (del PT), pueda, en el último instante, vencer las elecciones, apesar de que tiene todavía una signficativa diferencia con su oponiente. Mantenemos la esperanza de que el pueblo sepa no eligir a su opresor. En momentos asi un teólogo no puede callar y tiene que denunciar el fascismo y anunciar la democracia, como el bien politico más significativo de nuestra história mundial. En este sentido publico aquí m iapoyo al candidato de la democracia Fernando Haddad: LBoff

DECLARACIÓN DE VOTO POR FERNANDO HADDAD

Vengo de la Teología de la Liberación que tiene como eje fundamental la opción por los pobres, contra su pobreza y a favor de la justicia social y la liberación.

En el espectro político brasilero no veo ningún partido, a no ser el PT, que haya dado tanta centralidad a los pobres y a las minorías políticas que son, en realidad, mayorías numéricas como los negros/as, indígenas, quilombolas, los socialmente discriminados por su condición sexual y otros. Andando por el interior y entre los grupos populares pobres, en función de mi trabajo, oí muchas veces de su boca: Lula fue el único que pensó en nosotros y nos dio oportunidades para salir del hambre y de la miseria.

Aquí está mi razón principal razón para votar a la candidatura de Fernando Haddad y la Vice Manuela D’Ávila, para llevar adelante ese proyecto social verdaderamente mesiánico: atender al hambriento, garantizar que no muera antes de tiempo y hacer justicia a los oprimidos y a los invisibilizados. Se critica que el PT ha sido corrupto. No el PT como un todo, sino líderes importantes de alto rango de su gobierno. La corrupción atravesó a todos los partidos, con excepción de unos pocos. Otros partidos se han corrompido hasta más que el PT. Esto debe ser reconocido y cuando se identifica esa corrupción, especialmente al servicio del enriquecimiento personal, debe ser severamente castigada.

Pero hagamos justicia a la verdad de los hechos: la maxi-corrupción que atraviesa toda nuestra historia y que continúa hasta hoy día es la evasión fiscal. Desde el año pasado hasta aquí, con Temer hasta el 9/8/2018, fueron evadidos directamente o por exención fiscal a las empresas y bancos cerca de 450 mil millones de reales; son datos de los Procuradores de la Hacienda Nacional.

¿Qué significa eso? Que toda la corrupción en Petrobrás y en las grandes empresas fue de unos 40 mil millones de reales, es por lo tanto el 10% de la corrupción total. Esto no justifica la corrupción, pero nos hace entender la desproporción absurda entre una corrupción naturalizada y otra para financiar principalmente campañas electorales. Ambas hacen mal al país y le quitan recursos que podrían mejorar la vida del pueblo.

Una investigación conducida por el Senador Paim, hecha con los recursos técnicos del propio Senado, llegó a la misma conclusión. En el caso de que esta deuda fuera cobrada, no se necesitaría hacer la reforma de la Seguridad Social ni establecer un techo de gastos para la salud y la educación.

El juez Sérgio Moro, tan celoso en combatir la corrupción, ¿por qué no corre detrás de este tipo de corrupción mayor, detectable y altamente negadora del bien común?

Entre otros muchos argumentos en favor de Haddad-Manuela, aduciré solamente uno. En el caso de Haddad, se trata de un hombre sensible al sufrimiento humano, competente administrador, con excelente formación académica, doctor en filosofía (viva Platón que quería un filósofo como jefe del Estado), formado en derecho y economía. Supo bajarse al nivel del pueblo para escuchar el grito del oprimido y hacer políticas que lo hicieran dejar de gritar. Sensibilidad semejante vale también para la Vice Manuela Dávila, trabajando con los más pobres de Porto Alegre.

La mayor crisis de la humanidad y de Brasil mayor que la económica, política, cultural y moral, ya lo decía Betinho ( él que  primero organizó el movimiento contra el hambre) y lo repite en todo momento el Papa Francisco: es la falta de sensibilidad de los seres humanos hacia otros seres humanos.

Esta sensibilidad de Fernando Haddad quedó demostrada, cuando era Ministro de Educación y luego como Alcalde de São Paulo, con las políticas sociales y educativas reconocidas por todos.

Gravemente insensible se mostró el candidato Jair Bolsonaro con el que sigue, entre otros tantos ejemplos. Cuando las mujeres que, entre lágrimas, buscaban restos, o al menos algunos huesos de sus seres queridos asesinados o desaparecidos, Bolsonaro les dijo: “Quien busca huesos es el perro”. Además de ser una ofensa sin nombre a estas personas, mostró su nivel de falta de sensibilidad y de la más profunda inhumanidad.

Por estas y otras razones, mi voto es para Fernando Haddad y Manuela D ‘Avila que tendrán como primera misión reconciliar el país y recuperar la sensibilidad mínima ―los derechos del corazón― para ejercer un gobierno que sea, al decir de Gandhi, un gesto amoroso para con el pueblo y el cuidado de la cosa común.

* Leonardo Boff, teólogo, filósofo y escritor.

Petrópolis-RJ, 24 de octubre de 2018.

 

Traducción de Mª José Gavito Milano

L’ANTI-PETISMO: LA CREAZIONE DI UN CAPRO ESPIATORIO

René Girard (1923-2015), pensatore e filosofo francese,  l’uomo più saggio che io abbia conosciuto in vita mia, che è stato dalla parte dei teologi della liberazione nel 1970, ha dedicato la sua vasta opera a studiare la violenza, soprattutto al bisogno di una società di creare un capro espiatorio (vedere Il capro espiatorio, 1982). Con questo meccanismo del capro espiatorio, la popolazione è indotta a scaricare la corruzione, che sta diffusa e concentrata nei grandi corrotti e corruttori, sul groppone di uno solo, del PT, allo scopo di nascondere la corruzione stessa e con questo tutta la società passa a dimenticare i veri corrotti e a pensare che essa si trova soltanto nel PT sul quale si rovescia tutta la rabbia e l’odio. È come un capro espiatorio, già testimoniato dalla Bibbia. Gli ebrei buttavano addosso a un capro tutti i peccati e le malefatte del popolo e costringevano il capro a rifugiarsi nel deserto per espiare e a morire di fame. E riti simili li ritroviamo in quasi tutte le società antiche.

Da noi c’è stato un tempo in cui il capro espiatorio erano i sovversivi, poi i comunisti (questo persiste), in seguito i giovani neri delle favelas, descritti come legati ad azioni criminose e a droghe, i gay e quelli della LBCT. Su di loro viene trasferita la violenza presente nella società. In questo momento il capro espiatorio sono  PT e Lula. A loro viene attribuita tutta la corruzione, anche se tutti i partiti, alcuni più che il PT, hanno partecipato alla corruzione.

Con l’appoggio della macchina repressiva dello Stato, di buona parte del Pubblico Ministero, non esclusa una parte del STF, della classe media, specialmente dei media privati la corruzione è stata trattata in modo selettivo. Sul  PT si butta tutta la colpa dei mali attuali  del Brasile, mentre gli attori principali spariscono e creano un capro espiatorio.

Ma quello che sta davvero dietro all’antipetismo, col pretesto  della lotta alla corruzione è l’odio verso l’ex-presidente Lula, un operaio che è riuscito a entrare nella stanza dei bottoni. La classe dominante e le oligarchie tradizionali, che hanno ereditato il modo di pensare della Casa Grande, mai hanno digerito che qualcuno della Senzala arrivasse al Planalto. Hanno coltivato e coltivano ancora odio e disprezzo per i poveri, odio e disprezzo un tempo riservati  agli schiavi. Come può un povero frequentare il loro stesso spazio sociale: nella scuola, all’Università, allo shopping, sugli aerei? Questi erano spazi riservati esclusivamente agli arricchiti, sempre vissuti nel privilegio, senza il minimo sentimento di uguaglianza di tutti, base di qualsiasi democrazia. Da aggiungere ancora quelli che mai hanno riconosciuto umanità e dignità umana nei poveri, nei neri e nelle nere, per non dire dei nativi e degli abitanti dei Quilombos.

Ora questo odio latente nelle oligarchie, ha infiltrato parte della classe media spaventata, ha contaminato, non senza l’aiuto  delle chiese neo-pentecostali televisive parte della popolazione povera.

È qui che risiede la radice ultima dell’anti-petismo. C’è odio e rabbia stratificati in gente che si dice “dabbene” e si professano cristiani. È un cristianesimo puramente culturale, di facciata, ma eticamente anti-cristiano. I media  commerciali che mai sono sono andati d’accordo con la democrazia e che nutrono un sovrano disprezzo per il “il popolaccio” o “popolino” o “feccia” nell’espressione tecnica – provocatoria di Jessé De Souza, ha giocato un ruolo decisivo   nella diffusione dell’anti-petismo e dell’odio.

Per l’anti-petismo si sono avvalsi di tutti i mezzi, basta vedere i blogs, i twitter e i face-book, per non parlare dell’incontrollabile mezzo che è il whatsapp che ha creato uffici di diffamazione e fake news contro i PT e il candidato Haddad. Ora sappiamo che  milioni di messaggi falsi sono stati finanziati da imprese private, comportamento che, secondo la nuova legislazione è crimine di seconda fascia.

Ma questa è la politica basata sul concetto di capro espiatorio, politica di odio e aggressione  all’altro. Così come esiste il bullismo nelle scuole, ora il bullismo collettivo è contro il PT. E’ necessario  resistere a questa ignominia. La società tutta deve fare la revisione dei suoi anti-valori della sua corruzione quotidiana.

Il sindacato dei Procuratori della Fazenda (SINDPROFAZ) comunica che fino al 18/9/2018, circa 450 miliardi di reais sono stati evasi, soprattutto dalle grandi imprese. Negli ultimi dieci anni queste hanno evaso   1.8 trilioni di reais. Questa non è corruzione alla grande? Chi la contrasta? Che fa il Pubblico Ministero e lo stesso STF? Se anche solo in parte questo denaro fosse acquisito non sarebbe necessario fare nessuna riforma della Previdenza. È più facile e comodo creare un capro espiatorio, il PT,  e subito nascondere la corruzione che invade la società perfino nel tentativo quotidiano di corrompere poliziotti di passaggio. Noi rifiutiamo questa logica del capro espiatorio, perché è selettiva, ingiusta, disumana e profondamente anti-etica come denunciava sempre René Girard.

*Leonardo Boff  filosofo, teologo e co-editore deli libro

René Girard “René Girard con i teologi della liberazione” .

Traduzione di Romano Baraglia  e Lidia Arato