“Amazônia, santuário intangível da Casa Comum”

Nestes tempos em que se está realizando em Roma o Sínodo Panamazônico, muitos grupos se manifestam e enviam suas petições ou comentários ao grupo central, responsável pela redação do documento final. Um desses, creio, dos mais impressionantes vem de grupos indígenas sul-americanos com mais de 400 subscrições de lideranças indígenas, de bispos e outros expertos do bioma amazônico. O texto chegou às mãos do Papa pelo bispo Dom Evaristo Spengler da ilha do Marajó que se notabilizou, anteriormente, por uma extraordinária intervenção na fase preparatória.Lboff

Este é o texto

               “Amazônia, santuário intangível da Casa Comum”

“Saudamos a realização do Sínodo Panamazônico, uma extraordinária iniciativa do Papa Francisco pela qual esta importante asembléia colegial pode ver a problemática, analizar e avaliar a realidade a luz da Palavra e desenhar propostas de ação. A iniciativa é um sinal de esperança no meio dos perigos que ameaçam a subsistência da Casa Comum.

Pedimos ao Papa Francisco e a todos os padres sinodais uma declaração da Amazônia como Santuario da Casa Común.

Esta declaratória seria um chamado espiritual e profético a todos os homens e mulheres de boa vontade para que se reconheça a Amazônia, que cobre 9 países, como terra santa, tão sagrada como a da sarça ardente de Moisés que escutou as palavras de Deus, “o lugar em que estás é terra santa”.

A declaratória seria um chamado à consciência universal e particularmente um pedido aos organismos mundiais e aos estados responsáveis para que tomem as medidas urgentes e profundas que se fazem necessárias para salvar a vida no planeta.

As medidas deveriam ser feitas e aplicadas com sentido de emergência, considerando a velocidade e a profundidade das mudanças adversas que vêm afetando cada vez mais o clima, o habitat e a vida dos povos amazônicos. Os objetivos devem enfocar o problema como um todo, pois tudo é afetado sistematicamente. A flora é impactada e a fauna, o clima, o ar, e o regime de chuvas, comprometendo o delicado equilíbrio de todos os ecossistemas e mesmo a vida dos povos amazônicos, cujo extermínio está cada vez mais próximo. Os povos não são uma espécie a mais do sistema. São uma obra magnífica de Deus, sua imagem e semelhança. Eles receberam do Criador esse paraíso natural, o desfrutam e o protegem. Sabendo-se e sentindo-se um com seu mundo, sabem como viver sem afetar seu equilíbrio.

Consequentemente as medidas deveriam ser assim implementadas.

1.Que se determinem legalmente os territórios suficientes para cada uma das diversas nacionalidades indígenas que habitam na Amazônia, considerando sua forma de viver e de interagir com a natureza.

2.Que a delimitação e a localização dos territórios seja tal que cada um constitua um refúgio seguro e a base de sustento e nutrição dos povos indígenas e a vida da Amazônia.

Que se aplique a estes territórios uma significativa moratória das atividades extrativistas que prejudicam a floresta, também das petroleiras e das mineradoras. Da mesma forma se discuta seriamente a implementação de plantações e de criação de gado que implicam desflorestação. Especialmente que se garanta a sustentabilidade para uma eventual abertura de estradas e de centrais hidrelétricas. Em fim, que cessem as intervenções predatórias tanto por parte dos governos quanto dos grupos econômicos interessados, nacionais e internacionais.
Que os povos indígenas possam exercer nestes territórios sua autoridade, no marco da autodeterminação, do autogoverno, da justiça ancestral de acordo com os usos e costumes e sua vida política, cultural e espiritual em plenitude, sentido-se parte da nação.
Os acordos e pactos internacionais ficaram sem eficácia porque não são obrigatórios para os países. Não se estabeleceram consequências para a sua não implementação. Aspiramos que o Sínodo possa demandar aos organismos internacionais para que peçam a aplicação efetiva e eficaz das resoluções tomadas.

Pedimos aos padres sinodais que atuem com energia para pedir que os estados que se comprometeram com seus compromissos em favor da Amazônia mediante a adoção de mecanismos idôneos, independentes do vai- e- vem das conjunturas políticas.

Desta forma, a Declaratória de Santuário, será um instrumento idôneo para salvaguardar os povos indígenas em isolamento voluntário. Eles constituem grupos humanos mais vulneráveis da Amazônia e do mundo, vítimas da violência do modelo econômico global, depredador, imposto. Ao mesmo tempo comparecem como um testemunho de resistência a esta globocolonização que uniformiza e mata a diversidade e a vida da humanidade e do planeta.

“Para o indígena, a terra é mãe. Não se trata de uma maneira de falar, não é um puro sentimentalismo. O povo indígena considera, dentro de seu núcleo cultural, dentro de seu pensamento, a terra como sua mãe… pensamento que, por outra parte, se identifica com o pensamento das Sagradas Escrituras, em outras palavras, com o pensamento de Deus”(Dom Leônidas Proaño, bispo de Riobamba, Equador). E acrescenta ainda o Papa Francisco em sua encíclica Laudato Si sobre o cuidado da Casa Comum. “Para os indígenas a Terra não é um bem econômico, senão é um dom de Deus e de seus antepassados que descansam nela, um espaço sagrado pois o nessecitam para interagir e para sustentar sua identidade e seus valores; quando permanecem em seus territórios, são precisamente eles que melhor os cuidam”(n.146).

Queremos finalizar com as palavras de Bernardo Alves, do povo indígena Sateré-Mawé. “Os povos indígenas são bibliotecas vivas. São guardiães, cuidadores e jardineiros da Amazônia e do planeta. Cada vez que um povo indígena é exterminado ou desaparece, um rosto de Tupãna (Deus),morre e o cosmos, e o planeta e toda a humanidade se empobrecem”.

Articulação- Pueblo Indio del Ecuador, Quito.

e-mail fpie@fundaciónpuebloindio.org

Seguem mais de 400 subscrições de lídres indígenas, de muitos bispos, especialistas, militantes, missionários e missionárias e representantes de povos da floresta.

 

 

 

 

Dom Evaristo Spengler entregando ao Papa o Documento Amazônia Santuário intangível da Casa Comum

8 comentários sobre ““Amazônia, santuário intangível da Casa Comum”

  1. Não sei se concordo com as ações do Papa, tendo em vista que atualmente, uma grande quantidade de jovens tem se convertido através da tradição, e não do ecumenismo. Pode-se observar isso através dos vídeos do Pe. Paulo Ricardo. Veja, Eu sou jovem, tenho 20 anos, atualmente, o que mais falta na minha paróquia, da Diocese de Nova Iguaçu-RJ, é jovem! Incrível isso, pois o último bispo da diocese foi um que seguia a linha da sua Teologia da Libertação, Dom Luciano. Os jovens estão reduzindo, Boff… O que será a Igreja daqui a 50 anos, Me diga, Professor Boff ??? Para vc, que já está velho, que já viu de tudo na Igreja, por toda uma vida, é fácil falar… Vc pegou os anos de ”ouro” do catolicismo, não vai ser vc que vai ver sua geração toda Neo-pentecostalizada. os Jovens gostam da tradição, veja os vídeos do Pe. Paulo Ricardo e do Centro Dom Bosco, o número de conversões é grande. Para vc é fácil falar, não vai ser vc que vai ver a queda desse gigante que é nossa Igreja. Não se vê grande quantidade de jovens, muito menos de coroinhas, nas missas de domingo…Isso na comunidade Matriz da Paróquia, pelo menos na minha. Tu achas que minha época se compara com a sua ? Na sua época provavelmente devia ter muitos jovens e corinhas nas missas de domingo, na minha NÃO TEM!!
    Tu não acha que isso significa algo ? Que estamos indo mal ?

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  2. O que andianta fazer uma teologia para adultos?? Uma coisa que vai agradar quem é doutor velho ??? Nós, jovens,( tenho 20 anos) estamos perecendo com essa fragmentação da pós-modernidade, a única coisa que traz paz ou calma ao jovem nesse meio de discursos de liberdade total é a tradição, saber que pertence a algo que está além de si, algo que tem história e que não é qualquer coisa… E se quando eu tiver 50 anos não existir mais igreja católica?? Serei obrigado a experiencia uma conexão com Deus em ingrejas neo-pentecostais, Batistas, Prebiterianas ??? Não consegue ver o quão triste é saber que muito provavelmente,nem missa terá mais, quando eu tiver 80 anos… VOCÊ NÃO VAI SABER, pois vc não vai mais estar aqui, Boff!!!!! Não tem nada a me dizer ????

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    • Thiago, a Igreja de Jesus e de Deus não é coisa de homens mas de Deus mesmo. Sempre haverá espírito grandes e abertos que orientarão o sentido de suas vidas pela mensagem tão humanitária e divina de Jesus. Se esta mensagem desaparecer ( que em grande parte se encontra nas outras religiões, por obra do Espírito Santo e do Cristo cósmico ressuscitado) aí sim temo pelo fim da espécie humana que se entregará à autodevoração. Mas como Jesus, o Espírito,por fim a SS. Trindade estão entre nós,sempre haverá veneração e adoração e pessoas que captam a esperança de vida eterna e seguirão o caminho de Jesus no Espírito. Não se preocupe,pois Saulo,depois Paulo também queria destruir o cristianismo nascente e foi transformado no grande Apóstolo. Pode perder tudo, menos a esperança na ação soberana de Deus na história. lboff

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      • Não nos conhecemos! Mas, na década de 1980, o senhor foi motivo de muitos debates e comentários. Por ocasião do seu julgamento no Vaticano por Joseph Ratzinger, eu me sentir desrespeitado, oprimido e humilhado. Até aquele momento, era um jovem militante, que estava inserido numa pastoral social libertadora. Não o entendia completamente, e muitas vezes até lhe fazia oposição, mas naquele julgamento eu também me tornei Boff. O motivo deste é lhe parabenizar pela forma carinhosa com que o senhor responde à Thiago Otávio.Um abraço fraterno!

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  3. Thiago, venho ao seu encontro como irmão mais velho. Aos oito anos eu fui em busca de formação na Igreja. Estudei, militei numa linha pastoral comprometida, principalmente com os mais pobres. Fizemos história! Quando o Altíssimo toma a defesa do pobre, é porque ele é indefeso. O Cristo poderia ter nascido rico, mas foi imigrante, operário e muito pobre, embora fosse rabino e Deus! No início do cristianismo, a comunidade tinha tudo em comum, porque uma vez de Cristo, temos que ser irmãos. Naquele momento ser cristão é ser marginalizado e perseguido por causa de desses valores que incomodam os donos do poder. Ser cristão não é ter uma vida cômoda! É só lê as Bem Aventuranças! A “parábola do bom samaritano”! A Igreja só teve esse “bom”, por ocasião do abraço dela com o poder. E Constantino deu uma boa contribuição para essas deturpações na vida da Igreja e na fé. O que Francisco está tentando fazer é uma restauração, uma purificação, um comportamento autentico. Não fique preocupado com os números e nem com o sucesso de muitos pregadores. Lembre-se! O Cristo morreu pela tradição e poder econômico. Um abraço fraterno!

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