Adolfo Pérez Esquivel: “Parem o mundo, eu quero descer!”Denúncia:”aves de destruição em massa”


04/04/2022 – 17h44 em Vio o Mundo

Publicamos este texto de Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz denunciando as guerras no mundo especialmente na Ucrânia. Chama atenção para algo gravíssimo: Em Kiev,estão sendo produzidas armas biológicas e químicas, apoiadas pelo Pentágono e pela Departamento de Estado dos USA. Bactérias e vírus são inoculados em Aves migratórias que poderão levar doenças por todo mundo. É um crime inominável, a pior forma de guerra para atingir diretamente a vida humana indefesa.


“Parem o mundo, eu quero descer!”

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Faz vários anos, dos quais não me lembro nem dos autores e atores do velho filme: “Parem o mundo, eu quero descer”. Entre alguns amigos, comentávamos, tudo bem, mas… para onde vamos?

Nesse momento, há várias décadas, estávamos preocupados com a situação mundial, com a guerra no Vietnã, na Argélia, os golpes de Estado; este planeta é a nossa casa comum, não temos outra e a estão destruindo a cada dia, o Apocalipse não será causado por uma catástrofe natural, o ser humano busca sua autodestruição provocando guerras, fome, discriminação, destruição do meio ambiente e outras calamidades, das quais não há retorno.

A dança das guerras não tem fim, o mundo está sofrendo atualmente 25 guerras de alta e baixa intensidade, conflitos armados em várias regiões do mundo e as guerras silenciosas da fome e a pandemia de Covid-19, com mais de cinco milhões de mortos, até o momento.

Jorge Luis Borges dizia: “Não é o amor que nos une, mas o espanto”.

É preciso escolher entre o Amor e a Vida ou a bomba. Não há guerras justas, e ainda menos guerras santas. Creio nas causas justas. Toda guerra traz consigo destruição e morte e são os povos que a sofrem, e deixam feridas e marcas do sofrimento por várias gerações.

O Papa Francisco diz: “A guerra é feita pelos governos e é padecida pelos pobres e pela gente comum”.

Estamos diante de uma guerra que já dura mais de um mês entre a Ucrânia e a Rússia, com graves perdas de vidas, destruição de cidades, refugiados. Todo mundo sabe como as guerras começam, ninguém sabe como elas terminam.

Quem são os responsáveis pela guerra? – O outro é o culpado. É a resposta do outro – é a razão da sem-razão.

É preciso “desarmar a razão armada” para construir a Paz, não como ausência de conflito, mas para restabelecer relações de convivência e respeito mútuo entre as pessoas e os povos.

“Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique da España, envia uma nota “urgente”, fazendo referência a uma recente reunião do Conselho de Segurança da ONU, convocado a pedido da Rússia, que denuncia e apresenta documentação dos laboratórios biológicos e químicos encontrados em Kiev, financiados pelo Pentágono e pelo Departamento de Estado dos EUA, sobre o programa de armas biológicas na Ucrânia. “As Aves de Destruição em Massa”, documentação que mostra que o mundo está enfrentando mentes sinistras que põem em perigo a humanidade.

Vou fazer um resumo porque a situação é tão grave que exige uma análise serena e profunda. Os Estados Unidos negam sua responsabilidade no Conselho de Segurança da ONU e, ao mesmo tempo, se opõem a uma investigação sobre os laboratórios de armas biológicas que financiam.

O governo da Ucrânia é partidário e cúmplice dessa política sinistra. O mundo está preocupado com a posição dos ex-presidentes dos EUA George Bush, Barack Obama, Donald Trump e do atual, Joe Biden, se eles desconheciam a existência dos 336 laboratórios.

O que fizeram? Eles têm consciência, valores éticos, responsabilidade pelas consequências dos vírus com a utilização de aves migratórias para contaminar e atacar outros povos?o

A guerra tem muitas faces que escondem a crueldade por trás de máscaras de interesses políticos, econômicos e geopolíticos. Os meios de comunicação hegemônicos, a propaganda cúmplice. Volto a reiterar que a primeira vítima da guerra é a Verdade, e a Mentira é a Mãe de todas as violências.

Os fatos confirmam que o presidente Joe Biden não quer a paz entre a Rússia e a Ucrânia, a União Europeia também não, nem a OTAN. Todos esses atores buscam fomentar o conflito e pretendem apagar o fogo da guerra com mais combustível: o envio de armas para a Ucrânia, imposições e sanções econômicas e censura da mídia russa.

A Europa se esqueceu da Segunda Guerra Mundial, se esqueceu do Holocausto?

Os governos ocidentais pretendem tapar o sol com as mãos, censurando a cultura russa, como Dostoiévski, Tolstói, os seus artistas, cientistas, atletas e todas as manifestações desse povo. Não procuram formas de resolver o conflito através do diálogo.

Eles estão empurrando a humanidade para uma provável guerra nuclear, que colocará em risco a existência planetária.

A isso se soma a recente denúncia das “Aves de Destruição em Massa”, os laboratórios biológicos e químicos encontrados na Ucrânia, que consistem em usar aves migratórias e inocular vírus nelas.  As aves são numeradas e identificadas para atuarem como portadoras em outros continentes para descarregar vírus, doenças, epidemias, como arma silenciosa e mortal.

“Parem o mundo que eu quero descer”, estamos aqui e agora, os povos não são espectadores, são protagonistas de suas próprias vidas e construtores de sua própria história, e devem enfrentar grupos de poder econômico, político e militar, que tratam de dominar o mundo.

Devemos exigir que a Rússia e a Ucrânia parem a guerra, que os EUA, a União Europeia e a OTAN garantam que vão desmantelar as bases militares que estão cercando a Rússia. A ONU deve despertar e agir com coragem para alcançar a Paz, e não ficar paralisada pelas grandes potências. E deve fazê-lo antes que seja tarde demais.

Quando a guerra termina, a Paz não é obtida. É preciso curar as feridas do corpo e do espírito, gerar condições de igualdade e direitos de vida justa para reconstruir e construir em conjunto com os povos vítimas da violência.

Confiamos que Outro Mundo é Possível.

Nós, os povos do mundo, exigimos o fim da guerra e a construção da Paz. É um direito de toda a humanidade.

Na rebelião dos estudantes em Paris em maio de 68, eles propunham “a imaginação ao poder” – “Sejamos realistas, peçamos o impossível”.

Peçamos à UNESCO que convoque uma Assembleia Geral urgente diante da situação que a humanidade está vivenciando, para exigir o fim da guerra e o início do diálogo para se chegar a uma solução para o conflito.

Lançar as bases para promover “Um novo contrato social”, diante dos desafios do nosso tempo. Como os avanços tecnológicos e científicos revolucionaram a vida e alteraram a velocidade do tempo, é preciso revisar e atualizar o caminho para um novo amanhecer da humanidade.

Nós propomos.

Aos líderes religiosos do mundo, que se unam espiritualmente na diversidade pela Vida e Paz, que proponham 3 dias de manifestação em todos os locais de culto, em mosteiros, igrejas, templos, sinagogas; que convoquem os povos para rezar e peçam a Deus o fim da guerra, que toquem os sinos conclamando os governantes do mundo a pôr fim à guerra.

Que o amor os una e não o pavor.

O impossível é possível, se unirmos vontades e rechaçarmos a violência e as mentiras que tratam de impor um pensamento único e a monocultura das mentes.

Aos movimentos sindicais, aos operários, camponeses, indígenas, aos homens e mulheres, para que se manifestem pelo fim da guerra e pela Paz com Justiça.

Que coloquem nas fachadas de suas casas a bandeira branca e a do seu país. Que em todos os povoados se façam ouvir panelaços e manifestações com instrumentos.

Que escolas e universidades, centros científicos e intelectuais hasteiem a bandeira branca junto com a nacional.

Nós, os povos do mundo, nos mobilizamos por meio de redes sociais, de meios alternativos e pela resistência cultural e a criatividade. O impossível é possível. Não deixemos que a vida e a esperança nos sejam roubadas.

*Adolfo Pérez Esquivel, ativista argentino referência na defesa dos direitos, ganhador do Prêmio Nobel da Paz.

CARTA DO IRMÃO TIMOTHY RADCLIFFE OP-Testemunho vivo da Guerra na Ucrânia

Timothy Radcliffe OP é um famoso teólogo dominicano que conhece bem a Ucrânia. Relata-nos o trabalho arriscado e generoso que seus confrades estão fazendo para salvar vidas e facilitar os migrantes a chegarem à Polônia. É comovedor verificar como há gente boa, generosa,espiritual e seguidora dos valores de Jesus ao oferecer suas vidas para salvar vidas de outros. A guerra é um mal indescritívelo pois mostra a barbárie que os seres humanos podem cometer. E ao mesmo tempo, abre espaço para mostrar o outro lado do ser humano, luminoso, compassivo, corajoso e entregue ao serviço dos outros especialmente aos que correm risco de vida. O Evangelho do Nazareno continua a inspirar pessoas a serem como ele: amar incondicionalmente e oferecer a própria vida para salvar vidas desprotegidas e sob graves riscos. LBoff

Blackfriars, Oxford, Reino Unido, 21 de março de 2022.

Meus queridos irmãos e irmãs em São Domingos,

            Nosso Irmão Jarosław Krawiec OP, Vigário Provincial da Ucrânia, pediu-me que escrevesse uma carta a todos vocês. Faço isso com uma profunda consciência da inadequação de qualquer coisa que eu possa dizer. Vocês estão  diante de uma violência brutal e sem sentido que excede tudo o que já experimentei ou possa imaginar, e por isso perdoe a pobreza de minhas palavras.

                        Estarei convosco até o fim dos tempos.” (Mateus 28.36)

            Milhões fugiram da Ucrânia e encontraram refúgio em países vizinhos, especialmente na Polônia, que inspirou o mundo por sua generosa acolhida. Graças a Deus  eles encontraram segurança e proteção longe do conflito. Mas também agradecemos a Deus por vocês terem permanecido, irmãos e irmãs ucranianos e poloneses, religiosos e leigos, quando isso foi possível.

            Em todo o mundo, as pessoas estão lendo as cartas do irmão Jaroslaw, e todos ficamos emocionados quando ele escreveu: “Decidimos ficar juntos com o povo da Ucrânia. Só saímos de Kharkiv quando a cidade, incluindo a área ao redor de nossa casa, começou a ser bombardeada”.

            O Senhor Ressuscitado disse aos seus discípulos: ‘Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos’ (Mateus 28.20). 

            A vossa presença permanente é um sinal do Senhor que permanece na Ucrânia agora e para sempre.

            Às vezes, a coisa mais importante que podemos fazer é apenas estar com as pessoas em sua hora de necessidade.

 O Filho do Homem disse: ‘Eu estava doente e você me visitou.’ (Mateus 25.36)

            Rowan Williams, o ex-arcebispo anglicano de Canterbury disse:’ ”Eu não vou embora” é uma das expressões  mais importantes que podemos ouvir.” Como eu gostaria de estar com vocês agora. Quando  quiserem que eu volte, farei isso o mais rápido possível!’

            Tenho lembranças muito felizes de minhas visitas à Ucrânia quando era Mestre da Ordem. Fiquei impressionado com a beleza de Kiev, onde você faz um bom trabalho ensinando no Instituto  Aquino, pregando e publicando.

            Lembro-me da movimentada cidade de Fastiv, da igreja com telhado de cobre e do nosso muito modesto convento composto por cabanas de construtores que aparentemente ainda estão em uso hoje e é um testemunho da preocupação dos irmãos pela missão e não pelo seu próprio conforto!

            Depois veio a calma Chortkiv com suas lembranças, dos dominicanos martirizados pelo NKVD, e de  mais coroinhas na igreja do que eu poderia contar! Houve tantas visitas memoráveis – por exemplo, ao palácio do bispo na histórica Zhitomir onde, fico triste em saber,  mísseis estão agora destruindo as casas das pessoas.

            A presença dominicana cresceu muito desde a minha última visita e não consigo imaginar como é para aqueles que vivem hoje em Kharkiv, perto da fronteira russa, que foi alvo de tantos ataques de mísseis.

             Eu sei que há dominicanos em Khmelnytskyi e Lviv também – que, até os recentes ataques com mísseis, pareciam estar bastante seguros. Em todos os lugares que fui na Ucrânia, fui recebido com corações calorosos e a tradicional hospitalidade eslava.

            Lembro-me de ver Fastiv quando a igreja ainda estava sendo reformada e quando a Casa de São Martinho, o orfanato, ainda era um prédio vazio e um sonho na mente de nosso incrível irmão dominicano, Zygmunt Kozar, cujo coração estava sempre aberto aos idosos e aos pobres.

            Seu sonho agora é uma realidade e é maravilhoso ver o novo papel que a casa de São Martinho está desempenhando como ponto de partida para os refugiados, alguns dos quais são órfãos a caminho de um lugar mais seguro na Polônia graças aos seus esforços.

                        ‘Façam  isso em memória de mim’

            Todos os dias vocês se unem aos seus irmãos e irmãs ao redor do mundo enquanto celebram a Eucaristia. Diante da violência insana que está tentando destruir sua bela nação, vocês devem se lembrar da Última Ceia, quando tudo o que parecia estar à frente de Jesus era violência e destruição. Sua pequena e frágil comunidade estava à beira do colapso e todos os sonhos para o futuro pareciam destruídos.

            Neste momento mais sombrio, Jesus realizou esse ato de esperança generosa, entregando-se a seus amigos e a nós.

            Cada Eucaristia proclama a nossa esperança de que a violência, a destruição e a morte não terão a última palavra. Quando sua vida estava prestes a ser tirada dele à força, ele se fez presente. É a esperança eucarística e a generosidade que a Família Dominicana vive dia a dia na Ucrânia. Quando se vive  a Sexta-feira Santa, o Domingo de Páscoa está se aproximando!

            Esta guerra brutal contra civis indefesos em cidades, vilas e até pequenas aldeias da Ucrânia, é verdadeiramente chocante. Vemos mísseis e projéteis deliberadamente apontados para as casas de pessoas comuns que não representavam ameaça a ninguém. Diante disso, a Eucaristia encarna a nossa esperança de que a paz do Senhor triunfe.

‘Recolham os fragmentos que sobraram, para que nada seja desperdiçado.’

(João 6.12)

            Todo o mundo dominicano se comoveu com os relatos do irmão Jaroslaw sobre a bondade e a compaixão de toda a Família Dominicana neste momento terrível: cuidar dos refugiados, visitar os doentes, preparar alimentos e a viagem recorde de carro da Irmã Anastasia a Fastiv com o forno para assar pão!

            Acho que o anjo da guarda dela devia estar fazendo hora extra!

            O irmão Jaroslaw escreveu: “Estou conhecendo essa nova realidade e tendo mais certeza de que, durante a guerra, o que é necessário não são apenas soldados, mas também todas as pessoas nos bastidores. Eles entregam alimentos e medicamentos. E quando necessário, eles evacuam as pessoas para lugares seguros.” Os motoristas, farmacêuticos, professores, enfermeiros e médicos, e tantos outros que continuam dia a dia, são um sinal de esperança.

            Às vezes alguém pode se perguntar: Que bem está sendo alcançado?. Como esses pequenos feitos podem ser importantes diante do enorme poder destrutivo de mísseis, tanques e aeronaves?

             Mas o Senhor da colheita garantirá que nenhuma boa ação seja desperdiçada. Como todos os fragmentos foram recolhidos da alimentação dos cinco mil, nenhum ato de bondade será desperdiçado. Ele dará frutos que nunca podemos imaginar.

            Primo Levi, o químico italiano, conheceu Lorenzo no campo de concentração de Auschwitz. Lorenzo lhe dava parte de sua ração de pão todos os dias. Ele escreveu: “Acredito que foi realmente devido a Lorenzo que estou vivo hoje; e não tanto por sua ajuda material, mas por ter me lembrado constantemente, por sua presença, por seu jeito natural e simples de ser bom… algo difícil de definir, uma remota possibilidade de bem, mas pela qual valeu a pena sobreviver. Graças a Lorenzo consegui não esquecer que eu mesmo era um homem.[1]’

            Cada ato de bondade e compaixão é um testemunho da possibilidade de bondade, de nossa humanidade, que o mal nunca poderá destruir.

                        A verdade vos libertará’ (João 8.32)

            Costuma-se dizer que “a primeira causalidade da guerra é a verdade.” No entanto, a violência que está sendo forjada contra seu belo país é o fruto envenenado das mentiras.

            Nós, dominicanos, com o nosso lema, Veritas , e o nosso amor à verdade, temos um testemunho especial a dar hoje num mundo que muitas vezes não se importa com a verdade.

            Quando visitei Bagdá durante o sofrimento do povo iraquiano, fiquei emocionado ao ver a Academia de Ciências Humanas de Bagdá, fundada pelos irmãos em 2012. 

            Em todo o Iraque há escolas dirigidas por nossas irmãs dominicanas, sinais de que o ser humano só pode florescer se, juntos,  buscarmos a verdade . Cada escola é um sinal de nossa esperança para nossas crianças e seu futuro.

            Então é maravilhoso que no meio dessa guerra sem sentido, os dominicanos continuem estudando e ensinando. Estive presente na inauguração do Instituto de Estudos Religiosos  São Tomás de Aquino, dirigido pelos dominicanos em Kiev há 30 anos, e que continua seu trabalho até hoje. O irmão Peter continua a dar palestras on-line dos evangelhos sinóticos. Cada hora de estudo ou ensino é uma proclamação de nossa esperança de que a violência sem sentido não terá a última palavra.

            “A luz brilha nas trevas e as trevas não a venceram.” (João 1.5)

            Nenhuma cultura de mentiras pode perdurar porque destrói a base da comunidade humana.

O  Irmão Pawel Krupa OP, apareceu em um clipe do TikTok recentemente.

            Alguém lhe pergunta: ‘Você tem alguma mensagem para os jovens?’

            E ele responde: ‘Você faz essa pergunta a um padre e, mais especificamente, a um padre da Igreja Católica. Pois bem, eu tenho algo não só para os para jovens como também para os velhos: 

                        “Buscai a verdade e a verdade vos libertará…”.

             Em dois ou três dias, havia 5 milhões de visualizações.

Agora, são  mais de 10 milhões de  visualizações e 1,7 milhão de curtidas.

            Muito poucas pessoas que curtiram  sabiam que Pawel estava citando Jesus, mas essas palavras do evangelho tocaram uma fome profunda: ‘Buscai a verdade e a verdade vos libertará.’

            Dou também graças a Deus por todos os professores e alunos e pelos jornalistas que arriscam a vida para partilhar com o mundo a verdade sobre o  sofrimento de vocês.

            Também nos lembramos de seus irmãos e irmãs russos que tiveram a coragem de protestar contra as mentiras do Kremlin, mesmo correndo o risco de prisão.

            Ficamos tão emocionados com as palavras do católico russo que foram lidas, do púlpito em que ele expressa sua vergonha pelo que seu país está fazendo. Que expressão de coragem e de esperança!

            Portanto, meus irmãos e irmãs, sintam-se  abraçados, nas orações e no amor da Família Dominicana do  mundo todo.

            Damos graças por vocês estarem aí nesse lugar de loucura, uma testemunha visível do Cristo que estará conosco até o fim dos tempos.

            Todos os dias damos graças com vocês, na suprema expressão de gratidão, a Eucaristia, sacramento da nossa esperança, para que a guerra seja derrotada.

            Damos graças pelos atos de compaixão e bondade que são as sementes da colheita que o Senhor trará.

            Que sua busca dominicana pela verdade seja um sinal de que a cultura da mentira que está alimentando essa violência não perdurará. Que o Senhor permita  que eu possa estar com vocês na Ucrânia o mais rápido possível! E perdoem-me por  minhas palavras inadequadas.

            Seu irmão em São Domingos

             Irmão Timothy Radcliffe OP

Carta recebida de Frei Márcio Couto,dominicano de São Paulo.

A COP26 não respondeu à emergência climática

                                                      Leonardo Boff

Com o degelo das calotas polares e do parmafrost, o metano liberado agravou pesadamente os transtornos climáticos além dos demais gases de efeito estufa: o CO2,o ozônio (O3) e o óxido nitroso (N2O). Portanto, não estamos ido ao encontro do aquecimento climático. Estamos mergulhados bem dentro dele. O Acordo de Paris de 2015 sobre a mitigação dos gases de efeito estufa que dava alguma esperança,não foi observado. Ao contrário, a emissão cresceu 60%. A China é o maior emissor com 30,3%, seguida pelos USA com 14,4, os europeus com 6,8%. A deterioração foi generalizada.

Cientistas e estudiosos do clima já declaram uma emergência climática. Nas palavras duras de Patricia Espinosa, Secretária Executiva da ONU sobre Mudanças Climática,na abertura da COP26: ”Estamos a caminho de um aumento de uma temperatura global de 2,7,graus C. quando deveríamos atingir a meta de 1,5 graus. Sabemos que  com este nível de aquecimento, grande parte das espécies não conseguirão se adaptar e desaparecerão. Milhões de humanos pobres e vulneráveis estarão sob grave risco.

Qual é a causa? Dados da comunidade científica enviados à COP26 para auxiliar nas decisões acertadas, dão uma resposta:”a mudança climática é causada pelo caráter do desenvolvimento social e econômico, produzido pela natureza da sociedade capitalista que se mostra insustentável”. Portanto, o problema não é o  clima mas o capitalismo que não conhece uma ecologia ambiental e político-social.

Face à gravidade do alarme ecológico, os resultados da  COP26 foram desanimadores e frustrantes. Só se fizeram recomendações no sentido de reduzir os gases até 2030. Deveria ser a metade. Mas ninguém assumiu esta meta. Vagamente, muitos, coagidos pelas críticas em seus países, como o Brasil, fizeram promessas mas sem nenhuma vinculação. A China e a India, decisivos para a mitigação e adaptação, se omitiram. Podemos entender: nas Conferências das Partes (COP) estão representantes de governos, praticamente todos sob o regime capitalista. Este, por sua dinâmica interna, não está nada interessado nas mudanças, pois seria contraditório. Eles são apoiados pelas megacorporações do carvão,do petróleo,do gás que sempre se opuseram às mudanças para não perder seus lucros. Estão sempre presentes das várias COPs pressionando fortemente os participantes,num sentido negacionista. Discutiu-se sobejamente sobre o carvão e a passagem para uma energia limpa. Mas somente 13 países, pequenos, assumiram um compromisso, não a China e os USA, os que mais o utilizam.

Outro cenário é a COP26 paralela que se realiza na rua com milhares de representantes de todos os povos do mundo. Aí, se diz a verdade que os governantes não querem ouvir: temos pouco tempo, temos que mudar de rumo se queremos salvar a vida e a nossa civilização. Muitos cartazes diziam: “estão roubando-nos o futuro, queremos uma Terra viva”. Daí se entendem as palavras do Papa Francisco, com outros religiosos, em mensagem enviada a COP26:”Temos recebido um jardim e não devemos deixar aos nossos filhos um deserto”.

Neste contexto,  importante foi o quinto Tribunal Internacional dos Direitos da Natureza e da Amazônia. Estavam presentes os representantes dos nove países que compõem a Amazônia, entre outros apoiadores. Reafirmou-se o fato de que a natureza e a Terra são sujeitos de direitos como aparecem já nas constituições do Equador e da Bolívia e mais e mais é um dado novo da consciência coletiva.

Atenção especial ganhou a Amazônia com cerca de 6 milhões de km  quadrados e habitada por cerca de 500 povos diferentes.  O lema básico era: “A Amazônia: uma entidade viva ameaçada”. Vieram indígenas  com suas várias organizações, dando testemunho de sua resistência, dos assassinatos de suas lideranças, da invasão de seus territórios, trazendo vídeos de suas culturas, danças, expressões de sua alta ancestralidade.

Do profundo da selva se ouviu um grito de outra forma de viver e de se confraternizar com a natureza, provando que se pode viver bem sem destruir. Os povos originários são nossos mestres, pois sentem a natureza como prolongamento de seu corpo,razão porque a cuidam e amam  como a si mesmos.

Depois de uma minuciosa fundamentação científica que serviu de substrato para as discussões seja presenciais seja virtuais, chegou-s e a este veredito:

O Tribunal condena pelos crimes de ecocídio, etnocídio e genocídio na Amazônia e de seus povos, os diretamente responsáveis, a saber: bancos, financiadores dos megaprojetos; empresas internacionais: empresas  mineradoras e privadas, empresas de agronegócios; e finalmente, os Estados por permitir as ações criminosas contra a Amazônia…pela violência estrutural, dando o aval a ações de organizações criminosas que invadem os territórios dos povos tradicionais e são autores impunes de assassnatos, sequestros de líderes indígenas, e de defensores dos direitos humanos e dos direitos da natureza”.

O  veredito detalha várias medidas a serem tomadas principalmente a favor dos povos indígenas, como os naturais defensores da Amazônia, o reconhecimento da Amazônia como sujeito de direitos, a reparação e restauração de sua integridade e desmercantilização da natureza. Criou-se a expressão: temos que nos amazonizar para regular os climas e garantir o futuro da biodiversidade.

Decidiu-se fazer em julho de 2022 um Forum Social Panamazônico, em Belém do Pará, na Amazônia brasileira. Tratar-se-á das alianças entre todos os povos originários, na convicção de que a floresta panamazônica é fundamental para regular os climas da Terra e para garantir a perpetuidade da vida no planeta. A vida humana poderá eventualmente  desaparecer. Mas a Terra continuará girando ao redor do Sol, contudo, sem nós. Isso pode ser evitado se houver uma aliança global dos humanos em favor da vida em toda a sua diversidade. Temos meios, ciência e técnica. Falta-nos apenas a vontade política e o laço afetivo para com a natureza e a grande e generosa Mãe Terra.

Leonardo Boff é membro da Iniciativa Internacional da Carta da Terra e foi participante do Quinto Tribunal Internacional do Direito da Natureza e da Amazônia, realizado  hibridamente, presencial e virtual em Glasgow durante a COP26.