Que teria sentido e que imagens teriam vindo à cabeça do cavalo Caramelo?

                                             Leonardo Boff

Cena impactante e comovedora: ao redor só águas turvas das enchentes,casas encobertas até ao telhado, e eis que sobre um telhado desponta um cavalo: dois pés de um lado e outros dois no outro da cumieira da casa. Quedou-se aí,impassível, por 2-3 dias, noite e dia, sem poder mover-se. Qualquer movimento poderia fazê-lo escorregar e se precipitar no mar de  águas barrentas.Teria morrido afogado.

O cavalo representa uma metáfora da resiliência,da esperança esperante de salvamento por uma alma compassiva; metáfora também da natureza que posta sob risco de desaparecer, teima em ficar se sustentando com suas próprias forças. Outra metáfora, e esta, sinistra, da incúria humana que permitiu as águas se rebelarem e destruírem tudo o que encontrava pela frente: pessoas, casas, animais,igrejas, escolas,universidades, museus. A fúria das águas parece não se importar por  tudo o que os seres humanos com suor e luta tenham construído.

Há que se admitir que nós não temos respeitado os direitos da natureza com  seu valor intrínseco, nem posto sob controle nossa voracidade de devastá-la para o enriquecimento de alguns à custa da miséria das grandes maiorias e do equilíbrio ecológico do planeta. A consequência foi a mudança climática, o escaldamento irreversível da Terra que causam eventos extremos como estas inundações de grande parte das cidades do Rio Grande do Sul. Estas imagens, vindas do inconsciente do cavalo, de seus ancestrais,  não estariam passando pela cabeça do Caramelo?

As novas ciências do universo, da Terra e da vida (apenas cito talvez o maior representante atual delas, o cosmólogo Brian Swimme da Califórnia, ao lado de Fitjof Caára, Mark Hathaway, Humberto Maturana do Chile e Amit Goswami da India entre tantos outros), projetaram o paradigma cosmogênico que é o imenso e complexo processo da evolução do universo e da lenta emergência dentro dele de todos os seres.

Estes cientistas sustentam que o espírito é um atributo do universo e não só dos seres humanos.Ele seria tão ancestral quanto à matéria. Desde o momento em que duas partículas elementares (bósons,topquarks?) se formaram e entraram em relação, estabeleceram o início daquilo que chamamos espírito: a capacidade de interação,de estabelecer relações de todos com todos e de acumular informações. A matriz relacional subjaz a todo  o universo e a cada um dos seres nele existentes.É a presença do espírito Há graus diferentes de realização do mesmo princípio,mas o princípio é o mesmo: a panrelacionalidade universal.

Um grau de espírito se dá, por exemplo, na montanha,inconsciente e irrefletido; outro grau,  talvez o mais elevado, no ser humano, consciente e reflexo. A montanha se relaciona com as energias do universo, com os raios do sol, com os ventos, as chuvas, os pássaros e com a pessoa que a contempla, extasiado.É a presença de seu espírito. Nós nos relacionamos conosco mesmos, com os outros, com a natureza, com o sol, com as estrelas  e com todo o universo visível (só 5%, o restante é invisível) e com o Infinito. Todo este feixe de relações diferenciadas constituem a realidade do espírito que perpassa todas as coisas.E o nosso de forma consciente e autorreflexsiva. No seu grau de espírito o Caramelo percebeu a tragédia que estava ocorrendo.

Sabemos também que a  realidade se apresenta sob três formas: como energia,como  matéria e  como informação. Me atenho à informação. Toda vez que seres se relacionam deixam marcas uns nos outros, trocam informações e as acumulam.

Por se tratar de espírito, em cada ser,especialmente nos vivos há imagens formadas por infindas relações/informações, desde os mais ancestrais até os mais recentes. C.G.Jung chamaria de arquétipos.Há momentos em que os mais ancestrais irrompem como imagens acumuladas no inconsciente coletivo de sua espécie “cavalo”.

Aplicando ao cavalo Caramelo: nessa longa espera esperante, possivelmente imagens ancestrais inundaram sua mente: a vaga imagem de seu surgimento há 56 milhões de anos, como um pequeno erbivoro, de tamanho de um cão. Vivia nas floresta e logo após nas pastagens macias norte-americanas. Foi se desenvolvendo até se tornar um cavalo nas proporções atuais. Aí atravessou, pelo pólo norte, a ponte de terra de Bering e chegou à Asia. Havia centenas de espécies de cavalos.

Para nós interessa o cavalo doméstico como o Caramelo. Este surgiu  entre quatro e cinco mil anos atrás, segundo dados arqueológicos, na Eurásia Ocidental, mais precisamente no sul da Rússia, na intersecção dos rios Volga e Don.Sua domesticação começou provavelmente no Cazaquistão por volta de 4 mil anos atrás.

Então começou a sua saga: em sua mente provavelmente emergirem as imagens das várias formas como foi tratado o cavalo doméstico: como cavalo forte de tração e uso na agricultura, cavalo mais esbelto, de charrete, a serviço de reis e rainhas,  cavalo de corrida e de entretenimento, cavalo para a caça, por isso mais ágil e atento a qualquer ruído. Mas principalmente foi usado para a guerra, como cavalos mais resistente e veloz.Em seguida foi usado como cavalo montado por policiais a fim de menter a ordem e reprimir manifestações indesejadas pelos poderes estabelecidos. Mas  convívio com os humanos o tornou um ser afetivo e até terapêutico.

Sempre esteve a serviço dos seres humanos, com exceção dos cavalos selvagens que viviam e vivem em grupos nas florestas. Posso imaginar que tais imagens arquetípicas emergiram na mente do Caramelo, naquelas horas de solidão e de medo, dormindo de pé  como é de  praxe dos cavalos. Mas seguramente, com certo orgulho, se recordava que eles, os cavalos, realizaram a primeira globalização, pois eles estavam em todas as partes do planeta, tornando as distâncias mais próximas e acessíveis.

Por fim, possivelmente na mente do Caramelo surgiu a figura do ser humano que sempre o usou e que se fez agressor, hostil aos ritmos da natureza, devastador dos bens e serviços essenciais para a vida. O resultado deste comportamento ocasionou a mudança climática, já irreversível que está na base da tragédia que vitimou vidas e tantas bens materiais e culturais. Ele mesmo está sendo vítima, junto com seus irmãos cachorros e gatos. O Caramelo, herdeiro de experiências de sua raça,deverá ter sentido isso.

Ele, em seu espírito, teria se questionado: será que nos seres humanos se extinguiu a compaixão, a solidariedade e o amor? Quando viu que barcos se aproximavam para salvá-lo, sua mente se desanuviou. Deu-se conta de que neles ainda vigorava solidariedade e compaixão. Por isso se moveram para me tirar são e salvo de cima deste telhado. Tais figuras surgiram provavelmente em seu espírito.

O Caramelo foi resgatado, sob grande dificuldade e risco. Recebeu a água indispensável e o alimento necessário. Que ele nos sirva de lição para não perdermos a esperança. Como ele foi salvo, nós humanos podemos também nos salvar.

Leonardo Boff escreveu Os animais como portadores de direitos, em O doloroso parto da Mãe Terra,Vozes 2021, p.212-217.

Die Rechnung ist da: die Klimatragödie in Rio Grande do Sul-Brasilien

                Leonardo Boff

Aufgrund der Umwelttragödie in Rio Grande do Sul unterbreche ich meine Überlegungen zu den Vektoren der aktuellen Systemkrise und möglichen Auswegen aus der Krise. Die heftigen Regenfälle und die katastrophalen Überschwemmungen, bei denen das Wasser in ganze Städte eindrang, sie teilweise zerstörte, Hunderte von Familien vertrieb und Tausende von Flüchtlingen, Vermissten und Toten zur Folge hatte, geben uns zu denken.

Zunächst bringen wir unsere tiefe Solidarität mit den Menschen zum Ausdruck, die von dieser Katastrophe biblischen Ausmaßes betroffen sind. Wir bringen unser Mitgefühl zum Ausdruck, denn wie der heilige Thomas in der Summa Theologica lehrt, „ist das Mitgefühl selbst die größte Tugend. Denn es gehört zum Mitgefühl, sich über andere auszuschütten – und mehr noch – in der Schwäche und dem Schmerz anderer zu helfen“. Das ganze Land hat sich mobilisiert. Das brasilianische Volk hat sich von seiner besten Seite gezeigt, seine Fähigkeit zur Solidarität und seine Bereitschaft zu helfen, trotz der Bösen, die das Unglück für ihre eigenen Zwecke und durch Lügen und Verleumdung ausnutzen.

Es wäre falsch zu glauben, dass es sich um eine Naturkatastrophe handelt, da sich ähnliche Phänomene von Zeit zu Zeit ereignen. Dieses Mal hat die Tragödie einen anderen Ursprung. Sie hat mit der neuen Phase zu tun, in die der Planet Erde eingetreten ist: die Etablierung einer neuen Phase, die durch eine Zunahme der globalen Erwärmung gekennzeichnet ist. All dies ist anthropogenen Ursprungs, d. h. vom Menschen und insbesondere vom angelsächsischen Kapitalismus verursacht, der das natürliche Gleichgewicht zerstört.

Es gibt in allen Bereichen Leugner, vor allem unter den Vorstandsvorsitzenden großer Unternehmen und denen, die sich in ihrer privilegierten, bequemen Position wohl fühlen. Aber die Lawine klimatischer Umwälzungen, der Ausbruch von Extremereignissen, Wellen intensiver Hitze und schwerer Dürren, Großbrände, Tornados und schreckliche Überschwemmungen sind unbestreitbare Phänomene. Es berührt die Haut der Widerstandsfähigsten. Auch sie beginnen nachzudenken.

Betrachtet man die Geschichte unseres Planeten, der seit mehr als 4 Milliarden Jahren existiert, so wird deutlich, dass die globale Erwärmung Teil der Evolution und der Dynamik des Universums ist; es ist immer in Bewegung und passt sich den energetischen Veränderungen an, die während des kosmogenen Prozesses auftreten. Der Planet Erde hat also viele Phasen erlebt, einige mit extremer Kälte und andere mit extremer Hitze, wie zum Beispiel vor 14 Millionen Jahren. In dieser Zeit der extremen Hitze gab es noch keine Menschen, sie tauchten erst vor 7-8 Millionen Jahren in Afrika auf und der heutige Homo sapiens erst vor 200.000 Jahren.

Der Mensch selbst hat in seinem Dialog mit der Natur mehrere Phasen durchlaufen: Zunächst herrschte eine friedliche Interaktion mit der Natur vor; dann ging er zu einem aktiven Eingriff in ihre Rhythmen über, indem sie Flüsse zur Bewässerung umleitete und Land für Straßen abholzte; schließlich kam es zu einer regelrechten Aggression gegen die Natur, und zwar durch den Prozess der Industrialisierung, der die natürlichen Ressourcen für den Reichtum einiger weniger auf Kosten der Armut der großen Mehrheit nutzte; Diese Aggression hat durch effiziente Technologien zu einer wirklichen Zerstörung der Natur geführt, indem ganze Ökosysteme durch Abholzung für die Produktion von Rohstoffen, durch den Missbrauch der Böden, die Imprägnierung mit Agrotoxinen, die Verschmutzung des Wassers und der Luft zerstört wurden. Wir befinden uns mitten in einer Phase der Zerstörung der natürlichen Lebensgrundlagen, die unser Leben erhalten. Nennen wir es beim Namen: Es ist die Produktions-/Vernichtungsweise des angelsächsischen kapitalistischen Systems, das heute globalisiert ist, mit seinem Mantra: Profitmaximierung durch den Raubbau an natürlichen Gütern und Dienstleistungen im Rahmen eines erbitterten Wettbewerbs ohne den geringsten Hauch von Zusammenarbeit.

Dieser Prozess ist mit hohen Kosten verbunden, die von den Betreibern dieses Systems nicht einmal in Betracht gezogen worden sind. Natürliche und soziale Schäden wurden als Nebeneffekte betrachtet, die nicht in die Buchhaltung der Unternehmen eingingen. Der Staat, und nicht sie, musste für solche Ungerechtigkeiten aufkommen.

Die lebende Erde begann zu reagieren, indem sie Viren, Bakterien, alle Arten von Krankheiten, Wirbelstürme, starke Stürme und schließlich einen Anstieg der natürlichen Temperatur ausstrahlte, der zum Siedepunkt gekommen ist. Wir haben einen Weg eingeschlagen, auf dem es kein Zurück mehr gibt. Das sind die Treibhausgase: CO2, Methan (28-mal schädlicher als CO2), Distickstoffoxid und Schwefel, um nur einige zu nennen. Allein im Jahr 2023 werden laut dem Bericht der COP 28 in Kairo 40,8 Millionen Tonnen Kohlendioxid in die Atmosphäre gelangen.

Schauen wir uns die Wachstumsraten dieses Gases an: 1950 betrugen die Emissionen 6 Milliarden Tonnen; im Jahr 2000 waren es bereits 25 Milliarden; 2015 stiegen sie auf 35,6 Milliarden; 2022 waren es 37,5 Milliarden und 2023 schließlich, wie bereits erwähnt, 40,9 Milliarden Tonnen pro Jahr. Diese Menge an Gasen wirkt wie ein Herd, der die Sonnenstrahlen daran hindert, ins Weltall zurückzukehren, und eine heiße Schicht erzeugt, die den gesamten Planeten aufheizt. Hinzu kommt, dass Kohlendioxid, CO2, etwa 100 bis 110 Jahre lang in der Atmosphäre verbleibt.

Wie kann die Erde eine solche Verschmutzung verkraften? Das Pariser Abkommen auf der COP im Jahr 2015 setzte Ziele für die Reduzierung dieser Gase durch die Schaffung alternativer Energien (Wind, Sonne, Gezeiten). Es wurde nichts Wesentliches getan. Jetzt ist die Rechnung, die die gesamte Menschheit zu zahlen hat, da: eine irreversible Erwärmung, die einige Regionen des Planeten unbewohnbar machen wird, in Afrika, Asien und auch bei uns.

Was wir in Rio Grande do Sul erleben, ist nur der Anfang eines Prozesses, der sich nur noch verschlimmern wird, wenn die derzeitige Art der naturzerstörenden Zivilisation anhält. Die Klimaforscher selbst warnen: Wissenschaft und Technik sind zu spät zu diesem Klimawandel aufgewacht. Jetzt können sie ihn nicht mehr verhindern, sondern nur noch vor Extremereignissen warnen und deren schädliche Auswirkungen abmildern.

Die Erde und die Menschheit werden sich an diesen Klimawandel anpassen müssen. Älteren Menschen und Kindern sowie vielen Lebewesen wird dies schwer fallen, sie werden stark leiden und vielleicht sterben. Mutter Erde wird in Zukunft Veränderungen erfahren, die es so noch nie gegeben hat. Einige davon könnten das Leben von Tausenden von Menschen zerstören. Wenn wir nicht aufpassen, kann der ganze Planet feindlich gegenüber dem Leben der Natur und unserem Leben werden. Am Ende könnten wir sogar verschwinden. Das wäre der Preis für unsere Verantwortungslosigkeit, Unmenschlichkeit und Vernachlässigung der Natur, die uns alles zum Leben gibt. Wir haben es nicht geschafft, die Rechnung zu bezahlen.

Leonardo Boff,Autor von:  Como cuidar da Casa Comum: como protelar o fim do mundo, Vozes 2024; O doloroso parto da Mãe Terra, Vozes 2021;A busca da justa medida: como equilibrar o planeta Terra,  Vozes 2021.

Emergência Climática: o que precisa entrar na pauta da Educação.

Aleluia Heringer Lisboa Teixeira

Sentimos na pele os impactos do novo regime climático, com isso, ganha relevância a necessidade de se trabalhar a alfabetização/cultura ecológica, considerando as conexões, contexto e interdependências entre todos os seres, entidades e ecossistemas. Nossa utensilagem mental antropocêntrica, calcada na fragmentação e simplificação, fortemente ancorada nos nossos modos de produção, consumo e estilo de vida, demora a entender e pensar saídas. Para além desse contexto social, a escola de educação básica ao lidar com crianças, ocupa um lugar sensível de disputas de sentidos sobre parte dessas temáticas. O que é autorizado abordar, como, com quais palavras, quando e quem deve falar, são questões que tensionam o ensino dada as mais diversas compreensões das diversas famílias que compõem o universo escolar. Enquanto isso, vamos comprometendo a formação da atual e das próximas gerações que viverão de forma intensa as consequências da inércia e da falta de prontidão daqueles que as antecederam. Qual a margem de manobra temos para atuação? O propósito deste artigo é fazer a articulação entre: a denúncia, a partir daquilo que a Ciência e Ambientalistas há décadas vem alertando; e anunciar, ao propor oportunidades e alternativas de abordagem para o educador relacionando-as com a vida, escolhas diárias e com os currículos escolares.

I           SOBE O TOM!

A emergência climática em curso pela sua escala planetária é infinitamente maior em proporção e poder de destruição que qualquer outra experiência humana que conhecemos, a ponto de o químico Paul Crutzen (2002), dizer que nosso impacto pode ser identificado em escala geológica, daí a proposta do termo Antropoceno para designar que já entramos em outra era geológica. Essa é uma verdade estratigráfica, pois já é possível de se ver a pegada humana nas rochas. A Terra reage por meio dos eventos climáticos extremos. Gaia se contorce expulsando aquilo que a agride. Convivemos, diariamente, com recordes que nos dão uma noção da gravidade da situação e do comprometimento da capacidade do planeta em se recuperar.    

O mês de março de 2024 é o 10º mês consecutivo mais quente já registrado na história, segundo relatório publicado no dia 09 de abril do Observatório Europeu Copernicus (Copernicus, 2024). A temperatura média global é a mais alta já registrada, com os últimos 12 meses a situarem-se 1,58°C acima dos níveis pré-industriais. 

Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA está à frente do projeto que monitora as mudanças de temperatura desde 1880. Em um artigo jornalístico publicado na Revista Nature (Schmidt, 2024), ele admitiu:

É humilhante, e um pouco preocupante admitir que nenhum ano confundiu mais as capacidades preditivas dos cientistas do clima do que 2023. (…) Se a anomalia não estabilizar até agosto – uma expectativa razoável baseada em eventos anteriores do El Niño – então o mundo estará em território desconhecido. Isto poderia implicar que o aquecimento do planeta já está a alterar fundamentalmente a forma como o sistema climático funciona, muito mais cedo do que os cientistas previam.

Um movimento liderado por cientistas dos EUA, Austrália e África do Sul, a partir de um Relatório Especial na revista BioScience (Ripple, 2020), logo foi assinado por 14.700 cientistas de 158 países, defendendo a “obrigação moral” de cientistas de “alertar claramente a humanidade sobre qualquer ameaça catastrófica” e apresentar suas pesquisas para demonstrar “que o planeta enfrenta inequivocadamente uma emergência climática”.  Quando a ciência usa a expressão inequívoca, falando para leigos, significa que o tema é incontestável, irrefutável. Todas as evidências advindas das mais diferentes áreas do conhecimento apontam para o mesmo lugar.

Parece que estamos anestesiados com tantas notícias que mais se parecem com as tribulações do Apocalipse. Cada vez mais um novo estímulo precisa ser dado para que saiamos do estado de torpor e inércia. Começamos ouvindo falar de mudanças climáticas, aquecimento global, crise, emergência, colapso e, agora, ebulição climática. Reparem, o tom vai aumentando, proporcionalmente, à nossa incapacidade como humanidade de ouvir e responder. Subir o tom é uma tentativa dos cientistas, das organizações, ativistas e agora das grandes mídias em comunicar, sem rodeios, o que está acontecendo. Trata-se de acordar, pela palavra, aqueles que dormem. 

A expressão “mudanças climáticas” perdeu força por ser considerada passiva, meiga demais para aquilo que estamos vivendo. Bate em nossos ouvidos que é papo de climatologista; é a natureza e “eu não tenho nada a ver com isso”, fora que, do lado de fora da minha janela, crianças brincam, as maritacas estão voando, os congressos estão focados na inteligência artificial e daqui a pouco vou para um aniversário e vida que segue. A mensagem é: continue fazendo o que você está fazendo.

Agora, se a sua casa estiver pegando fogo com sua mãe presa lá dentro, você não irá dizer que está havendo uma mudança da temperatura na sua sala. Você ligará para o Corpo de Bombeiros e esbaforido irá dizer que sua casa está em chamas. É disso que se trata. Emergência é a sirene do corpo de bombeiros ou do SAMU que toca de forma estridente, furando sinal, passando na frente. Emergência é prioridade máxima e pede ação.  

Essa mudança de tom aconteceu com alguns editoriais de jornais, como The Guardian (https://www.theguardian.com/environment/2019/may/17/why-the-guardian-is-changing-the-language-it-uses-about-the-environment) e  BBC, (https://www.carbonbrief.org/exclusive-bbc-issues-internal-guidance-on-how-to-report-climate-change/) que em 2019, alteraram o manual de redação e linha editorial, adotando palavras mais fortes, como forma de assumir e aceitar que estamos diante de um desafio de grandes proporções, que nos afeta em muitíssimos aspectos da vida cotidiana. Dicionários também estão se adequando. O britânico Collins elegeu a expressão “greve climática” e Oxford elegeu “emergência climática” como as palavras do ano de 2019. Essa última significa “uma situação na qual uma ação urgente é exigida para reduzir ou mitigar as mudanças climáticas e evitar um dano potencialmente irreversível ao meio ambiente”.

Vendo toda essa movimentação, precisamos nos perguntar quais as mudanças o campo da educação está efetuando. O que mudou na abordagem, nos currículos, nas formações, nas estruturas físicas das escolas, nos planejamentos dos professores? O que nós, educadores, reles mortais, podemos fazer? Em que estágio estamos?

II         Dos gestos solitários às grandes mudanças coletivas.

Essa história de “gigantes Golias”, felizmente, tem muitos “Davis”. São muitos, contudo, farei menção a um exemplo que mais se aproxima da realidade escolar.

Não foram as mudanças nas palavras, que fizeram acordar os líderes mundiais, mas uma única e pequena estudante. Sem cargo, sem poder, sem dinheiro. Aos 8 anos, na escola (olha a importância da escola), ela ouviu falar do que estava acontecendo no planeta e isso a impactou demais. Sofreu profundamente e se angustiou com tudo isso, mas em 2018, com 15 anos de idade, resolveu fazer greve escolar pelo clima. Sozinha, sentada no chão com o seu cartaz – School Strike for Climate -, nas sextas-feiras, “matava aula” na porta do Parlamento sueco. Alguém fotografou, postou e essa imagem viralizou. Essa menina se chamava Greta Thunberg. Seu ato individual, persistente e teimoso chamou a atenção e mais e mais pessoas foram se unindo ao movimento – Fridays for future (sextas-feiras pelo futuro). Um ano depois, em setembro de 2019, uma greve global pelo clima, ocorreu em 150 países com mais de 5 mil protestos.

Uma única pessoa, aqui um educador ou um estudante, por mais frágil que seja dentro de um sistema, é capaz de atuar e mobilizar os demais para irem além. Ninguém deveria pensar que o seu gesto individual não muda nada. Muda sim. É uma pessoa a mais ajudando a criar as condições para que uma nova consciência ecológica e de mentalidade vá se constituindo. Por outro lado, mesmo que uma lei, um governo ou sistema educacional venham a propor algo, sem que haja o engajamento dos indivíduos, muito pouco iremos avançar. De uma forma ou de outra, o indivíduo tem responsabilidades à medida que toma consciência da situação. Uma escola, uma rede de ensino, um ministro, um secretário da educação ou um diretor de escolar, não podem mais se manterem alheios ao que está acontecendo. Estamos falando de décadas de conhecimento científico disponível. Pesa sobre cada um de nós, adultos, uma responsabilidade social e geracional, com quem está hoje e com quem virá.

Reconhecemos que os adultos que hoje estão atuando nas escolas, ou estão na condição de pais e mães, não foram alfabetizados ecologicamente, como então serão alfabetizadores? Podemos pensar que ninguém ensina aquilo que não acredita ou que não entende.  Precisamos de estratégias sensíveis que utilizem a arte, imagens, argumentos e informações que nos mobilizem e convençam de que aquilo é urgente, relevante, necessário e imprescindível. Estamos falando de um conteúdo que, para além de definir nosso futuro no planeta, nos interpela, pois, mexe com o nosso modo acomodado de viver, cultura, tradição e opera em camadas mais profundas da nossa existência.

Mas que desafios de grandes proporções a educação é chamada a ajudar a resolver? Qual a nossa contribuição? O que educadores precisam saber, estudar e aprofundar?

III        O que não podemos mais ignorar?

Dos dez maiores riscos para a humanidade, nos próximos dez anos, cinco são riscos ambientais, segundo o Relatório de Riscos Globais (2024) desenvolvido pelo Fórum Econômico Mundial de Davos (World Economic Fórum, 2024), que coleta percepções de quase 1.500 especialistas globais. Segundo o relatório, “os riscos ambientais continuam a dominar o cenário de riscos”. Dois terços dos entrevistados classificam o clima extremo como principal risco e com a maior probabilidade de apresentar uma crise material em escala global em 2024, além de ser o segundo risco mais grave no período de dois anos. Os riscos ambientais dominam os quatros principais riscos globais por gravidade em um período de dez anos.  

Quando falamos dos impactos dos eventos climáticos extremos é preciso marcar que eles afetarão diretamente os mais pobres e vulneráveis. A escola é atravessada fortemente pelos problemas sociais, políticos, econômicos e agora pelos ambientais. Tudo isso calibrado, para mais ou para menos, dependendo da região onde se mora, da cor da pele, da condição socioeconômica, gênero ou religião. É aqui que nasce expressões como racismo ambiental e injustiça climática, que também precisam ser incorporados pela educação. Estudo publicado pela WayCarbon, em parceria com a organização Redes da Maré (Waycarbon e Redes da Maré, 2023), afirma que:

São as populações pobres, pretas e que habitam as periferias urbanas as mais vulneráveis e as mais atingidas pelos extremos climáticos. E após a destruição, são as que mais têm dificuldades de serem reparadas pelo Estado.

De igual modo, o Relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e parceiros (WMO, 2021), intitulado – Estado do Clima na África 2020, indicam que até 2023, as estimativas revelam que, pelo menos 118 milhões de pessoas extremamente pobres no continente estarão expostas à seca, inundações e calor extremo, o que impedirá o progresso em direção ao fim da pobreza. A injustiça climática se dá nesse caso pelo fato de a África produzir uma fração muito pequena das emissões globais de gases de efeito estufa.

Essa teia repleta de caroços e poucos laços repercutem fortemente nos sistemas de ensino. O sujeito da aprendizagem e da educação de que tanto falamos são meninas e meninos que já chegam até nós marcados por essas duras realidades. Mesmo sendo alguém com origem socioeconômica favorecida e com alto poder de compra, não é desejável que, por essas condições, sejam indiferentes ao que está acontecendo. 

Por fim, a complexidade se agrava quando esses eventos são pareados com outros riscos apontados que são: informações incorretas, polarização social e política. Esse dado é o anúncio de possíveis turbulências e que a temática não terá uma entrada tranquila na escola. É necessário embasamento científico, entendimento da faixa etária a que se destina o conteúdo, boas sequencias didáticas e uma apurada pesquisa do material didático a ser ofertado. Trata-se de um conhecimento multidisciplinar e transversal que não se restringe às Ciências da Natureza. Esse será um esforço extra para muito dos educadores, principalmente, para aqueles que se mantiveram alheios até o momento. 

IV        Conexões presentes e ausentes

A cultura e educação ecológicas têm temas que são mais explorados pelas escolas. De certa forma, estão inscritos na Encíclica Laudato Si (Francisco, 2015):

É muito nobre assumir o dever de cuidar da criação com pequenas ações diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivá-las até dar forma a um estilo de vida. A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias. (p.168, vrs.211)

Não podemos mais ignorar a forte interdependência entre todos esses fatores e variáveis, contudo, o que chega para os estudantes, muitas vezes também não tem contexto e ele não relaciona com a própria vida. Importante as advertências de Edgar Morin (2002, p.29):

Hoje, a nossa necessidade histórica é de encontrar um método que detecte e não que oculte as ligações, as articulações, as solidariedades, as implicações, as imbricações, as interdependências, as complexidades.

Sendo assim e com nossa visão mais alargada, traremos dois temas ausentes na pauta da educação. A Ecologia Integral requer um compromisso com a dimensão sagrada da vida, da natureza e do ser humano. Está implícito a vida em suas diferentes formas, ambientes e territórios e da preservação da biodiversidade. Há, contudo, uma dificuldade em encontrar a menção de outras vidas para além dos seres humanos, seja em nossos documentos, currículos ou nas discussões sobre sustentabilidade. O animal aparece sempre como recurso natural renovável. Será que somos os únicos habitantes e interessados na preservação do planeta e com direitos de existir?

Falamos de biodiversidade e precisamos falar mesmo já que a ciência afirma que estamos na 6ª extinção em massa, a ameaça ambiental mais séria à civilização, por já estar em andamento e por ser irreversível.  Michael Benton, paleontólogo que estudou a extinção no fim do Permiano, citado no livro – A sexta extinção, de KOLBERT (2015), utiliza uma metáfora para explicar o que é uma extinção em massa. Diz ele: “Durante uma extinção em massa, vários galhos da árvore são cortados, como se ela estivesse sendo atacada por homens brandindo machados” (s/p).   

Segundo os pesquisadores as espécies são elos nos ecossistemas e, à medida que caem, muito provavelmente levarão junto as outras espécies com as quais interagem. Já temos vários alertas de cientistas sobre a extrema urgência de ações globais maciças para salvar os sistemas cruciais de suporte à vida da humanidade.

Se por um lado extinguimos, do outro lado somos bizarros e criamos uma superpopulação artificial de animais para consumo humano. A população brasileira é de 220,2 milhões de pessoas (dados do dia 24 de abril de 2024) e o Rebanho bovino brasileiro é de 234,4 milhões de animais (IBGE, 2023). Podemos dizer que temos a relação um para um no tocante a um boi para um habitante do Brasil. De qualquer forma, isso só é possível graças à voracidade com que avançamos para cima dos corpos dos animais, para atender as nossas demandas e caprichos ilimitados. Para esses, temos autorização legal, dada por nós mesmos, para avançamos sobre seus corpos, territórios, ambientes, e, anestesia ética, para separamos os filhotes de suas mães, inseminar anualmente as fêmeas, sufocar ou macerar pintinhos machos que não “prestam” para a indústria do ovo, confinar e reduzir sua locomoção e assim, aumentar a sua produtividade e população. Persistimos, considerando as outras espécies, como coisas passíveis da nossa exploração e domínio. Caminhamos para um planeta que existirá somente nós e os animais que iremos comer. Se é que é sustentável um planeta assim.  

Esse contexto nos leva a outras perguntas ignoradas: qual a relação dos sistemas alimentares e a emergência climática? O que seria o tema da nutrição do ponto de vista dos direitos humanos? A produção de alimentos tem relação direta com a degradação ambiental e a perda da biodiversidade, pois essas comprometem a resiliência dos sistemas alimentares.

Estudo inédito publicado pelo Observatório do Clima (2023), calcula em 1,8 bilhão de toneladas a emissão bruta de gases-estufa por sistemas alimentares; isso representa 74% das emissões de gases de efeito emitidos pelo Brasil. Somente a cadeia da carne emite 1,4 bilhão, mais que o Japão. Em que momento nos perguntamos que cadeia produtiva é essa? Produz o quê? Como são seus processos? Alimenta a quem?

Levantamento feito pelo Observa Infância da Fiocruz (2023) que utilizou dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), demonstram que o Brasil está acima da média global e da América Latina, no tocante ao sobrepeso e obesidade, em crianças menores de 5 anos e adolescentes de 10 a 18 anos. A má alimentação também se apresenta na forma de sobrepeso, sendo um problema da pobreza (compro o que o dinheiro dá e quase sempre o disponível é de má qualidade nutricional) e do nível educacional. A pouca quantidade de nutrientes ou “fome oculta” ou “fome silenciosa”, afeta mundialmente cerca de 2 bilhões de pessoas.

A transição não é somente energética, ela é também alimentar. O que nós ensinamos sobre nutrição e alimentação em nossas escolas? Que modelos reproduzimos? Concordamos que não se deve direcionar as escolhas daquilo que as pessoas irão comer. A responsabilidade da escola é o ensino de qual nutrientes necessitamos para uma nutrição que traga saúde, disposição e vitalidade e quais são as fontes de cada um deles, seja de origem animal ou vegetal.

V         Considerações Finais

Vivenciaremos, hoje, e não no futuro, mudanças rápidas nos sistemas de produção e consumo, na forma como lidamos com o solo, geramos energia, nos movemos, produzimos, moramos e, principalmente, como nos alimentamos. A crise climática, com tudo que ela carrega, traz para a cena novos conhecimentos que precisarão ser mobilizados, além de um novo jeito de viver, e isso já nos próximos seis anos. Projetos Pedagógicos que coloquem a vida em primeiro lugar, além de preparar nossos estudantes para esse mundo é uma questão ética e de honestidade intelectual.

Como esses assuntos podem entrar na pauta da escola? As temáticas são duras e áridas. Precisamos diferenciar o que é conhecimento que o professor precisa ter para dar boas aulas e aquilo que precisa chegar, com as devidas adequações, até a criança de 3 anos ao adolescente de 17. Não podemos receber e jogar sobre elas toda a carga de informação sobre a destruição do planeta sem que haja um filtro e adequação. Isso é difícil e sério. Imagine uma criança de 8 anos tendo uma aula sobre o degelo do Ártico, a elevação do nível dos oceanos ou sobre outros eventos climáticos extremos. Podemos gerar nelas a síndrome da angústia ambiental, expressão que tomo emprestado do livro Educação Ambiental de Genebaldo Freire Dias. Enquanto concluo essa reflexão, o Brasil assiste atônito a tragédia no Rio Grande do Sul. Não é mais possível esconder essa realidade das crianças. Elas assistem. Elas são vítimas. Ao se depararem diariamente com notícias de agressão aos animais, as florestas e rios, instala-se em seus pensamentos a sensação de indignação e impotência, que ainda não sabem nomear e nem endereçar. Afundam no conteúdo da catástrofe.

Ainda podemos dar essa notícia preparando-as corretamente, com embasamentos científicos sistematizados de modo a contemplar a maturidade e desenvolvimento. Digo aos educadores que revejam suas metodologias.Crianças precisam de encantamento ao observarem e estudarem os ciclos da natureza, suas estações, a diversidade de plantas e de animais, como vivem, quanto tempo vivem, como cuidam dos seus filhotes, o que cura, o que alimenta ou o que é veneno. Ao apresentar como deveria ser, elas passam a ter referências e memórias afetivas que serão acessadas, quando necessário for, estranhar e questionar aquilo que é contrário à promoção da vida. A proposta é despertar nas crianças, jovens e adultos atitudes mentais e amorosas para que elas possam criar comunidades sustentáveis.

Email:  aleluia@redelius.com.br

Referências

COPERNICUS. Montlhy Climate Bulletin. March 2024 – 10th consecutive record warm month globally. 2024. <https://climate.copernicus.eu/march-2024-10th-consecutive-record-warm-month-globally>.  Acesso em: 04/05/2024.

CRUTZEN, P. Geology of mankind. Nature 415, 23. 2002. <https://doi.org/10.1038/415023a>

FIOCRUZ. Obesidade em crianças e jovens cresce no Brasil na pandemia. 2023.

https://portal.fiocruz.br/noticia/obesidade-em-criancas-e-jovens-cresce-no-brasil-na-pandemia. Acesso em: 09/05/2024

FRANCISCO, Papa. Laudato Si: Carta Encíclica sobre o cuidado da casa comum. Brasília: CNBB. 2015.

IBGE. Rebanhos e valor dos principais produtos origem animal foram recordes em 2022. 2023. <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/37937-rebanhos-e-valor-dos-principais-produto-de-origem-animal-foram-recordes-em-2022>. Acesso em 07/05/2024

KOLBERT, Elizabeth (2015). A sexta extinção em massa: uma história não natural. Editora Intrínseca Ltda. Edição Digital, 2015.

MORIN, Edgar. O Método 1- A natureza da natureza. Porto Alegre: Sulina, 2002.

OBSERVATÓRIO DO CLIMA. Produção do Clima responde por 74% das emissões do Brasil. 2023. https://www.oc.eco.br/producao-de-comida-responde-por-74-das-emissoes-do-brasil/. Acesso 09/05/2024.

PARLAMENTO EUROPEU. Parlamento europeu declarou emergência climática. 2019. <https://www.europarl.europa.eu/news/pt/press-room/20191121IPR67110/parlamento-europeu-declara-emergencia-climatica&gt;. Acesso 01/05/2024.

RIPPLE, William J., Christopher Wolf, Thomas M Newsome, Phoebe Barnard, William R Moomaw.  World Scientists’ Warning of a Climate Emergency. BioScience 70, 1, 8-12. 2020. <https://doi.org/10.1093/biosci/biz088>. Acesso: 07/04/2024

SCHMIDT, G. (2024). Climate models can’t explain 2023’s huge heat anomaly – we could be in uncharted territory. Nature, 627, 467. 2024. <https://www.nature.com/articles/d41586-024-00816-z&gt;. Acesso: 04/05/2024.

WAYCARBON, REDES DA MARÉ. Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas do Conjunto de Favelas da Maré. 2023 <https://www.redesdamare.org.br/media/downloads/arquivos/Analise_de_Risco_WayCarbon.pdf> . Acesso: 30/04/2024.

World Economic Forum. Global Risks Report 2024.

<https://www.weforum.org/publications/global-risks-report-2024/> Acesso 08/04/2024.

 

WMO. State of the Climate in Africa 2020. 2021. <https://library.wmo.int/idurl/4/57682&gt;. Acesso 07/05/2024.

 

Wir sind die denkende, fühlende, liebende und achtsame Erde

                       Leonardo Boff

Heute, am 22. April, ist der Tag der Mutter Erde. Sie ist zum großen und dunklen Objekt der menschlichen Sorge geworden. Wir wissen, dass wir zerstört werden können. Nicht durch einen Meteor, nicht durch eine Naturkatastrophe fantastischen Ausmaßes, sondern durch unverantwortliches menschliches Handeln, insbesondere durch die herrschende kapitalistische Produktionsweise. Es wurden drei Todesmaschinen gebaut, die die Biosphäre zerstören können: die atomare Gefahr, die systematische Aggression gegen die Ökosysteme und der Klimawandel. Aufgrund dieses dreifachen Alarms sind wir aus einer uralten Erstarrung erwacht. Wir sind verantwortlich für das Leben oder den Tod unseres lebendigen Planeten. Die gemeinsame Zukunft, unsere eigene und die unseres geliebten gemeinsamen Hauses – der Erde, die wir so sehr lieben – hängt von uns ab.

Die Ökologie wird als Mittel zur Rettung der Erde beschworen. Nicht nur in ihrem offensichtlichen und technischen Sinn als Verwaltung der natürlichen Ressourcen, sondern als alternative Weltanschauung, als neues Paradigma einer respektvollen und synergetischen Beziehung zur Erde, die als selbstregulierender lebender Superorganismus (Gaia) gesehen wird.

Wir erkennen immer mehr, dass die Ökologie zum allgemeinen Kontext aller Probleme geworden ist, der Erziehung, des industriellen Prozesses, der Urbanisierung, des Rechts, der philosophischen und religiösen Reflexion. Aus der Ökologie heraus entwickelt sich ein neuer Bewusstseinszustand und drängt sich der Menschheit auf, der durch mehr Wohlwollen, mehr Mitgefühl, mehr Sensibilität, mehr Zärtlichkeit, mehr Solidarität, mehr Zusammenarbeit, mehr Verantwortung gegenüber der Erde und ihrer Erhaltung gekennzeichnet ist.

Die Erde kann und muss gerettet werden. Und sie wird gerettet werden. Sie hat bereits mehr als 15 große Verwüstungen durchgemacht und hat immer überlebt und das Lebensprinzip bewahrt. Sie wird auch die gegenwärtigen Sackgassen überwinden. Aber unter einer Bedingung: dass wir unseren Kurs ändern, dass wir von Herren und Meistern zu Brüdern und Schwestern untereinander und zu allen Geschöpfen werden. Diese neue Optik impliziert eine neue Ethik der gemeinsamen Verantwortung, der Fürsorge und der Synergie mit der Erde.

Der Mensch hat in den verschiedenen Kulturen und historischen Phasen diese sichere Intuition offenbart: Wir gehören zur Erde; wir sind Söhne und Töchter der Erde; wir sind Erde, weil wir, wie es in der Genesis heißt, aus dem Staub der Erde stammen (Gen 2,7). Deshalb kommt der Mensch aus dem Humus. Wir kommen von der Erde und wir werden zur Erde zurückkehren. Die Erde steht nicht vor uns als etwas anderes als wir selbst. Wir haben die Erde in uns. Wir sind die Erde selbst, die in ihrer Evolution den Moment der Selbstverwirklichung und des Selbstbewusstseins erreicht hat.

Es gibt also zunächst keinen Abstand zwischen uns und der Erde. Wir bilden ein und dieselbe komplexe, vielfältige und einzigartige Realität.

Dies wurde von mehreren Astronauten bezeugt, die als erste die Erde von außerhalb der Erde betrachteten. Sie sagten es mit Nachdruck: Von hier aus, vom Mond oder an Bord unseres Raumschiffs, können wir keinen Unterschied zwischen der Erde und der Menschheit, zwischen Schwarzen und Weißen, Demokraten oder Sozialisten, Reichen und Armen erkennen. Die Menschheit und die Erde bilden ein einziges großartiges, strahlendes, zerbrechliches und kraftvolles Ganzes. Diese Wahrnehmung ist radikal wahr.

Um es mit den Worten der modernen Kosmologie zu sagen: Wir sind mit denselben Energien, mit denselben physikalisch-chemischen Elementen innerhalb desselben Netzes von All-zu-All-Verbindungen entstanden, die seit 13,7 Milliarden Jahren am Werk sind, seit das Universum in einer inkommensurablen Instabilität (Urknall = Aufblähung und Explosion) in der Form entstanden ist, die es heute hat. Indem wir ein wenig von dieser Geschichte des Universums und der Erde kennen, lernen wir uns selbst und unsere Vorfahren kennen.

Fünf große Akte, so lehren uns die Kosmologen, strukturieren das universelle Theater, in dem wir Mitwirkende sind.

Die erste ist kosmisch: Die Urenergien und Elemente, die dem Universum zugrunde liegen, brachen hervor. Es begann ein Prozess der Expansion, und während es sich ausdehnte, schuf es sich selbst und diversifizierte sich. Wir waren in den in diesem Prozess enthaltenen Virtualitäten dabei.

Der zweite ist physich-chemischer Natur: Im Inneren der großen roten Sterne (die ersten Körper, die sich vor mindestens 5 Milliarden Jahren verdichteten und bildeten) entstanden alle schweren Elemente, aus denen heute jedes Lebewesen besteht, wie Sauerstoff, Kohlenstoff, Silizium, Stickstoff usw. Mit der Explosion dieser großen Sterne (sie wurden zu Supernovae) verteilten sich diese Elemente im Raum und bildeten die Galaxien, Sterne, Planeten, die Erde und die Satelliten der heutigen Phase des Universums. Diese chemischen Elemente zirkulieren in unserem Körper, unserem Blut und unserem Gehirn.

Der dritte Akt ist der biologische: Aus der Materie, die sich in einem Prozess namens Autopoiesis (Selbsterschaffung und Selbstorganisation) komplexiert und um sich selbst wickelt, entstand vor 3,8 Milliarden Jahren das Leben in all seinen Formen, das zwar schwere Zerstörungen erlitt, aber immer überlebte und uns in seiner unermesslichen Vielfalt erreicht.

Das vierte ist das Menschliche, ein Unterkapitel der Geschichte des Lebens. Das Prinzip der Komplexität und der Selbstschöpfung findet im Menschen immense Entfaltungsmöglichkeiten. Das menschliche Leben entstand und gedieh vor etwa 8-10 Millionen Jahren in Afrika. Von dort aus breitete es sich auf alle Kontinente aus, bis es die entferntesten Winkel der Erde eroberte. Der Mensch zeigte große Flexibilität; er passte sich an alle Ökosysteme an, von den kältesten an den Polen bis zu den heißesten in den Tropen, im Boden, im Untergrund, in der Luft und außerhalb unseres Planeten, in Raumschiffen und auf dem Mond.

Der fünfte Akt schließlich ist planetarisch: Die Menschheit, die zerstreut war, kehrt in die gemeinsame Heimat, den Planeten Erde, zurück. Sie entdeckt sich selbst als Menschheit, mit dem gleichen Ursprung und der gleichen Bestimmung wie alle anderen Wesen. Sie fühlt sich als das Bewusstsein der Erde, als kollektives Subjekt, jenseits einzelner Kulturen und Nationalstaaten. Durch die globalen Medien, durch die Interdependenz von allen mit allen, wird eine neue Phase ihrer Entwicklung, die planetarische Phase, eingeläutet. Von nun an wird die Geschichte die Geschichte der Spezies „Homo“ sein, der Menschheit, die mit allem und jedem vereint und vernetzt ist.

Wir können das menschlich-irdische Wesen nur verstehen, wenn wir es mit diesem universellen Prozess in Verbindung bringen; in ihm haben sich die materiellen Elemente und die feinstofflichen Energien verschworen, so dass er langsam heranreifen und schließlich geboren werden konnte.     

Aber was bedeutet das konkret, jenseits unserer Abstammung, unserer Erddimension?

Es bedeutet vor allem, dass wir ein Teil der Erde sind. Wir sind das Produkt ihrer evolutionären Aktivität. Wir haben Elemente der Erde in unserem Körper, unserem Blut, unserem Herzen, unserem Geist und unserer Seele. Aus dieser Erkenntnis erwächst das Bewusstsein einer tiefen Einheit und Identifikation mit der Erde und ihrer immensen Vielfalt. Wir können nicht in die rationalistische und objektivistische Illusion verfallen, uns vor der Erde wie vor einem fremden Objekt oder als ihre Herren und Meister zu sehen. Am Anfang steht eine Beziehung ohne Distanz, ohne Gegenüber, ohne Trennung. Wir sind eins mit ihr.       

In einem zweiten Moment können wir über die Erde nachdenken, uns von ihr distanzieren, um sie besser zu sehen und in sie einzugreifen. Und dann, ja dann distanzieren wir uns von ihr, um sie besser studieren zu können und um auf sie einzuwirken. Diese Distanzierung unterbricht nicht unsere Nabelschnur mit ihr. Deshalb macht dieses zweite Moment das erste nicht ungültig.     

Unsere Verbindung mit der Erde vergessen zu haben, war der Fehler des Rationalismus in all seinen Ausdrucksformen. Er verursachte den Bruch mit Mutter Erde. Er hat den Anthropozentrismus hervorgebracht, die Illusion, dass wir, weil wir über die Erde nachdenken und in ihre Zyklen eingreifen können, uns über sie stellen können, um sie zu beherrschen und über sie zu verfügen, wie es uns gefällt. Darin liegt die Wurzel der aktuellen ökologischen Krise.

Weil wir spüren, dass wir Söhne und Töchter der Erde sind, weil wir die denkende und liebende Erde selbst sind, leben wir sie als Mutter. Sie ist ein generatives Prinzip. Sie repräsentiert das Weibliche, das empfängt, gebiert und uns das Geschken des Lebens gibt. So entsteht der Archetyp der Erde als Große Mutter, Pachamama, Tonantzin, Nana und Gaia. So wie sie alles hervorbringt und das Leben reproduziert, so nimmt sie auch alles auf und sammelt es in ihrem Schoß. Wenn wir sterben, kehren wir zu Mutter Erde zurück. Wir kehren in ihren großzügigen und fruchtbaren Schoß zurück.

Das Gefühl, dass wir die Erde sind, hält uns auf dem Boden der Tatsachen. Es lässt uns alles an der Erde wahrnehmen, ihre Kälte und ihre Hitze, ihre bedrohliche Kraft ebenso wie ihre bezaubernde Schönheit. Den Regen auf unserer Haut zu spüren, die Brise, die erfrischt, den Orkan, der über uns hinwegfegt. Den Atem zu spüren, der in uns eindringt, die Gerüche, die uns berauschen oder verstören. Die Erde zu spüren heißt, ihre ökologischen Nischen zu fühlen, den Geist eines jeden Ortes zu erfassen (spiritus loci). Erde zu sein bedeutet, sich als Bewohner eines bestimmten Teils des Landes zu fühlen. Durch das Bewohnen werden wir in gewisser Weise auf einen Ort, eine Geografie, einen Klimatyp, ein Regen- und Windregime, eine Art zu leben, zu arbeiten und Geschichte zu schreiben beschränkt. Das prägt unsere Verwurzelung.

Aber es bedeutet auch unsere feste Basis, unseren Punkt der Kontemplation des Ganzen, unsere Plattform, um über diese Landschaft und dieses Stück Erde hinaus in Richtung des unendlichen Ganzen zu fliegen.

Die Erde zu spüren bedeutet schließlich, sich selbst in einer komplexen Gemeinschaft mit anderen Söhnen und Töchtern der Erde wahrzunehmen. Die Erde bringt nicht nur menschliche Wesen hervor. Sie bringt eine Vielzahl von Mikroorganismen hervor, die 90 % des gesamten Lebensnetzes ausmachen, die Insekten, die die wichtigste Biomasse der biologischen Vielfalt darstellen. Sie bringt die Gewässer hervor, die grüne Schicht mit der unendlichen Vielfalt an Pflanzen, Blumen und Früchten. Sie bringt die zahllose Vielfalt der Lebewesen, Tiere, Vögel und Fische hervor, unsere Gefährten in der heiligen Einheit des Lebens, denn in allen sind die zwanzig Aminosäuren und die vier Stickstoffbasen vorhanden, aus denen sich jedes Leben zusammensetzt. Im Boden, im Untergrund und in der Luft produziert sie für alle die Bedingungen der Existenz, der Entwicklung und der Ernährung. Die Erde zu spüren bedeutet, in die irdische Gemeinschaft einzutauchen, in die Welt der Brüder und Schwestern, die alle Söhne und Töchter der großen und großzügigen Mutter Erde sind, unserer gemeinsamen Heimat.

Das sind die Gefühle der Zugehörigkeit, die wir an diesem Tag der Mutter Erde pflegen.

Leonardo Boff schrib zusammen mit dem kosmologen Mark Hahtaway: Befreite Schöpfung: Kosmologie- Ökologie-Spiritualität: Ein zukunfsweisendes Weltbild (Butzon/Bercker 2010).

.