A volta da classe do privilégio e o golpe parlamentar

O principal problema brasileiro que atravessa toda a nossa história é a monumental desigualdade social que reduz grande parte da população à condição de ralé.

Os dados são estarrecedores. Segundo Marcio Pochman e Jessé Souza, que substituiu Pochman na presidência do IPEA são apenas 71 mil pessoas (ou 1% da população que representa apenas 0,05% dos adultos), multibilionários brasileiros, que controlam praticamente nossas riquezas e nossas finanças e através delas o jogo político. Essa classe dos endinheirados, que Jessé Souza chama de classe do privilégio, além de perversa socialmente é extremamente hábil pois se articula nacional e internacionalmente de tal forma que sempre consegue manobrar o poder de Estado em seu benefício.

Estimo que seu maior feito atual foi vergar a orientação da política dos governos Lula-Dilma na direção de seus interesses econômicos e sociais, apesar das intenções originais do governo de praticar uma política alternativa, própria de um filho da pobreza e do caos social, como era o caso de Lula.

A pretexto de garantir a governabilidade e de evitar o caos sistêmico, como se alegava, essa classe do privilégio conseguiu impor o que lhe interessava: a manutenção inalterável da lógica acumuladora do capital. Os projetos sociais do Governo não a obrigava a renunciar a nada, antes, eram funcionais a seus propósitos. Chegavam a dizer entre si, que em vez de nós, da elite, governarmos o país, é melhor que o PT governe, mantendo intocáveis nossos interesses históricos, com a vantagem de não termos mais nenhuma oposição. Ele assina em baixo de nossos projetos essenciais.

Essa classe de endinheirados coagia o governo a pagar a dívida pública antes de atender as demandas históricas da população. Assim quitava-se a dívida monetária com sacrifício da dívida social, que era o preço para poder fazer as políticas sociais. Estas, nunca havidas antes, foram robustas e incluíram cerca de 40 milhões de pobres no consumo.

Os mais críticos perceberam que esse caminho era demasiadamente irracional e desumano para ser prolongado. Foi aqui que se instalou um estremecimento entre os movimentos sociais e o governo Lula-Dilma.

Tudo indicava que, com quatro eleições ganhas, apesar dos constrangimentos sistêmicos, se consolidava um outro sujeito de poder, vindo de baixo, das grandes maiorias oriundas da senzala e dos movimentos sociais. Estas começaram a ocupar os lugares e usar os meios antes reservados à classe média e aos da classe do privilégio que, no fundo nunca aceitou o operário Lula e nunca se reconciliou com o povo, antes o desprezava e humilhava. Foi aí que os antigos donos do poder despertaram raivosamente, pois poderiam pela via do voto nunca mais chegar ao poder.

Instaurada uma crise político-econômica sob o governo Dilma, crise cujos contornos são globais, a classe do privilégio aproveitou a oportunidade para agravar a situação e, pela porta dos fundos, chegar ao Planalto. Criou-se uma articulação nada nova, já ensaiada contra Vargas, Jango e Juscelino Kutischek, assentada sobre o tema moralista do combate à corrupção, salvar a democracia (a deles que é de poucos). Para isso era necessário suscitar a tropa de choque que são os partidos da macroeconomia capitalista (PSDB,PMDB e outros),apoiados pela imprensa empresarial que foi o braço estendido das forças mais conservadores e reacionárias de nossa história com jornalistas que se prestam à distorção, à difamação e diretamente à difusão de mentiras.

A narrativa é antiga, pois sataniza o Estado como o antro da corrupção e magnifica o mercado como o lugar das virtudes econômicas e da inteireza dos negócios. Nada mais falso. Nos Estados, mesmo dos países centrais, vigora corrupção. Mas onde ela é mais selvagem é no mercado, pois sua lógica não se rege pela cooperação mas pela competição, onde praticamente vale tudo, um procurando engolir o outro. Há milionárias sonegações de impostos e grandes empresários escondem seus ganhos absurdos em contas no exterior, em paraísos ficais como se tem denunciado recentemente pela Zelotes, Lava-Jato e Panamá-papers.

Portanto, é pura falsidade atribuir as boas obras ao mercado e as más ao Estado. Mas essa narrativa, martelada continuamente pela mídia empresarial, conquistou a classe média. Diz Jessé Souza com acerto: “em literalmente todos os casos a classe média conservadora foi usada como massa de manobra para derrubar os governos de Vargas, Jango e agora Lula-Dilma e conferir o “apoio popular” e a consequente legitimidade para esses golpes sempre no interesse de meia dúzia de poderosos”(A tolice de inteligência brasileira, Leya 2015,p. 207).

Na base está uma mesquinha visão mercantilista da sociedade, sem qualquer interesse pela cultura e que exclui e humilha os mais pobres, roubando-lhes o tempo de vida nos transportes sem qualidade, nos baixos salários e na negação de qualquer perspectiva de melhora já que são destituídos de capital social (educação, tradição familiar etc). Para garantir sucesso nessa empreitada perversa se criou uma articulação que envolve grandes bancos, a FIESP, a MP, a PF e sectores do judiciário. No lugar das baionetas funcionam agora os juízes justiceiros que não relutam em passar por cima dos direitos humanos e da presunção de inocência dos acusados, com prisões preventivas e pressão psicológica para a delação premiada, com conteúdos sigilosos divulgados pela imprensa.

O atual processo de impeachment à presidenta Dilma,mediante um golpe parlamentar, se inscreve dentro desta quadro golpista pois se trata de tirá-la do poder não por via eleitoral mas pela exacerbação de práticas administrativas consideradas crime de responsabilidade. Por eventuais erros (concedido mas não aceito) se pune com o supremo castigo uma pessoa honesta contra a qual não se reconhece nenhum crime.

A injustiça é o que mais fere a dignidade de uma pessoa. Dilma não merece essa dor, pior do que aquela sofrida nas mãos dos torturadores.

*Leonardo Boff é articulista do JB on line e escritor.

31 comentários sobre “A volta da classe do privilégio e o golpe parlamentar

  1. Como sempre Leonardo descreve de maneira muito clara a bizarrice por onde perpassa a polígica Brasileira, pena que para compreensão de tão poucos! Excelente texto.

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  2. Muita sabedoria Leonardo Boff,pq invés se sacrificar os pobresels não taxam as gtandes empresas? Parece q esse é o gatilho do golpe. Tirar um pouco d o peso das costas dos pobres dividindo a carga com os ricos.

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  3. Gozado, não vejo fundamento no artigo, primeiro porque a crise brasileira é justificada por causa dos “contornos globais”, e essa justificativa se frustra ao notarmos que em detrimento da crise global a maioria dos países cresceram, só aí se desqualifica o que o restante do artigo mostra, que a crise brasileira é de responsabilidade do PT. Ou o fato de ter cedido aos “interesses da casa grande” não é motivo suficiente para condenar um governo por irresponsabilidade? A injustiça não fere a dignidade das pessoas, quem mantém a integridade não se fere com a injustiça. A justiça está sendo feita e esta, sim, fere quem agiu com inconsequência, quem mentiu, quem errou. Ou não? Ou a misericórdia deve ser exercitada?

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  4. É uma leitura, possível. Costumo dizer que se eles não fazem por mal, o mal fax por eles. Mas a dor da tortura deve ter sido pior.

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  5. Não se iluda, companheiro. A natureza não cuida de nada destas coisas…
    Hoje ainda há os coxinhas GOLPISTAS, traidores e sabotadores, há os trouxinhas e há os idiotas idiotizados e há nós.

    Da última vez que houve um golpe assim, o sistema permaneceu lesando o povo brasileiro por 21 anos de ditadura, mais outros tantos com a privataria tucana, o proer e outros golpes, um após o outro, até que o governo popular do PT conseguiu, de forma legítima e democrática, chegar ao poder.

    “CHEGAMOS AO INFERNO! BEM VINDOS …”
    > https://gustavohorta.wordpress.com/2016/05/12/chegamos-ao-inferno-bem-vindos/

    “BEM VINDOS AO INFERNO. BIENVENIDO AL INFIERNO. WELCOME TO THE HELL.”
    > https://gustavohorta.wordpress.com/2016/05/12/bem-vindos-ao-inferno-bienvenido-al-infierno-welcome-to-the-hell/

    Estamos dispostos a esperar outras quantas décadas?

    Vamos levantar a cabeça sim. Foi declarada a guerra contra o povo!
    A reação deve ser a altura das agressões.

    BRASIL ESTRAÇALHADO!
    E O ÂNUS DO POVO? E O CU DA NAÇÃO?

    “NÓS CONHECEMOS A LÍNGUA QUE ELES ENTENDERÃO: PREJUÍZOS, MUITOS”
    >> https://gustavohorta.wordpress.com/2016/03/29/nos-conhecemos-a-lingua-que-eles-entenderao-prejuizos-muitos/

    “PREJUÍZO PODE VIR A SER A RESPOSTA! – QUEM PLANTA MERECE A COLHEITA DO QUE PLANTA”
    >> https://gustavohorta.wordpress.com/2016/05/04/prejuizo-pode-vir-a-ser-a-resposta-quem-planta-merece-colheita-do-que-planta/

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  6. Isso é política, Frei. Política brasileira, quem tem as mãos limpas na política?

    Concordo com o senhor que a classe social que tomou o poder são mais corruptos que os membros do Partido, mas honesta Dilma não é. Não poder provar materialidade do ato corrupto não é o mesmo que ser inocente. Se fosse assim, muitos mafiosos e narcotraficantes seriam inocentes,.

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  7. É uma realidade dura, e apoiada pela relé da sociedade, conheço muita gente que não faz parte das elite defendendo o golpe. Onde vamos parar?

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  8. Carta aos meus alunos sobre o golpe.

    Porque não tenho medo do golpe.
    Há alguns dias estamos assistindo a um filme retrô com tons de cinema de horror da pior qualidade: o impedimento de uma presidente da república e uma vertiginosa escalada ao poder de um grupo de políticos que não obtiveram nas ruas o direito de representar o país. Estamos em uma democracia e, baseados em especulações discutíveis, desde a última quinta-feira somos governados por uma trupe de homens que simplesmente ignoram o rito democrático enquanto vociferam defendê-lo. Mas se engana quem acredita que toda essa movimentação começou nos últimos dias, semanas ou meses. A votação no senado, que determinou o afastamento de Dilma Rousseff, foi apenas e tão somente o ponto até aqui mais enfático de uma série de atos começados no dia em que se divulgou a sua vitória para o segundo mandato. Não vou apelar para a memória de ninguém. Basta ter um pouco de paciência e procurar em um canal de vídeos as notícias veiculadas naquele dia sobre os indignados, nas grandes cidades do sudeste principalmente, diante da conclusão do pleito que deu à senhora Rousseff o direito de governar o país por mais quatro anos. As manifestações contra Dilma e contra o PT começaram tão logo ficou explícita a sua vitória. Precisamos entender o que aquelas manifestações queriam dizer porque é à partir delas que o show de horrores hodierno se explica.
    Meus queridos alunos, vocês vão se recordar das inúmeras vezes que eu aconselhei à cada um de vocês que lessem com calma e parcimônia três grandes obras da nossa historiografia : “Casa Grande & Senzala”, do Gilberto Freyre; “Raízes do Brasil”, do Sérgio Buarque de Holanda e “Formação do Brasil Contemporâneo”, do Caio Prado Jr. Se tiveram o discernimento de fazer essas leituras vão compreender que o Brasil é um país historicamente atrelado à elites ressentidas e reacionárias, reprodutoras do contraste histórico entre a “Casa Grande” e a “Senzala”, de que fala Freyre. Essas mesmas elites que se indignaram diante da quarta vitória consecutiva do PT para governar o país; que encheram avenidas como a Paulista para pedir desde o afastamento do PT até o retorno do militarismo. Por esdrúxulo que possa ser tal cenário, eram pedidos como esse que as faixas na Paulista e em outras localidades faziam. O comportamento típico dessas elites pode ser enquadrado num anátema da nossa democracia: a questão da governabilidade, ou seja, a necessidade de se ter maioria no congresso para conseguir governar. Essa conjuntura se especifica no partido que sempre consegue maioria no congresso, formado em sua grande maioria por políticos mobilizados pela defesa dos interesses das elites minoritárias do país. O irônico, na atual conjuntura, é que esse mesmo partido participou de todo o governo que agora critica e desembarcou do governo ao perceber que algo não ia bem. Citei “Raízes do Brasil” para que associem esses políticos que se comportam como ratos, deixando o navio ao primeiro sinal de naufrágio, ao que Sérgio Buarque de Holanda chamou de homem cordial: sempre atencioso, obsequioso e sempre à espreita, à espera de uma chance para usurpar por manobras políticas aquilo que não conseguiu legitimamente nas urnas.
    Quando a presidente Dilma foi reeleita o grande desafio a enfrentar deixou de ser a conclusão de suas propostas de governo e passou a ser a luta árdua para conseguir permanecer governando. Ouvindo, com lágrimas nos olhos e o coração pesado às suas palavras na coletiva de imprensa após ser notificada do resultado da votação no Senado, não pude deixar de me recordar da menção de Getúlio Vargas às forças ocultas, que trabalham dia e noite para manter esse país sob os pés de suas elites econômicas e políticas, que estão no poder desde o período colonial. Concordo plenamente com o senhor Leonardo Boff, em seu brilhante texto “O que se esconde por detrás do ódio ao PT”: todo esse estranho movimento de caça às bruxas erigido contra a presidente Dilma e o PT é menos contra o PT e menos contra a própria Dilma e mais contra uma infinidade de mudanças que, ao longo desses últimos 13 anos, temos assistido em nosso país. Não é apenas um revanchismo partidário; não é apenas uma questão jurídica; não é apenas uma questão econômica. O que estamos assistindo nos últimos meses, o que estamos assistindo nos últimos dias, é o ataque das ideologias reacionárias que rastejam no submundo do poder às mudanças positivas que se tornaram possíveis com o amadurecimento político que o país começou a viver. E não raro todo esse ataque ideológico é feito como um ataque à ideologia do Partido dos Trabalhadores, que historicamente pretende transformar o país em uma República atenta às necessidades de seus homens e mulheres trabalhadores que, responsáveis pela construção do país, nunca puderam usufruir de sua riqueza, reservada aos dominadores, colonizadores, coronéis, empresários e políticos.
    Não omito e não desminto a corrupção. Ela existe e é certamente nosso pior problema, como povo, como nação. Mas, como a própria Dilma Rousseff disse certa vez: a corrupção é uma senhora muito idosa nesse país. E pela primeira vez está sendo combatida. Pela primeira vez se ouve dizer que empresários poderosos, políticos e outros nomes de peso na sociedade estão sendo acusados, processados e condenados por corrupção. Em que outro momento se viu tal fato? Mas para as “forças ocultas” do país, é muito mais fácil acusar o PT, a primeira mulher a chefiar o executivo, do que entender que tudo isso só se tornou possível porque o país começou a mudar. Muitos dirão que a crise econômica foi, no fim das contas, o motivo pontual para o processo de impedimento. E aí eu me recordo do ranço que esse país carrega em relação ao pouco caso que sempre fez e faz de sua educação. A crise internacional lançou ondas de impacto muito fortes há alguns anos. Cedo ou tarde teríamos mesmo que senti-la, é um fato. Não procuramos as respostas corretas, preferimos recorrer ao facilitado lugar comum de dizer que “a culpa é do PT”. E fazemos isso ignorando os complexos movimentos de transformação da relação capital X trabalho no interior do capitalismo; ignoramos a mutação que o próprio sistema capitalista está sofrendo em nossa época; ignoramos a automação da produção; ignoramos a explosão demográfica; ignoramos as mudança nos padrões sociais. É mais fácil culpar o PT. Assim como é mais fácil a prática da violência que o exercício da concórdia.
    Sofremos um golpe sim. Um golpe orquestrado e executado por políticos que estão no poder para garantir que os interesses de uma minoria se sobreponham às necessidades de uma imensa maioria. Mas eu não sou pessimista. Perdemos a batalha mas não perderemos a guerra. Se “eles” se deram ao trabalho de montar toda essa atmosfera de feira medieval para retirar a presidente Dilma do poder é porque temeram. E as primeiras notícias sobre o governo golpista provisório chamam atenção para as manobras para reduzir, cercear e certamente eliminar as investigações que estão mapeando, dando nomes e prendendo homens e mulheres que, indiferente ao partido a que pertencem, lesaram o país. Cito entre outros fatos a postura do novo governo em relação à Controladoria Geral da União (CGU) para que pensem o nível de autonomia que as investigações passarão a ter sob esse novo governo. Além disso, é necessário pensar o elevado número de ministros indicados para compor o governo comprometidos com escândalos de corrupção; a ausência de mulheres e pessoas negras; a indicação a cargos de importância máxima de homens com histórico de defesa da violência e do descumprimento de direitos constitucionais. O governo golpista provisório que vem se apresentando à sociedade é escandalosamente monstruoso e claramente ajustado para caber no plano de reajuste do país em uma política de direita fortemente neoliberal.
    É porque o Brasil mudou que esse golpe aconteceu. O que “eles” querem é realinhar o país àquela velha e conhecida política de máxima exploração; querem o que historicamente sempre lhes foi dado; querem a manutenção de uma realidade onde os pobres ficam mais pobres e os ricos ficam mais ricos. A mídia enfatizou de forma quase nojenta a oscilação da bolsa de valores durante todo o período de votações tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal, deixando claro que o “mercado” se preocupa com a posição política do Brasil. Mas o “mercado”, que dirige o interesse das elites endinheiradas, não se importa com o trabalhador. Sim, é um fato irrefutável: o capital especulativo quer preservar a sua certeza de lucros, lucros cada vez maiores e mais robustos, indiferentemente a manutenção da saúde, educação e segurança dadas à população. Esse capital especulativo, que entra no país com uma velocidade tão grande quanto a que usa para sair, não vê o brasileiro, não vê o trabalhador, não vê suas necessidades. Em que mundo poderíamos esperar outra atitude do capital?
    O fato é que o país mudou. Desde que o Brasil começou seu processo de redemocratização, em 1985, as diversas experiências políticas vividas operaram uma transformação positiva na sociedade. Ressalto aqui tanto o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello quanto o combate à hiper-inflação, o plano real e a eleição de Luis Inácio Lula da Silva para seu primeiro mandato. O país mudou e o povo mudou. Hoje já não é possível que se pretenda fazer no país o que se fez no passado: mesmo que ainda não goze da plena maturidade política que só o tempo e um processo de educação profundo e sólido pode dar, o povo amadureceu o suficiente para perceber o quanto é forte e o quanto é influente. O mundo, de forma geral, nos últimos 30 anos tem sofrido alterações irreversíveis e, ainda que nem todas sejam positivas, podemos perceber que o cenário mundial já não permite arroubos sem que existam indignação e revolta e reações. O presente golpe só foi possível porque “eles” ainda detém um controle histórico sobre a política, porque ainda conseguem negar ao povo educação de qualidade, não para que nosso povo seja eficiente como “exército de produção” para o capitalismo mas, para que seja pleno nos seus direitos; porque ainda é negada ao povo saúde de qualidade, segurança, bem-estar de forma geral. “Eles” ainda estão lá e se preservam, passando de pai para filho o domínio sobre a política, ainda como no tempo dos coronéis.
    Seria ingenuidade pensar que a luta seria fácil. E a indignação diante da vergonhosa votação no Congresso, feita como se estivessem competindo em um campeonato de várzea, só foi maior do que a votação no Senado. Tudo um jogo de cartas marcadas. Desde o início sempre se soube que a presidente seria impedida porque, entre mandos e desmandos, entre jogadores mais e menos competentes ou bem dispostos, entregou-se a ovelha aos lobos. Em que universo paralelo um julgamento envolvendo PSDB, PMDB e PT esse último poderia sair vencedor? …
    Enfim, creio que nós perdemos. Nós perdemos … mas nós ganhamos, e isso não é um equívoco. Perdemos a batalha porque nossa democracia ainda é refém desses grupos motivados por interesses privados; mas ganhamos porque não fosse o país ter mudado, não fosse o Brasil estar melhor hoje do que esteve em quaisquer outros momentos anteriores, provavelmente “eles” não se dariam ao trabalho de armar um plano de ataque tão bem elaborado. Eu não tenho medo do golpe. Não tenho medo do golpe porque tenho fé no meu país. E tenho fé no meu país porque tenho fé nos meus alunos. Vocês cresceram em um mundo que apontou para vocês caminhos possíveis, horizontes alcançáveis. Fomos colônia de exploração sim; mas vocês não aceitarão ser explorados. Vivemos sob a vergonhosa condição da escravidão sim; mas vocês não aceitarão ser escravizados. Tivemos uma ditadura militar sim; mas vocês não aceitarão ser oprimidos. Parafraseando o senhor Leonardo Boff, todo aquele que aprendeu a voar, jamais aceitará rastejar outra vez. O que está em jogo no nosso país hoje não é mais a aceitação ou não do PT, o gostar ou não de Dilma Rousseff. Estamos assistindo a um ataque à vontade de milhões de brasileiros que elegeram seu presidente. Estamos assistindo o esgotamento de nosso sistema político; estamos assistindo ao esgotamento dessa matriz econômica baseada apenas na exploração compulsiva. Mas insisto: não tenho medo do golpe. Houve golpe sim e, nesse caso, haverá também resistência porque nenhum de nós se calará diante da corrupção daqueles homens que lesam de forma brutal nosso povo, nosso país. O golpe é o comportamento típico da direita reacionária, dessa direita que escala ao poder por artimanhas e manobras e não pelo voto do povo. O que resta à cada um de nós é perseverar na resistência contra o autoritarismo, contra as manobras das elites, contra a corrupção e contra todo e qualquer estado de coisas que coloque em questão os direitos elementares, constitucionais, conquistados por nós, cidadãos brasileiros. Eu não tenho medo do golpe e aconselho à cada um de vocês não temer também. A história há de mostrar que foi a luta de cada um de nós, nossa capacidade de resistir e de criar uma outra sociedade, melhorada e reflexiva, o que deu ao nosso país a chance de continuar. Não aceitem nada menos e nada menor do que a possibilidade de lutar por seu país. Só a luta pode nos garantir o futuro, só a resistência nos assegurará o direito de continuar lutando.Houve golpe, mas haverá resistência. Não permitiremos retrocesso. O progresso do nosso país e o futuro de nossa nação dependem apenas de nossa capacidade de resistir e de continuar. Eu tenho fé em vocês e por vocês acredito no meu país.

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  9. Meu querido Frei, como negar os ROUBOS escabrosos, visíveis, gritantes e vergonhosos do Governo do PT e suas lideranças consagradas. Esse clichê de “golpe” e “forças da direita” está parecendo discurso semelhante ao de intelectuais alemães defensores do nazismo, à época de Hitler. Eles se negavam a enxergar os equívocos, erros e atrocidades. Um religião ideológica. A esquerda envelheceu, está míope e se comporta como uma religião fossilizada. As temáticas históricas de grande relevância produziram mais esquerdopatas que mentes lucidas e de reflexão crítica. A direita se aproveitou disso e hoje o Brasil está solteiro. Não quer a Esquerda caduca e nem gosta da Direita podre. Precisamos de um novo modelo que gere resultados e produza avanços em todos os níveis. Principalmente entre os mais desfavorecidos de verdade. Para que se pare de usar os pobre como massa de manobra ou bucha de canhão. Chega de blá,blá,blá e mi,mi,mi,mi…

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    • Nao respeitar a vontade de 54 milhoes de brasileiros que votaram em Dilma eh derespeito a democracia. Nunca aceitariamos esse derespeito contra Angela Merkel aqui na Alemanha, mesmo que algumas medidas do governo dela nao sejam “do nosso gosto”. E as palavras maldosas, os insultos, a falta de respeito etc. mostraram o quanto somos ainda uma “Republica das bananas”.

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  10. A gente que se encontra dentro do furacão, é difícil nos situarmos dentro da história, para compreendê-la na sua integralidade. Os bastidores políticos, os conchavos sigilosos de políticos e elites globalistas, as manipulações e calúnias, [como sabemos, às custas dos mais desfavorecidos], deixa a atual situação do país numa nebulosidade tal, que não permite a maior parte da população veja com clareza e lucidez o melhor rumo a ser tomado pela nação.

    A mentira repetida milhões de vezes pela mídia golpista, faz com que a Verdade se torne mentira, e a mentira ‘verdade’.

    Mesmo em pleno século XXI, com diversificados meios de comunicação de massa, as elites globalistas do poder econômico ainda conseguem vender e impor uma versão da história, que serão ensinadas depois nas escolas, como a verdade suprema.

    É difícil encontrarmos profetas e pastores, que orientem e iluminem a realidade sombria do nosso povo, através da Verdade e do amor, e que não trocam a verdade e as ovelhas por cargos, favores e privilégios.

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  11. Leonardo Boff é extremamente importante suas produções e posicionamentos. Nos ajuda a termos força para continuar!

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  12. Hoje, já não se pode mais confiar em ninguém, tenho dó dos alienados que se deixam levar pela opinião da massa.

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  13. Estes capitalistas, são uns infelizes, dignos de pena.”Caixão não tem gaveta e mortalha não tem bolso”. É lamentável a vida que levam e a eternidade que os espera! Marízia Costa Carmo Lippi-Diocese de Petrópolis-RJ, 18/5/16.

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  14. Em sintonia com o que acabei de ler neste texto de Boff e indignado pelas últimas declarações e artigos da grande mídia, reservei algumas linhas para os malfeitores

    1) Aos economistas e tecnocratas do governo golpista.

    – Que história é essa de reduzir o desemprego e aumentar a idade para aposentadoria? Que contra senso, né? Aumentando o tempo de serviço, diminui-se a abertura de vagas, e aumenta o desemprego. Ora, fica, então, patente o alinhamento de vocês com a elite perversa brasileira, pois, se o Brasil é um país pentacampeão em desigualdade, a primeira medida que deveria ser cogitada teria que ser a taxação das grandes fortunas, principalmente, aquelas oriundas da ciranda financeira, a dos rentistas, e não mexer nos direitos dos trabalhadores;
    – Poupe-nos daquelas histórias do bolo crescer para depois dividir ou a da aplicação do remédio amargo. Chega de papo furado. Todos sabemos que ‘austeridade’ é um eufemismo, que já nasce desgastado, do velho arrocho ao trabalhador, e um esculacho na nossa dignidade;
    – Saiam às ruas do Brasil, andem a pé pelos centros das cidades, pelas periferias. O país é de vocês também, por direito. Tenho certeza que serão as melhores aulas de pós-graduação que os senhores terão na vida;
    – A vida é muito curta e valiosa para desperdiçá-la fazendo mal aos outros.

    2) À grande mídia

    – Não saiu “a ideologia e entrou o comércio”. A ideologia nunca deixa de ‘estar’. A anterior era capitalista, de mercado, com orientações de welfare state. Ou seja, não existia Marx, mas lampejos de Keynnes; a golpista é capitalista e neoliberal, de caráter monopolista (não concorrencial). Estudem ou sejam mais honestos. Ou ambos;
    – Não evoquem, novamente, em suas páginas, o ‘economês’ burguês de pibs e superávits. Sejam mais competentes e tenham mais compromisso social, traduzindo esses indicadores para uma linguagem mais acessível e contextualizada. Não precisamos mais dessa xaropada. Os tempos do Delfim já vão longe, graças a Deus. Não queiram ressuscitar o que já sofremos;
    – E repetindo o que disse no item 1, a vida é muito curta e valiosa para desperdiçá-la fazendo mal aos outros.

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  15. Sinceramente, depois de ler um texto coerente desse, sinto-me aliviada por não ter ido para as ruas gritar “Fora Dilma”, e o pior, ter que engolir vários personagens da lava-jato, comandando o país.

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  16. Muita gente defende o golpe, com a justificativa de que a esquerda está ultrapassada e que Dilma não é honesta, etc e tal. A pergunta que não quer calar, aqui no chamado chão de fábrica, é: “se não há crime, de parte da Presidenta, por que o impeachment?”. É só isso. Pouco se me dá que a direita não goste da esquerda, e vice-versa. O que interessa, neste momento crucial, é saber o porquê do impedimento de uma Presidenta eleita por mais de 54 milhões de eleitores(as), legal e indiscutivel. E, pior, alegar suspeita sobre Lula e Dilma, quando estão, hoje, no comando da Nação, cidadãos da mais alta suspeição, a começar por Temer, Cunha, Aloysio! É com essa gente que se quer combater a corrupção? Não se combate a corrupção, corrompendo a Constituição! E o Poder Judiciário? Age abertamente a favor do golpe e contra tudo e todos que se digam simpáticos à Presidenta golpeada. Não cabe ao Judiciário se imiscuir em considerações de caráter político, já que deve se limitar a observar a correta aplicação das leis e da Constituição. Alguém disse isso e eu gravei na memória: A indignação corrói a todos que os que temos capacidade de indignarmo-nos a cada vez que se comete uma injustiça, em qualquer parte do mundo. Eleição se ganha no voto. Convençam os eleitores, ao invés de andar por aí, espalhando a cizânia!

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    • Não vejo quem defenda o golpe, a não ser que seja considerado golpe o que o PT fez com os recursos públicos para se manter no poder, mas esse comentário só demonstra o quanto a carta do Temer traduz a realidade, o PT se mostra tão autocrático, autossuficiente, soberbo, quando passa a discursar que o vice não tem responsabilidade compartilhada nos 54 milhões de votos que obteve. E mesmo assim, esses 54 milhões de eleitores, não todos, mas creio que a maioria que possa ter alguma consciência e que não esteja sendo “beneficiado” de alguma maneira espúria, foi enganado pelo mascaramento da situação econômica do país promovido na campanha. Ou será que não houve isso? Ou será que eu estou enganado ao entender que o represamento das cobranças de energia elétrica, combustíveis e outras, não era um simulacro, pago com dinheiro público para enganar eleitores mais desavisados ou com um cartão do Bolsa Família usado como tapa de cabresto? A quem interessa a cizânia? Isso estamos vendo agora…

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  17. EU ME SINTO, COMO A MAIORIA DOS BRASILEIROS, ESMAGADA POR TODOS ESSES ACONTECIMENTOS QUE CULMINARAM COM O GOLPE E A DEPOSIÇÃO DE DILMA DO GOVERNO. A INJUSTIÇA, A MENTIRA E O SENTIMENTO DE IMPOTÊNCIA NOS DÁ A IMPRESSÃO QUE VAI EXPLODIR EM NOSSO PEITO, ASSISTIR AO PISOTEIO DA DEMOCRACIA E DA CONSTITUIÇÃO É COMO UMA PUXADA DE TAPETE E NOS DEIXA DESNORTEADOS E MEDROSOS. ELEGEMOS UMA PRESIDENTE PELO VOTE LIVRE E ELA É SIMPLESMENTE AFASTADA POR UMA TURMA DE MALFEITORES QUE OBEDECE E SEGUE ÀS MAIS DIVERSAS INSTÂNCIAS E COMPROMETIMENTOS, MENOS À VERDADE. À JUSTIÇA E O RESPEITO ÁS NOSSAS LEIS E AO PAÍS. ESTAMOS VENDO AS NOSSAS INSTITUIÇÕES QUE DEVERIAM SER AS MAIS SÉRIAS TOTALMENTE ENVOLVIDAS E COMPROMETIDAS NESSE GOLPE E NESSE PLANO MAQUIAVÉLICO.
    É COMO SE TIVÉSSEMOS PERDIDO O QUE TINHAMOS DE MAIS PRECIOSO E SENTIMOS QUE QUASE NADA PODEMOS FAZER NEM TEMOS QUEM NOS DEFENDA, TODOS FALHARAM, TODOS ESTAVAM COMPROMETIDOS, COMPROMETIMENTO ESSE QUE NOS ENVERGONHA PORQUE ENVOLVE NOSSOS BENS, NOSSAS ROQUEZAS, NOSSA LIBERDADE! OBRIGADA LEONARDO BOFF POR FALAR TÃO BEM POR TODOS NÓS… QUE DEUS O ILUMINE SEMPRE…

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