O golpe valeu a pena para 1% da população:Manfredo de Oliveira

MANFREDO DE OLIVEIRA é  brilhante professor de filosofia da Universidade Federal do Ceará. Sua filosofia aborda preferentemente temas de política e ética acompanhando a produção acadêmica mais séria daqui e de fora. É uma das inteligências mais lúcidas que temos no campo da filosofia política e da ética, além de dominar o campo da teologia. Depois que se passou  um ano do que se perpetrou contra a Presidenta Dilma Rousseff temos a distância suficiente e os dados necessários pasra considerar os reais propósitos do assim chamado golope jurídico-parlamentar-mediático ocorrido em 2016. É importante termos esclarecimentos sobre esta situação que é recorrente em nossa história, especialmente o que faz a oligarquia brasileira quando se sente ameaçada pela ascensão das classes populares marginlizadas que querem mais participação na sociedade e na riqueza gerada pelo seu trabalho. O texto foi publicado pelo Instituto Humanitas de Unisinos do dia 20/12/17  sob o título Valeu a pena? Lboff

*************************

“O ano se aproxima do fim e a direção que está sendo dada ao país está tornando possível às pessoas entenderem que o que estava em jogo no afastamento do governo anterior era, na realidade, mais uma versão de uma característica do Brasil marcado, desde a primeira metade do século XX, pelas mudanças estruturais das sociedades modernas”, escreve Manfredo Araújo de Oliveira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Como afirma Jessé Souza: “… a vida política do Brasil, desde então, é dominada por golpes de Estado movidos pela elite do dinheiro com o apoio da imprensa e da base social da classe média, sempre que a soberania popular ameaçar ou efetivar, por pouco que seja, interesses das classes populares”. Trata-se sempre de um amplo acordo de interesses entre as diversas elites que agora é comandado pela elite financeira.

Por isto, o primeiro interesse a ser considerado é o interesse econômico uma vez que a elite econômica pode comprar todas as outras elites através de diferentes estratégias. Por exemplo, ela apoiou sua sócia no saque da sociedade, que é a mídia, e tentou comprar as eleições através do financiamento das campanhas e pela cooptação de um aliado de ocasião dentro do Estado, o aparato jurídico-policial. Para ele, o golpe não teria acontecido sem a politização do judiciário o que agora aparece em nova luz: a Constituição é deixada de lado, direitos são negados. Isto faz aparecer a natureza do que se articulou: a junção de capitalismo selvagem de rapina e do enfraquecimento das garantias democráticas. A execução do plano foi um jogo de mestres: em nome da justiça e da moralidade se fez um violento ataque à democracia e às garantias constitucionais. Uma vez consumado o golpe, todos os interesses articulados partem para a rapina e o saque do espólio: vender as riquezas brasileiras, em primeiro lugar o petróleo, cortar gastos sociais já que o que  vale primeiro é o interesse do 1% mais rico.

Onde ficam os pobres neste projeto? No esquecimento, na marginalidade, com salários aviltantes por serviços à classe média e às empresas dos endinheirados. Os juros bancários estão entre os maiores do mundo e constituem uma espécie de taxa universal que se adiciona a todos os preços de mercado, pesando arbitrariamente sobre todas as classes sociais, proporcionalmente mais sobre os pobres, a fim de drenar o produto do trabalho de todos para o bolso da elite do dinheiro. Como diz Dowbor: “Os bancos e outros intermediários financeiros demoraram pouco para aprender a drenar o aumento da capacidade de compra do andar de baixo da economia, esterilizando em grande parte o processo redistributivo e a dinâmica e o crescimento estimulado  pela demanda”.

Esta é, diz Jessé, a verdadeira “corrupção brasileira”, escandalosa, mas invisível, que faz com que o trabalho de todos vá parar no bolso de menos de 1% e privilegiados “que não apenas vampirizam a sociedade e sua capacidade produtiva, mas colonizam a democracia e a sociedade para seus fins”. Estes podem afirmar tranquilos: o golpe valeu a pena!

11 comentários sobre “O golpe valeu a pena para 1% da população:Manfredo de Oliveira

  1. Não entendi, uma coisa. Que golpe? Onde houve golpe? Quando?Quem deu golpe? Explique melhor, pois o que sabemos é que foi afastada do governo a presidente que nunca deveria ter sido eleita, que faz parte de uma quadrilha que se adonou do governo em proveito próprio e que iludiu a população brasileira com mentiras.

    Curtir

    • Humberto, vc esqueceu que vivemos numa democracia e que Dilma ganhou a preferência do povo, venceu com 54 milhões de votos. Contra ela não se apontou nehum desvio de dinheiro, nem conta no exterior nenhum delito e mesmo assim foi condenada. Agora sabemos o que estava por trás de um verdadeiro golpe, feito contra a soberania popular, para o enriquecimnto da oligarquia que sempre dominou em nosso pais, como mostra o artigo de Manfredo Oliveira e outros historiadores. Compre e leia o livo do sociologo Jessé Sousa: A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato, Editora Leya 2017.

      Curtir

      • Sr. Boff
        Acho que não é intenção do texto e provavelmente nem do blog, pelo que até peço desculpas, mas achar a ex ocupante da presidência não tem culpa no cartório é acreditar em papai noel. Na visão de uns ocorre um golpe, se faz tudo errado, e ninguém faz nada? Um mimimi danado e uma choradeira de quem perdeu as tetas das mordomias e roubalheiras instituídas ao longo ao tempo pelo poder, Ou essas mesmas pessoas não tem argumentos jurídicos, legais, capazes de desfazer o feito, ou param com essa mania de perseguição, esse complexo de cachorro viralatas. E olha que eu não concordo com o que foi feito, mesmo porque acho o atual ocupante da cadeira é pior que sua antecessora. Nesse pais é assim, só tem merda, então vai essa merda mesmo. Essa dona foi também foi condenada pelo conjunto da obra do partido dela (no qual eu também acreditava a mais de 20 anos) e da quadrilha por ele montada com alguns de seus nobres representantes presos, ou respondendo processo por corrupção, roubos, etc, alguns, infelizmente soltos pela mesma lei que vocês condenam pelo “golpe”. O mesmo partido que fez o que fez com o país, permitindo, abrindo e escancarando as portas da corrupção, do sorropío, das locupletações, dos desmandos, das políticas populistas e enganadoras, dos desmandos e quebradeira geral que ao longo de mais de 20 anos nos trouxe pra onde estamos. Acreditei e sonhei que havíamos encontrado um bom caminho para o país, mas eles mataram a esperança e o sonho, deixando apenas o pesadelo vivo nos nossos corações. Colhem e colherão apenas o que plantaram.

        Curtir

  2. “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas.Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição. Pois , em verdade vos digo, passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei: Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no reino dos céus…Digo-vos, pois, se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus não entrareis no Reino dos Céus (Mateus 5, 15-20). Estes infelizes estão desafiando a Deus Nosso Senhor!

    Curtir

  3. Republicou isso em Paulosisinno's Bloge comentado:
    Cpt. da pág. do Leonardo Boff: “MANFREDO DE OLIVEIRA é brilhante professor de filosofia da Universidade Federal do Ceará. Sua filosofia aborda preferentemente temas de política e ética, acompanhando a produção acadêmica mais séria daqui e de fora. É uma das inteligências mais lúcidas que temos no campo da filosofia política e da ética, além de dominar o campo da teologia. Depois que se passou um ano do que se perpetrou contra a Presidenta Dilma Rousseff temos a distância suficiente e os dados necessários para considerar os reais propósitos do assim chamado golpe jurídico-parlamentar-mediático ocorrido em 2016. É importante termos esclarecimentos sobre esta situação que é recorrente em nossa história, especialmente o que faz a oligarquia brasileira quando se sente ameaçada pela ascensão das classes populares marginalizadas, que querem mais participação na sociedade e na riqueza gerada pelo seu trabalho. O texto foi publicado pelo Instituto Humanitas de Unisinos do dia 20/12/17 sob o título Valeu a pena? (L. Boff)

    Curtir

  4. Tive o prazer de assistir algumas palestras do professor Manfredo, pois resido no Ceará, e não quis perder o privilégio de acompanhar essa sumidade intelectual.

    Curtir

  5. Jesus Deus e Homem verdeiro quiz ser pobre, casto, obediente. Perante Deus quem não é pobre ? “Bem-aventurados os pobres em espírito porque dele é o Reino dos Céus” (Mateus 5,3).

    Curtir

Deixe um comentário